A audácia
Já era madrugada quando, em outra noite de insônia, senti necessidade de preencher o vazio do estômago com um lanche oportuno. Aquele que esperamos mandar para dentro e em compensação jogar a ansiedade para fora, para enfim descansar como Morfeu manda.
Fui até a cozinha a passos mancos e arrastados. "Leite?", "Fruta?" ia pensando comigo mesmo. Virei na sala, cheguei na porta de correr e procurei o interruptor.
Eis a minha surpresa ao ligar a luz. Dois centímetros de pura nojeira, marronzinha, de asas, claro, pois Deus descartou a ideia, mas o Diabo fez seu trabalho. Aquilo bem ali, no centro do recinto.
Fazia tempo que um visitante do submundo não pisava por aqui. "Eu deveria ter um gato pra cuidar dessas coisas" foi o que meu cérebro madrugo conseguiu concluir.
Alguém ali precisava fazer o serviço de carrasco... e entre mim e os parentes no quinto sono… confesso, quase voltei para a cama. Mas não. Peguei o guardanapo e me aproximei devagar por de trás da inocente. Se existe um ninja dentro de mim eu o manifestei com faixa preta, na ponta dos pés e equilibrando o papel.
Cheguei perto suficiente para que desse conta do serviço em uma arrebatada só. Porém o primeiro tiro quase nunca acerta o alvo, ainda mais se ele voa. A bicha então começou a correr a maratona de sua vida, e o ninja deu lugar ao pedreiro batendo a laje. Pá! Pá! Pá! E ela me escapando, até que…
Até que a coisa mais estranha me aconteceu. Sra. Barata parou de fugir. A dita cuja se virou pra mim e mexeu as anteninhas em tom de desafio.
A audácia!
Ela ficou de frente pra mim e esperou. Se achava invencível. Ficamos assim por 5 segundos, nos encarando.
Tive de recorrer a armas melhores. Devagar, peguei um borrifador ao alcance que usamos no jardim e estava no lugar errado. Olhei pra minha inimiga, ela ainda não se mexia.
Pois bem, dei-lhe o banho de sua vida! Dessa, ela não escapou. Com o guardanapo finalizei o truque. Morreu limpa, no final.
