O mico
Descansa o óculos no bloco
leva as mãos a testa
o suor deixa as mãos pegajosas
limpa na calça mesmo
o dia acabou
só não sabe se foi o horário
se foi o cansaço
se foi a peça
ou se foi a notícia de capa
que em letras capitais
anunciou
a vitória da morte,
do medo, do mico
eu minto e troco as letras
afinal não se sabe
quem ouve, quem lê,
quem categoriza o meu grito
sufocado
eu odeio o futuro
e o prazer que ele traz
de que eu terei certeza
que o estrago
é um soco no âmago
de um sonho do que
poderia ter sido
a inércia do retrato da minha janela
despreza o nosso destino.
Vitória, 15 de agosto de 2019