Por que os religiosos não se atualizam?

Rodrigo Bino
Textando
Published in
6 min readNov 6, 2015
Mudar?

Gente, essa discussão de cristãos versus novos valores modernos nunca acabará. A luta entre teonomistas¹ e autonomistas² nunca acabará! Entendam, um que segue a lei e moral de Deus (ou algum outro deus) nunca irá entrar em consenso com alguém que segue sua própria lei e moral (autonomista). Autonomistas não entendem o significado de santo, sagrado, separado para pureza. Teonomistas não podem viver segundo sua própria lei, pois isso é contra a lei de sua divindade santa. Ir contra algo santo não é algo bom para o teonomista.

E ter uma religião não é como ter um celular do modelo tal, onde você escolheu numa vitrine porque era melhor ou mais atual. Religião envolve mais que isso. É a certeza de que aquilo é a verdade. Então não peça para afrouxar a religião, pois para um teonomista isso não é fácil como para um autonomista (que dita suas regras pessoais e muda valores como as estações do ano).

Os teonomistas não encaram a religião como uma escolha, mas como crença, com certeza, com fé (que é a certeza das coisas que não se veem).

Não é simples mudar um trecho sequer da religião, a não ser criando outra.

Autonomistas creem que é simples ser um teonomista, desde que aceitem o costume deles, mas não dá. O teonomista tem Deus como centro da moral e a lei humana é falha e impura para eles.

Como os autonomistas querem que os teonomistas larguem algo que eles consideram puro por algo que é impuro?

Os Teonomistas também precisam entender que não é fácil os autonomistas entenderem como é ter um Deus legislando a moral. Pois, o autonomista está voltado nele e a única imagem de Deus que tem em sua cabeça é partindo de uma projeção dele para ele mesmo e, é por isso que ele desconfia da bondade de um Deus e da confiabilidade das escrituras sagradas.

Não só isso, mas o número de várias religiões faz ele duvidar mais ainda da veracidade de cada uma delas. Mas, o mais sóbrio deles pode reconhecer que há algo divino mesmo, mas não entende como este ser divino pode ser relacional. Pois a divindade não iria perder tempo conosco, impuros, violentos, pequenos, primitivos…

Todos teonomistas reconhecem que há um deus ou deuses. Mas poucos são exclusivistas (como cristãos, judeus, muçulmanos…).

A religião que, para mim, é a mais “econômica” no sentido de que, se você crer nela, se garante em todas as outras religiões, é o cristianismo da linha protestante. Mas o cristianismo não garante sua vida se você estiver em outra religião. Ainda mais se você duvidar da divindade e humanidade de Jesus Cristo (100% homem e 100% Deus). Ou seja, ser bonzinho pode não ser suficiente para garantir que sua consciência/alma vá para o paraíso. Sendo só bonzinho ela poderá ficar presa em um estado sem todo atributo agradável divino (amor, amizade, paciência, domínio próprio, respeito, perdão, discernimento entre o certo e errado etc), sem a lei divina. Este estado é considerado inferno por quase todas religiões, pois elas sabem que se quisermos uma vida sem Deus no comando, vamos ter sim, uma vida, ou outra vida sem seus atributos divinos. Apenas sua ira.

Leia meu post sobre: Acredito em Deus, e agora? A religião que faz mais sentido

Então antes de dizer por aí que religião é um atraso para o mundo porque só dá problema, pare e pense no problema! Pensou? Agora veja que o problema não está na religião e sim nas pessoas.

O problema está em um não querer entender a visão do outro (automistas X teonomistas), apenas em impor sem refletir.

Particularmente também, acredito que ser um autonomista implica crer em verdades relativas, o que para mim essa posição na prática em última análise acaba sendo uma falácia.

Por exemplo, um autonomista pode pensar que o mundo ideal é ser autonomista. Bom, nesse caso não concordar com o que digo estaria privando a “minha autonomia” de legislar segundo minha própria moral.

Pois se a verdade é relativa, por que não poderia eu ser teonomista (garantindo o “autonomismo”) e também ser absolutista (minha crença na verdade absoluta)? Por quê?

Se for para sermos relativistas e autonomistas, então por que os religiosos não podem opinar e viver como creem?

Impôr não. Opinar e sugerir. Isso seria ideal para os teonomistas. Opinar e sugerir uma vida melhor.

Agora podem argumentar que a sociedade não permite autonomismo assim como digo, mas sim de acordo com o que a sociedade decide. Na visão do teonomista, as leis morais devem ser montadas em cima do senso do divino, ou seja, naquela noção dentro de nós que diz que, por exemplo, o que Hitler fez é moralmente condenável por qualquer cultura no planeta. É esse senso que chamamos de “a lei de Deus gravado em nossas mentes”. Para nós, as leis morais provam a existência de Deus. Todo ser humano tem isso dentro dele.

Pois na visão teonomista temos deveres e valores morais objetivos a cumprir (não subjetivo, objetivo!)

Eles existem, logo Deus existe. Se não existe deveres e valores objetivos, então Deus não existe.

A cabeça do teonomista teria complicações filosóficas para mudar para a cabeça do autonomista. Mas, tendo em vista a depravação total do homem como uma das crenças do cristianismo, o homem teria desejo para ser autonomista naturalmente, porque ele gosta de fazer tudo ao contrário(ou levemente distorcido) do que Deus planejou. Logo, por natureza nascemos autonomistas. Querendo viver como queremos, ou seja, “livres”. Mas seguramente digo que o maior inimigo do homem é ele mesmo, por isso ser autonomista está fora de questão para o teonomista, principalmente o cristão reformado.

Ter uma religião não é ter uma camisa de força, é ser livre. A liberdade só é libertadora quando você entende as restrições. Se não fosse assim, o peixe para se sentir livre iria querer nadar fora d’água para se sentir livre. Enquanto a religião diz que o mar é suficiente para ser a melhor versão do que ele é para ser, um peixe livre no mar.

O peixe livre no mar seria aquele homem livre em comunhão com o divino, com Deus e seguindo 100% seus comandos morais que já estão em nossas mentes/corações³, vivendo assim em harmonia com todos, onde o eu não é o mais importante, mas sim o outro.

Sei que a parte da moral e deveres gera uma coceirinha, difícil de assimilar, então sugiro ler um artigo sobre para este não ficar grande. Aí vai um trecho para ver se você se interessa:

Eu tenho argumentado que os valores morais objetivos estão enraizados na natureza de Deus, não em Sua vontade e que esta natureza é expressa a nós na forma de mandamentos divinos, os quais constituem os nossos deveres morais. Deus pode ter sentimentos subjetivos, mas estes não são a base do valor e dever moral. Longe de ser incompatível com os valores e deveres morais objetivos, os sentimentos subjetivos como compaixão, indignação moral, simpatia e assim por diante são, na verdade, parte de ser um agente moral perfeitamente bom.

Read more: http://www.reasonablefaith.org/portuguese/qa-349#ixzz3qioS4849

  1. Teonomista: Teo = Deus | Nomista: Nomos (nómos, ‘nɔmɔs, lei)
  2. Autonomista: Auto = Relativo a si mesmo
  3. Comandos/Leis morais em nossas mentes = Esta lei divina em nossas mentes não garantem a salvação. Ela serve para nos mostrar o quão corruptos somos. Não há um justo que passe na prova das leis, ou seja, dos 10 mandamentos. Qualquer um dos 10 mandamentos que for quebrado implica em destino ao inferno, mesmo que esta quebra seja por pensamento. Ninguém pode se salvar. Explico melhor sobre isso no artigo abaixo:

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