Fotolia entrevista: UI/UX designer Jônatas Vieira

Choco la Design
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8 min readMay 26, 2016

1) Me fale um pouco sobre você e como começou como designer de interface.
Jônatas: Sou filho de fotógrafo, foi aí que tudo começou. Foi o que proporcionou meu primeiro contato com softwares de foto / vídeo, como o Photoshop, Premiere e o After Effects. Ao mesmo tempo, sempre gostei de programar, e desde criança me aventuro nisto, adorava brincar com Basic e Pascal.

Comecei uma faculdade de Marketing, e neste período conheci o Flash, que juntava 3 coisas: uma timeline de video, ferramentas de design e programação. Passei a desenvolver animações para a faculdade e isto evoluiu para pequenos projetos web.

Existe uma grande lacuna entre este período e quando passei a trabalhar com foco em interfaces (terminologia que quase não se ouvia na época), mas basicamente foi assim que comecei.

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2) Hoje você trabalha como Sr. UI Designer na TopTal e como sócio de uma startup de UK. Como é o dia a dia de trabalho?

Jônatas: São posições bem diferentes. Na Toptal procuro aplicar para posições mais focadas em Visual / UI que requerem boas práticas — ou no máximo um conhecimento intermediário — de UX. Em algumas exceções, me envolvo com front-end, mas não é minha preferência mais.

Diferente de posições de Direção de Arte ou agências de design / publicidade, que são posições em que atuei por cerca de 6 anos, em 90% dos casos o trabalho na Toptal gira em torno de resolução de problemas e soluções focadas em produtos digitais ou projetos para startups. Inclusive, é a dica que dou a todos colegas que me perguntam sobre como aplicar: o perfil é este — pensamento sistêmico e UI / UX / IxD / Branding para produtos (mobile, web, etc.) e interfaces, sem muito foco em material promocional e publicitário.

Já no Refocus, a startup em UK da qual sou um dos co-founders, meu trabalho gira 90% do tempo em torno de soluções UX mais complexas. O projeto ainda está em fase alpha, portanto muitas features estão ainda sendo descobertas, e os testes nunca param. É um trabalho mais técnico e 100% voltado ao feedback dos testers (e dos usuários, em breve), que também exige que eu vista “vários chapéus” ao mesmo tempo, ao menos até a próxima fase em que a equipe estará mais completa.

Nestas horas, posso afirmar que conhecimentos de desenvolvimento, no mínimo intermediários, são extremamente valiosos para qualquer designer digital. Sem isto, eu não estaria na posição que estou hoje.

3) Como funciona seu processo de organização para trabalhar a distância?

Jônatas: Algo a se preocupar quando se trata de trabalho à distância é a comunicação. Caso seja trabalho em home-office (meu caso), existe também a preocupação em manter o foco e a produtividade.

Hoje é fácil resolver o problema da comunicação, pois ferramentas como o Slack e Skype resolvem todos os meus problemas, sobrando apenas questões de fuso-horário a serem ajustadas.

Já no lance da produtividade e foco, eu costumo seguir uma rotina bem definida, com algumas exceções que ajudam a aliviar o cérebro (quebrar o fluxo é bom!). Inclusive, já escrevi um artigo referente a algumas pequenas dicas de produtividade para freelancers e remotos (leia aqui o artigo).

Outro ponto é organizar as finanças, pois além da administração normal desta parte, é preciso sempre estar atento a variações cambiais, melhores opções para transferência de dinheiro, entre outros pontos.

https://br.fotolia.com/id/88955967 © Svyatoslav Lypynskyy / 88955967 / Fotolia

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4) É fácil começar a trabalhar com UI design?

Jônatas: Sim e não.

“Sim” no sentido de que hoje é muito fácil encontrar conteúdo aí fora e as coisas estão levemente mais definidas, diferente dos profissionais da minha época que, de certa forma, foram descobrindo as coisas no andar da carruagem; para piorar, no Brasil as coisas sempre andaram um pouco atrasadas (o que mudou nos últimos anos), então a discrepância entre as terminologias e práticas eram muito grandes no passado, e hoje é só você fazer uma busca no Google que encontra um conteúdo quase infinito relacionado ao assunto.

E “não” no sentido de que nenhuma carreira é fácil e nada vai cair do céu. Não é porque a área está em alta que as coisas serão mais simples e é preciso fazer MUITO networking e estar atento ao que acontece aí fora.

https://br.fotolia.com/id/80941278 © everythingpossible / 80941278 / Fotolia

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Não posso dizer qual é a forma certa ou errada de se começar, e também já fiz inúmeras burradas, mas vejo muita gente entrando no mercado de forma que, quando olho como quem já passou por esta fase, eu jamais faria. Em geral os iniciantes estão querendo pular etapas, em busca do benefício que se vê externamente, como “trabalhar de casa”, “ganhar em dólares”, “ter flexibilidade”, ao invés de focar no aprendizado da profissão, entender como as coisas funcionam, talvez ganhar um pouco menos e aguentar umas buchas em troca de boas experiências, entre outros pontos. Estes benefícios vêm com o tempo, e com MUITO esforço; só quem aplica para vagas remotas no exterior sabe o quão exigente é o mercado.

