Tecnologia: o mal necessário
A humanidade aprecia a tecnologia, seus benefícios são reverenciados por todas as pessoas, as quais se utilizam das ferramentas tecnológicas para obterem um melhor desempenho nas suas atividades diárias, seja no que refere a rapidez ou a quantidade de feitos que podem ser realizados no curto espaço de tempo, devido a dinamicidade que as novas invenções trazem consigo.
Em contrapartida, pouco se reflete sobre as consequências que o conteúdo tecnológico pode trazer para a mente das pessoas. Suas contribuições valiosas para o curso da humanidade são inegáveis, mas é necessário pensar naquilo de negativo que ela causa. Um mal inerente a tecnologia que muitos sequer percebem é a diminuição que ela causa na capacidade de concentração, isto é, as pessoas não conseguem mais dedicar um período linear de tempo para realizar uma leitura, sua atenção é facilmente dispersa e sua compreensão muito afetada.
Essa mudança é visivelmente percebida como uma alteração na mente das pessoas, haja vista que com as novas aparições tecnológicas o processo de coleta de informações tornou-se mais amplo. O principal invento da era tecnológica, a internet, possibilitou às pessoas um contato diverso com uma imensidão de pensamentos, ideias e detalhes sobre conteúdo intelectual. Cada indivíduo tem acesso a milhares de estudos em pouco tempo e pode compreendê-los rapidamente, mesmo que de maneira superficial.
Desse modo, entende-se que a leitura linear e a compreensão mais gradual foi suplantada pela absorção fragmentada e superficial das ideias. Ao invés de ficar sentado folheando um único livro por horas e horas, o indivíduo realiza alguns cliques e consegue acessar inúmeros artigos, textos, livros online, e assim ir aproveitando somente aquilo que lhe interessa, captando apenas a ideia central sem muita profundidade, ou seja, é quantidade em detrimento da qualidade.
No percurso da humanidade observa-se uma amadurecimento intelectual com respeito à compreensão e representação topográfica e demográfica do espaço geográfico. Como frutos deste processo temos o relógio e o mapa, o primeiro foi fundamental para a alimentação do individualismo, tendo em vista que a personificação do tempo proporcionou um controle maior por parte de cada ser humano sobre o tempo decorrido ou quanto resta e isto confere ao homem a característica de regente. O segundo, mapa, fez com que o indivíduo tivesse uma noção sobre os povos, sobre a geografia, conhecendo o mundo todo na palma da mão, mais uma vez lhe conferindo o aspecto de poder.
Diante disso, alguns pensamentos surgem no meio da esfera científica. A tecnologia determina nossas vidas ou são apenas instrumentos que utilizamos conforme nosso querer? Eis que duas vertentes emergem, deterministas e instrumentistas. O fato é que, não podemos afirmar categoricamente que a tecnologia é autônoma, isto seria um erro, mas certamente o progresso tecnológico é algo que não pode ser mensurado em sua totalidade pelo homem. Os avanços, as demandas, as consequências e múltiplas variáveis não são amplamente compreendidas, portanto, o ser humano acaba refém do imponderável.
A tecnologia tem sua importância e foi fundamental no processo de evolução da humanidade, no entanto, é preciso tratá-la com cautela e muita ponderação para que assim, possamos ter plena consciência de que não estamos alimentando nosso próprio predador.
