Crítica | Coringa

Felype Afonso
chupetadepipoca
Published in
3 min readOct 1, 2019

That’s life!

Warner Bros. Pictures/Ringer Ilustração
Nota do crítico: maravilhoso!

Assim como muitos personagens do universo das HQs, o Coringa já teve muitas e diferentes origens contadas. Mas o vilão se diferencia desses tantos outros por não ter uma “origem original” (gostaram do termo?), sempre deixando para a audiência escolher uma história para chamar de favorita. Aqui o diretor Todd Phillips e o roteirista Scott Silver se distanciam de outras origens e de referências diretas aos quadrinhos, criando algo totalmente novo muito mais comparável a clássicos do cinema que desenvolvem estudos de personagem. Você já deve estar cansado de ver por aí, mas este filme pode ser diretamente proporcionalmente comparado com Taxi Driver (1976) e até Um dia de Cão (1975).

Estudo de personagem

Por que choras, Jared Leto?

Então vamos lá! Primeiramente há de se reconhecer que a escolha de Joaquin Phoenix como protagonista leva mais da metade do mérito de sucesso para o longa. Do primeiro ao último momento, ele domina a tela, conferindo peso até aos momentos menos inspirados do texto. Além de toda evidente dramaticidade que entrega, o ator exibe sutilezas que enriquecem ainda mais sua performance, como as diferentes risadas e o detalhado trabalho de expressão corporal. Todas as situações (e, claro, os transtornos mentais do personagem) apresentadas no filme formam escadas para o desenvolvimento e criação do Coringa, que não cai no erro de ser um vilão do bem (como aconteceu com Venom em seu filme solo). O crescimento do personagem conduz a narrativa sem distrações.

A presença de Phoenix em tela faz com que todos os outros personagens soem como meros coadjuvantes . Até mesmo Robert De Niro, que interpreta o apresentador de um late show fica totalmente na sombra do protagonista, servindo apenas para desenvolver e motivar ainda mais o personagem (exatamente como deveria ser).

Dica: preste atenção nos trejeitos de Arthur Fleck (o Coringa)…

Outros acertos e o pequenino (quase inexistente) deslize…

Apesar de pouquíssimas referências aos quadrinhos, o longa ainda traz elementos da mitologia do Batman. A Gotham imunda e com altos índices de criminalidade nada mais é do que uma representação da Nova York decadente das décadas de 1970 e 80, ao passo que Thomas Wayne (Brett Cullen), o empresário demagogo, alheio à realidade do povo, e que mesmo assim quer concorrer à prefeitura, pode ser visto como comentário a um certo magnata do ramo imobiliário que ingressou na política. E, volto a dizer, tudo isso contribui para o excelente desenvolvimento do Coringa.

That’s life!

Agora, o diretor Todd Phillips comete um (quase inexistente) deslize insultando a inteligência do espectador em um momento-chave, ao incluir um desnecessário e anticlimático flashback explicativo logo após uma reviravolta no enredo ser revelada com absoluta clareza. Você vai saber o que estou falando quando assistir…

Podemos esperar um futuro?

Infelizmente, no momento em que essa crítica está sendo escrita, o diretor Todd Phillips garantiu que o Coringa é um filme separado de tudo o que a DC/Warner vem construindo (ou tentando) nos cinemas. Mas é um pouco contraditório, uma vez que o filme faz belos acenos a acontecimentos já mostrados no passado do Batman de Affleck. Nos resta torcer para que uma boa bilheteria faça o diretor mudar de idéia e querer investir em um encontro deste Coringa com um excelente Batman (eu preciso ver isso!).

Volte para esse personagem, Phoenix. Por favor!

--

--