A beleza que vende

Choco la Design
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4 min readJul 15, 2014

Recentemente, um interessante projeto da jornalista norte-americana Esther Honig ganhou notoriedade na internet. Usando o Fiverr, um site internacional de freelancers, Esther contratou profissionais de imagem de vários lugares do mundo e enviou-lhes uma foto sua com o seguinte pedido: make me beautiful. O pojeto, intitulado Before & After tinha como objetivo avaliar a estética padrão em culturas diferentes, mas o resultado obtido revelou algo mais: a beleza natural está em extinção.

Imagens manipuladas por softwares de edição sempre despertam o interesse e a curiosidade das pessoas, afinal trata-se de uma “mágica” capaz de transformar qualquer registro em algo aprimorado, muitas vezes chegando a um resultado quase que utópico. O uso desses programas por fotógrafos e designers é uma mão na roda e, mesmo quando utilizado apenas para corrigir o trivial (exposição, saturação, cores e algumas falhas ténicas), já produzem resultados satisfatórios. No entanto, em um mercado onde imagem é tudo, não é raro ultrapassar os limites da manipulação e criar falsas promessas ou atrocidades.

falha-photoshop
Revista-Photoshop

Avaliando um pouco os padrões de beleza ao longo dos séculos, selecionei uma obra em especial do pintor italiano Sandro Boticelli: o nascimento de Vênus. Conhecida na Grécia como Afrodite, a deusa do amor e da beleza, Vênus é retratada na pintura como uma graciosa mulher nua com cabelos ruivos ao vento mas bem diferente dos padrões de beleza da atualidade. Pintores de várias épocas retrataram a mulher com um corpo volumoso nem sempre curvilíneo. Com seios naturais e gordurinhas localizadas, eram desprovidas de maquiagem e cabelos milimetricamente organizados. Já os homens sempre foram representados com corpos atléticos que denotavam a sua virilidade. E isso é algo que prevalece até os dias de hoje.

Leda da Vinci
Venus-Botticelli

O padrão de beleza feminino mudou, e muito, ao longo dos séculos. O ideal de beleza vende, e muito! Afinal, quem não se interessa pelo o que é bonito? E o mercado publicitário explora esse interesse à exaustão. Marcas de roupas, acessórios, jóias e revistas usam e abusam de recursos de manipulação de imagens para deixar seus modelos com rostos e corpos tão perfeitos que se tornam inalcansáveis para a maioria dos mortais que são, diga-se de passagem, seu público-alvo. Sendo assim, não é raro acontecer uma falta de identificação por parte do consumidor e isso tem sido levado tão a sério que algumas empresas mudaram sua abordagem em relação ao quesito beleza e fomos contemplados por campanhas como a Campanha da Real Beleza da Dove em 2004 e os anúncios da Axe.

beleza-Axe
calvin-klein

Com qual dos modelos você se identifica?

O excesso de perfeccionismo acaba levando à falta de noção e até mesmo de ética por parte de alguns profissionais. Não é à toa que, vendo o consumidor ser lesado, a deputada francesa Valerie Boyer apresentou um projeto de lei em 2009 que instituiria a obrigatoriedade de uma advertência em todas as imagens que passassem pelo Photoshop ou programas similares. Segundo Valerie, essas imagens podem induzir as pessoas a acreditarem em realidades que, frequentemente, não existem. Mais tarde, foi a vez do Brasil apresentar na Câmara dos Deputados um projeto de lei que obrigaria imagens tratadas com Photoshop a virem com a advertência “Atenção: imagem retocada para alterar a aparência física da pessoa retratada”. Isso eliminaria os excessos de manipulação digital que revistas masculinas promovem nas fotos de suas modelos nuas.

Vender algo é vender uma promessa, mas essa promessa precisa ser cumprida, caso contrário o consumidor se sente lesado e o relacionamento com a marca é prejudicado. O discurso das marcas diz que você é bonito(a) pela roupa de baixo que usa e não porque tem o corpo escultural. Atrai os homens e as mulheres com seu perfume ou desodorante, não pelo rosto angelical. Mas ao ver campanhas estreladas por modelos o consumidor realmente acredita nisso? E eis que acabamos ficando presos a um dilema, uma vez que nem sempre o público se interessa pela verdade nua e crua. Todo mundo se revolta quando a comida vem diferente da foto. Por outro lado, revistas masculinas com fotos de mulheres com estrias e celulites vendem? Corrigir uma modelo (ou um sanduíche) é ético até que ponto?

The-Evolution-of-Beauty

The Evolution of Beauty, produzido pela Dove, mostra que iluminação e maquiagem não são suficientes para estampar uma modelo em um outdoor.

Post por Fellipe Camara

Designer com foco em branding e amante de quadrinhos, cinema e tipografia.

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