Cultura hacker e porque devíamos aderir.

Yan Lucas
Cibercultura
Published in
5 min readDec 28, 2017

Confusão de significados

Hacker é um termo muito controverso, que foi muito mal interpretado desde o início da sua história e continua sendo, tanto pela mídia como pela própria massa, diversas vezes confundido com Cracker, embora os dois partam da mesma premissa, o cracker é o que usa seu conhecimento para fins pessoais e criminosos como: rouba de dados, roubo de dinheiro e coisas relacionadas. Que premissa é essa que os dois seguem? Qual o Hacker segue e por que devíamos seguir também?

Onde o termo Hacker surgiu?

A palavra Hack tem origem inglesa de meados dos anos 1200, traduzida como “cortar com golpes grosseiros ou pesados”. A primeira vez que se relata o uso do termo para se referir a tecnologia é em 1955 na Tech Model Railroad Club, uma organização estudantil especializada na operação automática de trens.

A organização pertence ao Instituto de tecnologia de massachusetts (MIT) onde há minutos de uma reunião foi dito “Mr. Eccles solicita que qualquer pessoa que trabalhe ou ‘hackeie’ (hacking)” o sistema elétrico desligue a energia para evitar o sopro de fusíveis, talvez usando o termo pelo trabalho mais braçal e mecânico que era exigido na época para modificar tais sistemas, desde então o termo foi ganhando uso e significado na área.

Qual seria essa premissa?

Em informática, hacker é um indivíduo que se dedica, com intensidade incomum, a conhecer e modificar os aspectos mais internos de dispositivos, programas e redes de computadores.

São pessoas habilidosas, capazes de fazer o sistema operar de uma forma da qual ele não foi projetado, alterando o próprio funcionamento do mesmo em prol da funcionalidade, fazem isso contornando o sistema, as vezes implementando coisas que nem os desenvolvedores haviam pensado, ao contrário da maioria dos usuários, que preferem aprender apenas o mínimo necessário.

Os Crackers, no entanto, usam essa habilidade para explorar de forma negativa as falhas apresentadas, eles descobrem um erro e o usam para roubar informações/dinheiro e enganar pessoas com diferentes intuitos pessoais ou financeiros.

É compreensível a confusão entre os termos e a visão negativa que o termo Hacker ganhou com o tempo, porque teoricamente todo cracker é um hacker, mas nem todo hacker é um cracker.

Cultura hacker e ética hacker

A cultura em si, sua ética e ideologia começaram junto com a origem do termo, onde os usuários dos computadores só tinham acesso aos mesmos em determinados horários e com diversas limitações, então eles buscavam burlar isso e tornar a coisa mais livre e desregrada e a cultura começou a ganhar forma com o tempo.

Um livro muito importante sobre o assunto é: Hackers: Heroes of the Computer Revolution. Publicado em 1984 por Steven Levy um jornalista americano que escreveu muitos livros sobre computadores, tecnologia, criptografia, internet, cyber-segurança e privacidade. Em tal obra Levy cita alguns princípios.

  • O acesso aos computadores deve ser total e ilimitado;

O acesso total da aos hackers a oportunidade de aprender, melhorar, concertar e entender como as coisas funcionam, os possibilitando trazer avanços ou criar coisas novas e mais úteis, aumentando a velocidade da expansão tecnológica.

  • Toda informação deve ser livre

Visando os mesmos objetivos do ponto anterior da evolução da tecnologia, toda informação deveria ser gratuita e de fácil acesso, pois qualquer sistema poderia se beneficiar de um fluxo fácil de informação já que estaria ajudando qualquer um que quisesse melhorar o que já foi criado.

  • Promover a descentralização

A melhor maneira de promover a troca gratuita de informações é ter um sistema aberto que não ofereça fronteiras entre um hacker e uma informação ou um equipamento que eles precisam em busca de conhecimento e melhoria. Os hackers acreditam que as burocracias, sejam corporativas, governamentais ou universitárias, são sistemas defeituosos.

  • Os hackers devem ser julgados pelas suas capacidades de hacking e não por qualquer outro tipo de critérios discriminatórios

Toda superficialidade é ignorada e o que conta é somente sua habilidade em hackear.

  • Você pode criar arte e beleza em um computador.

Os hackers apreciam profundamente técnicas inovadoras que permitem que os programas executem tarefas complicadas com poucas instruções quase como um jogo de desafio pessoal, mas não se refere apenas a essa beleza matemática, mas também a criação de imagens ou qualquer outra vertente artística por meio de um computador, o que atualmente já é muito adotado.

  • Os computadores podem mudar sua vida para melhor.

Esse ponto e o de cima podem parecer meio óbvios, mas na época do surgimento desses sistemas não era assim e as coisas eram tratadas de formas diferentes, atualmente isso meio que se tornou uma verdade absoluta.

Os hackers consideravam os computadores como as lâmpadas de Aladdin que podiam controlar, eles acreditavam que todos na sociedade poderiam se beneficiar ao experimentar esse poder, e que, se todos pudessem interagir com os computadores da maneira que os hackers fizeram, a ética do hacker poderia se espalhar através da sociedade e os computadores melhorariam o mundo, e foi o que aconteceu.

Porque devíamos aderir isso?

Com o tempo o termo hack começou a ser utilizado com esse mesmo significado, mas em diferentes áreas da nossa sociedade, hackear algo meio que se tornou o que nós chamamos aqui de gambiarra, é criar uma solução para um problema de maneira não convencional, pensar diferente do esperado, melhorar um objeto/sistema com uma adaptação própria, assim como os hackers faziam e fazem atualmente.

Todos nós já hackeamos algo, desenvolvendo um novo método para aprender a tocar um instrumento, um novo jeito de decorar os assuntos para a prova, hackeamos nossa mente para enfrentar nossos medos ou esquecer algo que queremos, sempre estamos pensando em hackear as coisas, porém nem todos colocam isso em prática, nem todos estamos interessados em “perder tempo” aprendendo sobre as coisas por mais que queiramos melhorá-las, preferem a comodidade de aceitar as coisas como elas são.

Devíamos aderir a cultura hacker porque os conceitos podem se aplicar a qualquer área da vida e são muito benéficos, tanto para evolução pessoal quanto da comunidade ao seu redor, pensar fora da caixa e contornar o caminho que nos foi traçado é essencial, você não precisa seguir o “código” que o sistema dita, crie o seu próprio.

Texto muito bom que faz essa relação de hackear o mundo a nossa volta em todos os aspectos: http://www.homembit.com.br/2016/08/sou-um-hacker-e-me-orgulho-muito-disso.html

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