Monogamia Patriarcal

Leonardo M.
Compersão
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3 min readJun 16, 2021

A monogamia surge do pensamento patriarcal. Vistas como bens do homem, as mulheres eram usadas para troca e / ou procriação. A patrilinearidade decretou que os homens herdassem de seus pais. A legitimidade de uma criança relaciona-se ao reconhecimento do pai dela, não da mãe. Esta definição de legitimidade ainda é uma realidade jurídica em muitas culturas e filhos nascidos de mulheres solteiras são classificados como ilegítimos. Mulheres que têm filhos, mas não têm marido, são vistas negativamente como ‘‘mães solteiras ’’.

Nos períodos paleolítico e neolítico, a linhagem era traçada através da mãe. O parentesco era reconhecido por consangüinidade, bem como por meio de laços sociais com clãs e tribos, provar quem era o pai era insignificante. Sociedades patriarcais criaram suas próprias versões de nascimento, negando a importância da mulher, mesmo no ato de criar vida. Atena surge da cabeça de Zeus. Eva é criada a partir de uma das costelas de Adão, e o parto se torna um castigo

O patriarcado que inventou o conceito do pai como uma importante entidade social. A Bíblia fala apenas sobre herança de pai pro filho. A mulher é passiva, o homem ativo. Sua semente e sua descendência são essenciais. A mulher se torna um recipiente vazio no qual é derramada a semente da vida. Ela não é mais a criadora e sustentadora da vida.

Para manter uma linha de herança e assegurar a um pai da legitimidade do herdeiro masculino, a mulher deve ser confinada em suas atividades sexuais. A monogamia é, portanto, uma necessidade no casamento e no patriarcado em termos de passagem de heranças familiares aos herdeiros. Em uma sociedade patriarcal, casamento e a fidelidade feminina são requisitos para relacionamentos heterossexuais.

No século XIX, o filósofo marxista Frederick Engels considerou tanto o casamento quanto as restrições da monogamia reflexivos das teorias do capitalismo, propriedade de bens e de pessoas. Ele afirma que a derrubada do direito materno foi a derrota histórica mundial do sexo feminino. O homem também assumiu o comando da casa; a mulher foi degradada e reduzida à servidão, ela se tornou escrava da luxúria do homem e um mero instrumento para a produção de filhos. Engels observou ainda que o casamento monogâmico estabeleceu a esposa como chefe de serviço da família e que a prostituição era uma necessidade para o mesmo. É por isso que dizemos que traição nada mais é do que a monogamia funcionando.

No século XX, o casamento e a crença no estado natural da monogamia foram tão integrados ao pensamento atual que ambos são sancionados como o modo normal de comportamento em relações humanas. Nos textos psicológicos atuais, a prática da monogamia tem sido vista como um sinal de estabilidade e maturidade, ao mesmo tempo em que a traição, para mulheres, é rotulada como comportamento transgressivo, punível em algumas culturas com a morte. Nas culturas que consideram a monogamia ideal, a infidelidade é amplamente praticada, secretamente. A Monogamia em série, por facilitar a rejeição de uma pessoa em troca de outra, resulta no abandono de filhos.

A visão linear e hierárquica do mundo é patriarcal, ela coloca um grupo de pessoas sobre outro com base em uma ordem decrescente de importância, resultando em sexismo, escravidão e racismo. Os conceitos de corpo impuro, a inferioridade das

mulheres, a importância da monogamia e do casamento, e as ideias negativas da sexualidade foram tão absorvidos em todas as culturas que suas origens como os pilares das religiões patriarcais foram obscurecidas, e essas ideias tornaram-se aceitos como o fenômeno natural das relações humanas.

Então, da próxima vez que você se sentir compelido a vir com aquele papo de “não é culpa da monogamia, e sim do patriarcado, reflita sobre isso. Não dá pra separar os dois. Monogamia é patriarcal. Machismo é patriarcal. Sexismo é patriarcal.

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Leonardo M.
Compersão

Não-monogâmico, focado no prazer dos momentos e das pequenas coisas (como a música) e também das grandes coisas, como as pessoas.