Poeira no ar de exoplanetas pode ajudar no surgimento de vida

Yara Laiz Souza
Ciência em Pauta
Published in
3 min readJun 10, 2020

Pesquisa entre institutos do Reino Unido coloca a taxa de poeira no ar de exoplanetas como um fator importante para a busca de vida

Simulação mostrando ventos (setas roxas) e poeira no ar (escala de tons roxo) em três exoplanetas que orbitam uma estrela pequena (Créditos: Denis Sergeev)

Pesquisadores da Universidade de Exeter, na Inglaterra, em parceria com o Serviço Meteorológico do Reino Unido (Met Office) e a Universidade de East Anglia, realizaram uma interessante pesquisa que pode aumentar os nossos horizontes sobre exoplanetas que poderiam abrigar vida no universo. Exoplanetas que orbitam suas estrelas menos quentes que o Sol a uma distância muito longa e que tenham poeira na composição do ar podem ser grandes candidatos a abrigar vida. A lista de possíveis mundos habitáveis aumenta — e a nossa compreensão a cerca das potencialidades da vida no universo também. O trabalho foi publicado na Nature Communications.

Os exoplanetas são planetas que existem além dos limites do nosso Sistema Solar — e o universo é recheado deles. Anualmente, as agências sempre informam sobre a descoberta de um punhado deles graças a tecnologia de exploração espacial cada vez mais aprimorada. Porém, a detecção de potencial vida nesses lugares longínquos é um problema, uma vez que ainda não temos a capacidade de visitar esses locais. Pesquisas são realizadas de longe, e mesmo assim, os resultados são promissores.

Esta pesquisa acredita que exoplanetas que orbitam estrelas menores e mais frias que a nossa (chamamos estas estrelas de M) podem se utilizar da quantidade de poeira contida no ar para ter condições suficientes de abrigar algum tipo de vida. Cientistas chamam de zona habitável um exoplaneta que esteja numa distância média da sua estrela — não tão perto e nem longe demais. Essa distância perfeita acarreta no surgimento de água líquida na superfície e, consequentemente, em outros detalhes propícios a vida.

Os cientistas explicam que em exoplanetas com rotação sincronizada, a ação da poeira no ar é uma carta na manga para a questão da vida.

“Na Terra e em Marte, as tempestades de poeria têm esses efeitos de resfriamento e aquecimento na superfície, com o efeito de resfriamento normalmente vencendo. Mas esses planetas de ‘orbita sincronizada’ [rotação sincronizada] são muito diferentes. Aqui, os lados escuros desses planetas estão em noite perpétua e o efeito do aquecimento vence, enquanto que durante o dia o efeito de resfriamento vence. O pretexto é moderar os extremos de temperatura, tornando o planeta mais habitável”, explica o Dr. Ian Boutle, autor principal do trabalho, em release para a Universidade de Exeter.

A rotação sincronizada é o efeito de um corpo que tem a duração de seu período orbital (ou seja, o tempo que ele demora para dar uma volta completa) igual a sua rotação (que é o giro que ele dá em seu próprio eixo). Assim, uma face deste corpo sempre estará voltado para o corpo em que orbita — o que acontece com a Lua e o fato de sempre enxergarmos o mesmo lado dela.

Sendo assim, a poeira contida no ar de exoplanetas pode esfriar mais a face voltada pro Sol e aquecer um pouco mais a face voltada pra escuridão. Dessa forma, a poeira vira um fator climático importante para as agências espaciais e demais institutos de pesquisa na hora de mapear possíveis exoplanetas com potencial para a vida. Em contrapartida, a pesquisa enfatiza que as grandes quantidades de poeira do ar podem acabar cobrindo sinais químicos interessantes a vida. Logo, é necessário um estudo mais aprofundado na hora de mapear exoplanetas com capacidade de abrigar vida.

“A poeira transportada pelo ar pode manter os planetas habitáveis, mas também obscurece nossa capacidade de encontrar sinais de vida nesses planetas. Esses efeitos precisam ser considerados em pesquisas futuras”, salienta Manoj Joshi, da Universidade East Anglia.

O trabalho aponta que a consideração da poeira no ar de exoplanetas e uma varredura mais aprofundada sobre eles pode ser crucial e trazer resultados surpreendentes na questão de busca de vida no espaço, além de dar mais compreensão técnica a esses mundos distantes.

--

--

Yara Laiz Souza
Ciência em Pauta

Comunicadora Científica, bióloga em formação, pesquisadora da Educação e do Ensino de Biologia.