Santa ou pecadora? O complexo de Madonna/Prostituda

Contos de Fadas Femininos: Complexo de Madonna/Prostituta

Leonardo M.
Compersão
Published in
4 min readMar 26, 2021

--

Existem várias crenças culturais arraigadas sobre a natureza inerente das mulheres e como as mulheres devem se relacionar com o amor e o sexo. Homens e mulheres são socializados com base em modelos de comportamento que permanecem em grande parte não questionados. Geralmente, é aceito como verdade que os homens são fanáticos por sexo, às vezes de forma incontrolável e que um grande número de parceiras sexuais é atraente para o homem comum. Por outro lado, espera-se que as mulheres sejam passivas, recatadas e busquem sexo apenas em um contexto em que haja comprometimento. Esses modelos normativos de gênero são estabelecidos e reforçados pela religião, publicidade, mídia de massa e, freqüentemente, por nossas próprias famílias e grupos de pares.

Sigmund Freud cunhou o termo complexo Madonna-prostituta para descrever o fenômeno em que os homens categorizam as mulheres como Madonnas (puras, saudáveis, virginais, maternais, como uma santa) ou prostitutas (sexualizadas, degradadas, lascivas). O paradoxo é que embora o homem estereotipado admire, respeite e ame as Santas Madonna, ele se sente desesperadamente atraído pela prostituta e a deseja sexualmente, apesar de ter pouco respeito por ela. Quando esses homens amam eles não têm desejo e onde eles desejam não podem amar.

Espera-se que nenhuma mulher queira ser a prostituta, pelo menos não se ela está procurando relacionamentos estáveis. Isso significa que a única opção é ser uma Madonna. O problema é que o caráter de Madonna é sua própria contradição. Como uma mulher pode ser virgem e mãe ao mesmo tempo? Concepções imaculadas simplesmente não acontecem com tanta frequência como antigamente, né não?! Exceção a grávida de Taubaté.

Uma vez que poucas mulheres sexualmente ativas se identificam inteiramente como prostitutas ou totalmente como Madonnas, existe agora uma caralhada de conselhos conflitantes: Nunca durma com um homem no primeiro encontro. Mas também não seja frígida e negue o sexo por muito tempo ou ele pode te trocar por outra! Não assuma o número de parceiros sexuais que você teve. Se você, no entanto, não manjar das putarias antes de ir para a cama com ele, ele ficará decepcionado!! Mantenha-se sexualmente atraente fazendo exercícios, maquiando-se corretamente, arrumando o cabelo e vestindo roupas que lhe agradem, mas não pareça muito ansiosa ao ponto de chegar em alguém. Deixe-o enviar o primeiro texto, dar o primeiro passo e persegui-la até os confins da terra para perceber o quanto você é digna de amor e atenção! Em meio a tudo isso, é claro, estão os padrões inatingíveis de beleza e aparência pessoal sustentados por nossa cultura em geral.

Tem havido um movimento crescente, amplamente alimentado pela terceira onda do feminismo para lutar contra essas expectativas em nome do empoderamento feminino. Mulheres, cansadas de décadas de serem sexualizadas, objetificadas e banalizadas, estão se manifestando, e os criadores de conteúdo e anunciantes estão começando a ouvir. Personagens femininas sólidas estão sendo escritas com mais frequência em programas de TV e filmes populares. Nas últimas décadas, alguns anunciantes quebraram o molde e realizaram campanhas de “beleza real” ou retrataram as mulheres como fortes, ativas e capazes (embora tenha em mente que os anunciantes ainda são motivados principalmente pela venda de produtos, em vez de promover o empoderamento feminino).

Este movimento está entrando no reino dos encontros e relacionamentos. Na cultura ocidental, já ultrapassamos os dias em que se esperava que o homem pagasse por cada encontro ou pedisse permissão ao pai de uma mulher para cortejá-la. Podemos agora testemunhar a crescente aceitação da positividade sexual, bem como a polêmica *hook up culture, caracterizada por sua popularidade entre as mulheres em idade universitária. A nova mensagem “empoderada” para mulheres jovens é: foque em seus próprios objetivos e foda quem você quiser, quando quiser, sem amarras (contanto que você eventualmente sossegue).

No meio-termo entre a passividade romântica tradicional e a cultura agressivamente moderna da pegação desenfreada estão as mulheres que escolhem o poliamor e outras formas de não-monogamia ética. Não se conformando com a monogamia, mas também não caindo de cabeça no universo do ninguém-é-de-ninguém, essas mulheres estão em um meio-termo que é frequentemente mal compreendido, mal representado e completamente desconcertante para a cultura tradicional em geral. Em um mundo onde você é solteira ou comprometida, um fiel ou mal-caráter, é difícil para mulheres não-monogâmicas encontrar reconhecimento, tolerância e compreensão

Texto traduzido e adaptado de The Smart Girl’s Guide to Polyamory

*Hook up culture: aquela que aceita e encoraja encontros sexuais casuais, incluindo encontros de uma noite e outras atividades relacionadas, sem necessariamente incluir intimidade emocional, vínculo ou um relacionamento sério

* Madonna = Nossa Senhora

--

--

Compersão
Compersão

Published in Compersão

Reescrevendo as regras de relacionamentos e os scripts relacionais por meio da não-monogamia.

Leonardo M.
Leonardo M.

Written by Leonardo M.

Não-monogâmico, focado no prazer dos momentos e das pequenas coisas (como a música) e também das grandes coisas, como as pessoas.