Dica do ICD para partidos que buscam democracia de alta intensidade

App Empurrando Juntas responde à manipulação das mídias sociais a partir do Pol.is, tecnologia inclusiva que usa AI para identificar convergências de opinião e minimizar efeitos da polarização.

Henrique Parra Parra Filho
Empurrando Juntas
5 min readJun 28, 2017

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O Instituto Cidade Democrática (ICD) tem um histórico de atuação prestando serviços para prefeituras e governos em processos participativos que utilizaram tecnologias digitais e envolveram 20 K pessoas, impulsionando a implementação de 24 propostas cidadãs que mobilizaram R$ 1.5 milhões em investimentos públicos. Nestes anos, não recebemos pedidos ou consultas de partidos políticos.

No entanto, parece que as recentes mudanças políticas despertaram novos interesses e, nas últimas semanas, começamos a receber as primeiras consultas sobre como utilizar nossa nova tecnologia para processos de consulta com filiados (democracia interna) e para a construção dos programas de governo de maneira participativa.

Por isso, resolvemos publicar uma orientação em licença aberta sobre como utilizar o app Empurrando Juntas para democratizar partidos e programas de governo!

Essa orientação está inspirada no balanço que fizemos das experiências mais que acompanhamos/ (co)realizamos nos últimos anos, com destaques, para os objetivos desta proposta metodológica, para o Gabinete Digital, o Dialoga Brasil e o VTaiwan. Ao enfatizar estas três experiências, buscamos uma orientação com ênfase na inclusão, na possibilidade de se nacionalizar e de criar uma metodologia possível de ser mantida por governos, tanto para a formulação, quanto para a avaliação de políticas e investimentos públicos.

Como qualquer orientação feita pelo ICD, a primeira preocupação é dar uma resposta à elitização das tecnologias cívicas. Para lembrar o que detalhamos em nossa Teoria de Mudança:

Então essa é uma primeira constatação: O formato de discussão mais tradicional, baseado em árvores de comentários — a exemplo dos antigos fóruns — traz em si um grande limite de engajamento, exigindo que o participante embarque numa discussão com recursos e disposição para travar longas conversas e muitas vezes exigindo uma série de conhecimentos prévios que não estão amplamente distribuídos na sociedade.

Além disso, mesmo para aqueles que se mobilizaram para participar no processo tradicional em árvore, os incentivos em relação aos resultados da conversa são pouco animadores: não há um processo de deliberação claro que aproveite toda aquela informação que foi disponibilizada pelos participantes, gerado uma sensação de impotência em quem participou. As arquiteturas em árvore ou mistas que apresentam processos mais claros de deliberação (Loomio, Cidade Democrática, Decide Madrid, Decidim Barcelona, Aplicativo da Conferência da Juventude, Liquid Feedback ou até mesmo o proprietário ConsiderIT) o fazem ao custo de aumentar sensivelmente a complexidade do processo, estabelecendo fases, regras e obrigações que acabam por diminuir ainda mais o potencial de engajamento, ainda que a sensação de efetividade da discussão aumente para aqueles que ultrapassaram a barreira.

Como temos dito, uma das maneiras para responder a este dilema está na arquitetura da tecnologia e nossa resposta foi adotar o Pol.is e integrar sua comunidade de desenvolvimento. Detalhamos as razões disso no post "How Pol.is is being adopted by Cidade Democrática in Brazil":

First of all, our decision in adopting and expanding pol.is’ engine is based on the above diagnostic that we need to improve our collective deliberation tools in two main complementary challenging aspects. First, the deliberation tool should achieve higher levels of mass engagement in free (as in freedom) collective deliberation. Second, it should foster collective engagement that overcomes the confrontation logic of social media (swarming and campaigns) and enable collaboration between government and society towards common goods.

O Pol.is é facil de adotar, tanto por estar disponível numa nuvem estável quanto pelo recente trabalho do ICD em melhorar a documentação da API e do funcionamento da interface. A facilidade no uso e na customização começa a apontar para uma progressiva facilidade para adesão à comunidade (devolvendo código). Nosso objetivo é construir um arranjo open source que distribua os custos de desenvolvimento e aperfeiçoe a tecnologia de acordo com as especificidades políticas brasileiras.

O Pol.is é bom para incluir perfis de participantes muito variados e usa AI para identificar convergências com visualização dos grupos de opinião em tempo real, oferecendo ótima resposta para os problemas da elitização e polarização. Ao analisar seu uso pelo governo de Taiwan, o MIT Technology Review diz: The Internet Doesn’t Have to Be Bad for Democracy

No momento em que o próprio Facebook admite o golpe, assume sua responsabilidade e passa a investir milhões em busca de soluções, o Pol.is/ Empurrando Juntas apresenta uma solução livre em pleno uso e aperfeiçoamento!

Como uma espécie de "tinder da política", basta um sim/não/passo para participar. Logo o participante já começa a se ver pertencente a algum dos grupos de opinião e pode publicar novas propostas. Minimalista, tem conseguido médias de engajamento altas (no. de propostas votadas por participante).

Nossa orientação aos partidos é:

  1. Agregar consultas em um ambiente comum (embedando o Pol.is), mas apostar na segmentação com identidades e campanhas específicas (multi stakeholder) + Usar mídias sociais para campanhas segmentadas e para “pescar” participantes (facilidade de entrada “login connect”)
  2. Aliar eventos presenciais e online para gerar (1) engajamento, (2) aprofundar debates e (3) apresentar respostas/ feedbacks + Especialmente como forma de engajar grupos sociais excluídos politicamente (baixa voz política)

Dessa forma, é possível lançar consultas temáticas cujos resultados podem ser utilizados para a construção de programas. De maneira crescente, as propostas dos diferentes grupos de opinião e majoritárias das consultas vão sendo debatidas nos eventos e/ou encaminhadas, passando a influenciar e integrar a agenda final. De maneira similar, certas decisões partidárias podem passar pelo mesmo mecanismo.

Mas nem tudo está pronto no Pol.is para oferecer uma resposta política completa aos dilemas dos dias atuais. Não basta responder à exclusão. Uma resposta mais consistente precisa ser dada à polarização e, aqui está o calcanhar de aquiles, uma resposta precisa ser dada à manipulação (fake news, bots e dominação do fluxo principal de comunicação).

Já estamos desenvolvendo respostas através da estratégia de gamificação (notificações push através de perfis de rede) do Empurrando Juntas e queremos acelerar este desenvolvimento! Por isso tudo, além do uso por governos ser muito bem vindo, o uso por partidos também é extremamente desejável!

Uma boa comunidade de open source também se faz com perfis distintos de participantes (desenvolvedores, designers, cientistas políticos, jornalistas, políticos, ativistas) e, acima de tudo, com muito uso, mato e chão!

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Henrique Parra Parra Filho
Empurrando Juntas

Filho de Jundiaí, da Democracia e da Internet / At @cidademocratica, learning by doing how tec commons can improve (or save) democracy