Só como um exemplo, tive mais de 5 amigos, bons designers, que recentemente não foram aceitos na Toptal, e o processo nas empresas lá fora são daí para pior. Pessoas mimadas, com ego inchado, que só reclamam da situação, do mercado, dos sobrinhos, da Dilma, do capeta, que não estão dispostas a enxergar que têm muito a melhorar (que a auto-crítica é constante e eterna) e principalmente, que não têm um perfil flexível, sinceramente têm poucas chances de se dar bem.

PS: saber inglês, saber BEM MESMO, é essencial, pois a área está em alta, mas hoje o mercado é global, e a coisa pega fogo mesmo é lá fora.

5) Qual job você lembra que te deu mais trabalho e no final sentiu um baita orgulho de ter feito?

Jônatas: Eu já tive muitos jobs que deram muito trabalho hehe, alguns que quase me deixaram doente de tantas noites sem dormir, então vou citar alguns.

Apesar de já estar ultrapassado, o Você Governa (http://www.jonvieira.com/work/voce-governa/) foi um game que desenvolvi em 2010 como parte de uma campanha política. Foi no apogeu do Flash, e o trabalho envolveu tecnologias que na época eram bem avançadas, mas após todos esforços combinados, o candidato teve 3x o número de votos do mandato anterior.

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Outro trabalho interessante, foi o app para a Journelle (http://www.jonvieira.com/work/journelle/) em que trabalhei em 2015. O maior desafio foi o fato de que eu não uso lingerie (sério!) e nunca havia parado para pensar nos desafios existentes na hora de comprar estas peças. O resultado é um dos meus favoritos de 2015, pois a solução realmente traz utilidade à vida das mulheres.

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Finalmente mas não menos importante, o meu trabalho mais desafiador hoje é o Refocus, minha startup, pois estamos falando de várias features que ainda não existem de fato e precisam ser entregues ao usuário da melhor e mais compreensível forma possível. Ver o projeto nascendo e crescendo, é algo bem compensador.

6) Trabalhar por conta própria como designer não é fácil, como você lida com os altos e baixos da profissão?

Jônatas: Primeiramente, cuidando bem do psicológico, estando ciente de que sempre são mais baixos do que altos, que estas variações são normais. Tudo passa, então tento não me apegar aos momentos, sejam bons ou maus. É muito comum ver designers se perguntando se estão na profissão certa, mas o melhor a se fazer nestas horas é esperar a poeira baixar antes de tomar qualquer decisão. Fazer isto me dá a certeza, hoje, de que estou no caminho certo.

No lado financeiro, é a regra básica: gastar menos do que se ganha. É preciso poupar para os dias ruins, e não confundir “salário” com “patrimônio”, tendo muito cuidado ao alterar o estilo de vida.

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7) Qual o conhecimento você considera mais importante para um bom UI designer?

Jônatas: Acho que o mais importante é também o mais difícil de se aprender: ter bom gosto. Sinceramente, não sei como ensinar isto, e quando me perguntam eu tento partir do ponto de se ter boas referências até que a pessoa saiba enxergar o que é considerado bom. Mais importante que isto, é saber que um UI designer trabalha em função do usuário e não em função de gostos pessoais, portanto conhecimentos de boas práticas de UX são essenciais.

8) Em quem você mais se inspirou ao longo da sua carreira?

Jônatas: Pessoas: Anton Repponen, Tobias van Schneider, Claudio Guglieri e Haraldur Thorleifsson

Agências: Fantasy, Firstborn, Huge, Hello Monday.

Além destes, vários amigos que me ajudaram em todos os primeiros passos e diversos sites de automóveis (não sei explicar, mas já me inspirei MUITO em sites de automóveis).

9) Mac ou Windows … isso faz realmente diferença para um bom designer?

Jônatas: Mac! Não acho que importa “de fato” e não sou especialista para dizer se um é realmente melhor que o outro, mas em minha opinião o Mac supera o Windows em termos de fluxo de trabalho e a forma que me permite otimizar minhas tarefas. Além disto, muitos programas na área de design são lançados primeiro (ou exclusivamente) no Mac.

Mas, ainda preciso do Windows em uma máquina virtual para rodar o sisteminha da Caixa…

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10) Que dicas você daria para quem quer iniciar na profissão hoje?

Jônatas: É uma área maravilhosa de se trabalhar, cheia de desafios. No fim do dia, você sabe que contribuiu para um bem maior.

Então estude, pesquise e não se iluda. Não entre na área para trabalhar remotamente ou para ficar rico, pois isto vai acontecer com o tempo, de acordo com sua performance.

E conheça bem as diferenças entre as diversas áreas do design (Direção de Arte, Design Gráfico, UI, UX, etc.) para entender o que te espera em sua futura vida de UI Designer.

Obrigado pela entrevista Jônatas! Muito mais sucesso para você!
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