by Rodo
Cidade Fantasma
Published in
2 min readApr 15, 2020

--

|NÃO SOU FLOR QUE SE CHEIRE|

Eu não sou flor que se cheire. O odor da minha prepotência é sentido de longe. Ele é forte, asqueroso e ácido. Quem o sente, repugna em suas entranhas de pavor por tamanha catinga. Isso afasta quem eu queria ter por perto e passa uma imagem distorcida de quem eu sonhava ser.

Eu não sou flor que se cheire. A poluição da minha falsidade é inescrupulosa e sem medidas. Quem tentou medir foi confundido com a confusão em que me enfiei. Pulei fundo e enganei até a mim mesmo. Seduzi outros ao meu engano e vibrei no final pela vitória conquistada.

Eu não sou flor que se cheire. A desarmonia das notas olfativas que deveriam ser admiradas não gera admiração alguma, pelo contrário, gera escárnio e vergonha. Fico ali caído ao chão enquanto zombam de minha descompensação que é celebrada por quem ansiava minha queda.

Eu não sou flor que se cheire. O nó na garganta dado pela meu narcisismo é perceptível. Não vejo o outro como um lugar de altruísmo mas nas boas obras escondo sem rubor algum meu egoísmo. Quão desgraçado sou. Poderia ser tão diferente.

Eu não sou que se cheire. A podridão de meus vacilos é fulminante. Só não sente quem faz olfato grosso. Fui ali e não voltei, pois o caminho foi apagado pelos corvos opressores que desvirtuam a graciosidade da pura. Saudades de engatinhar emaranhado pela pureza de mente e de coração.

Concluo reconhecendo que sou inapropriado para um inalar agradável. Minha esperança é que conheci alguém que não descarta flores desse tipo. Ele as coleciona.

--

--

by Rodo
Cidade Fantasma

Tentando me gravurar pela existência através da arte!