Crítica | Jogador Nº 1
É referência que você quer?
Assisti a um único trailer antes de ir ao cinema ver Jogador Nº 1. Tudo o que eu sabia sobre o filme era que seria uma espécie de Tron (1982) cheio de referências da cultura pop, e principalmente de jogos. Os outros matérias de marketing que me atingiram também só usaram de referências, então de fato minha única certeza era de que seria um filme do Steven Spielberg com muitas referências. Só isso já me animou.
Sinopse
O filme é uma adaptação do livro de mesmo nome do autor Ernest Cline, e como no livro a história se passa no ano de 2045. Nele, sobreviventes do período mais sombrio da humanidade precisam sobreviver em meio ao desemprego e a fome. Nessa realidade vive Wade Watts (Ty Sheridan), um garoto pobre e órfão de 17 anos que, como escapismo, faz o mesmo que tantos outros milhões como ele: passa horas e horas conectado ao OASIS, um mundo online em que a realidade virtual turva os sentidos e coloca na busca por itens, moedas e satisfação. Wade e seu amigo Aech (Lena Waithe) são “Gunters”, caçando três chaves que levarão a um ovo deixado pelo criador do OASIS, James Halliday (Mark Rylance). Quem encontrar esse easter egg ganhará meio trilhão de dólares e será o novo dono do OASIS. Embora Parzival (username de Wade dentro do OASIS) trabalhe sozinho, ele está trabalhando contra os pistoleiros remanescentes (a maioria desistiu nos cinco anos desde que o desafio foi anunciado) e, mais preocupantemente, a corporação IOI liderada por Nolan Sorrento (Ben Mendelsohn), que quer transformar o OASIS em uma distopia cheia de anúncios. Além disso tudo, Wade também enfrenta a bela e misteriosa Art3mis (Olivia Cooke), que tem seus próprios truques para o OASIS.
É referência que você quer?
Apesar de ser um filme montado ao redor de milhares de referências, esta não é a maior preocupação da obra. Mesmo que seja divertido para alguns espectadores procurarem os easter eggs na tela, Jogador Nº 1 não é a habitual colagem de referências que temos hoje em dia. O filme faz todas as referências serem parte natural da história, homenageando elementos e épocas. Aqui a nostalgia não é o objetivo do filme, mas sim um recurso.
Spielberg está muito mais interessado na história de Wade (e consegue nos deixar também!). Mas algumas coisas nesse roteiro soam estranhas, como o fato de Wade saber mais sobre Halliday do que sobre seus próprios pais, que estão mortos. Mesmo que Halliday tenha deixado registros e um propósito, seria natural Wade sentir saudade ou pensar em seus pais de vez em quando. Até mesmo algumas perdas importantes do personagem são superadas rapidamente com facilidade.
O filme não se aprofunda, e talvez isso se deva ao fato do filme estar preocupado em ser um entretenimento como Spielberg já provou que sabe fazer tantas outras vezes. Com certeza o diretor adorou poder usar efeitos visuais sem se preocupar com o realismo, afinal é apenas um jogo!
Spielberg ainda é um mestre da aventura no cinema. Embora, para alguns, Jogador Nº 1 não consiga alcançar o panteão dos clássicos na filmografia do diretor, ele mostra mais uma vez por que é um elemento permanente na tabela dos bons diretores.