DEVOÇÕES

Somos devotos de Santa Rita por imposição inicial do primeiro donatário destas terras, e hoje por resignada aceitação. Somos devotos de São José, pois que somos também carpinteiros das malfeitas artes que fazemos como também operários sem a menor valia. Somos devotos de N. S. do Rosário, a devoção de todos os negros das Gerais, mas aqui em Cataguases não. Mas também fruto da fé no homem somos devotos de Maiakovisk, Drumond, Pound, Bandeira, Baudelaire, dos Verdes e todos os versejadores benditos e malditos, de botecos, feiras, livrarias e folhas que mofam em gavetas. Somos devotos de Lautrec, Portinari, Picasso, Iberê, Cézane, Mabe, de Ady Resende e todos pintores, desenhista destas ruas, praças, Centros Culturais, Museus e bares decadentes. Somos devotos de Villa-Lobos, Ataulfo Alves, Beethoven, Chico Buarque, Pena Branca, Chopin, Elomar, Piazola, Maria Alcina, Patápio Silva, Lúcio Alves e todos cantadores e cantores de diurnos banheiros e noturnos bares que embriagam ou torturam nossos ouvidos. Somos devotos de Bresson, Pedro Comello, Sebastião Salgado, Brassai, o sacana do Pury, dos lambe-lambes que focam e desfocam as luzes destas montanhas. Somos devotos de Ascânio Lopes, Machado de Assis, Chico Peixoto Cervantes, Guimarães Rosa, Ruffato, Mário de Andrade, Rosário Fusco e de todos poetas, prosadores e contadores de causos de escrivaninhas lotadas de papéis, de mesa de bares e beirada de fogueiras regadas a cachaça. Somos devotos de nossos amigos e leais aos nossos inimigos, jamais nos traíram. Somos devotos de todas as nossas mulheres, as que amamos e as que nos odeiam, porque alimentando de seu ódio as amamos com muito mais latino vigor.