Do campo, para vida: Alex eterno camisa 12 do Internacional

Vitória Karoline
Cidades e Esportes
Published in
18 min readJul 1, 2018

Alex conta sobre sua história de vida e sobre sua saída do S.C. Internacional durante entrevista pingue-pongue.

Por Vitória Karoline

Alex Raphael Meschini de 36 anos, ex-jogador do internacional, conta um pouco sobre a sua história e revela como ainda está sendo dolorosa a sua partida do clube que em 11 de janeiro de 2019 completará 2 anos. Alex é natural de Cornélio Procópio-Paraná e mesmo afastado dos campos continua morando na capital gaúcha. Nesta entrevista conheça mais sobre a história do camisa 12 e sobre a sua saída do internacional.

Alex durante entrevista pingue-pongue no Shopping Passeo. — Crédito: Douglas Fritscher

Em qual cidade tu viveu a tua infância?

Bom…. Eu nasci em Cornélio Procópio em Paraná, logo na minha infância fui morar em Itambé que é perto de Maringá. A gente morou em um sítio, meu pai trabalhava com o irmão dele e nós moramos durante 5 anos praticamente no sítio, entre 1983–1988/89, as datas daí se alteram um pouquinho, e foi aonde eu passei a minha infância, aonde na verdade que eu acabei aprendendo alguns valores que hoje eu carrego comigo, de ver que realmente tudo o que a gente come, encontra no mercado, sai ali do sítio e que tem muito suor através disso, então foi riquíssima apesar da simplicidade mas foi muito rica minha infância.

Com quem tu morou na tua infância? Tu tens irmãos?

Tenho dois irmãos mais velhos, em minha infância ficávamos todos juntos, eu como sou a raspa da taxa, o bicho pegava; aprender a andar, jogar bola, andar de bicicleta, brincar na chuva, tudo na terra.

Quando tu saiu a primeira vez para ir para algum clube, qual foi o sentimento de ficar longe da tua família? Pois aparentemente tu parece ser uma pessoa muito apegada a eles.

Sou apegado a minha família. Eu tive uma saída em 1998 e nós estávamos morando em Campinas e fui morar em Guarapuava no Paraná, fiquei 4 meses jogando futsal, e eu ficava um tempo na casa de um amigo que o pai dele era treinador, uns dias dormia na casa dele e em outros eu dormia em uma pensão. Um dia que eu dormi nessa pensão deu uma chuvarada e arrancou todo o telhado e eu tive que ir dormir dentro do quarto chovendo, logo no outro dia eu já corri para a casa desse meu amigo que era melhor né [risadas]. Mas foi a minha primeira experiência que eu tive morando fora, e dava uma angustia muito grande, principalmente no domingo, que acho que é a programação mais familiar que tem na semana. Chegava no fim do dia e e tinha as novelas que eu sempre gostei e assistia com a mãe e com o pai.

E quando tu via os teus pais, como era este encontro?

Quando fui encontrar meus pais, na cidade da minha esposa, eu tive que voltar para Guarapuava e eles tiveram que voltar para Campinas. Nas férias de julho no colégio, eu fui para campinas e não voltei mais [risadas], tanto que a gente teria que disputar o torneio, que era uma fase final do campeonato, e a escola de Guarapuava demorou para me dar transferência para Campinas, sabe!? Mas realmente é algo que te amadurece pois você que tem que tomar as suas decisões, mas foi muito difícil, nesses 4 meses, meu pai trabalhando de cobrador de ônibus na época, não tinha condições de me bancar, mas esse cara, essa pessoa, o Cássio, o Neto, o filho dele, me ajudaram muito, foi uma experiência riquíssima.

Tu conseguia manter os teus estudos com a função dos treinos e jogos?

Quando voltei para Campinas, dos 4 anos que eu fiquei no Guarani mais o ano inicial de 1999, que foi no Primavera de Indaiatuba, eu fiquei morando com os meus pais, por mais que fosse Indaiatuba uma cidade vizinha de Campinas, eu pegava três ônibus para treinar, e para voltar pegava mais três ônibus para estudar, isso eu sempre priorizei também. Eu tenho o segundo grau completo.

Como foi quando o Guarani te contratou?

O Guarani me contratou e eu fui para Campinas e segui na casa com meus pais. E logo que eu acabei praticamente, no final de 2003, que eu me casei, meu pai acabou se aposentando, eu vim para o Inter no início de 2004 e daí que eu realmente me desapeguei dos meus pais, mas daí eu já estava casado… mas viver muito tempo sem eles por perto, até hoje vivendo em Porto Alegre, me faz falta de poder ter mais praticidade. Eu adoraria estar aqui, passar na casa dos meus pais e tomar um café, hoje eu não consigo fazer… mas faz parte da vida, e é uma escola aonde que você realmente acaba entendendo e valorizando um pouco mais os pais. É muito difícil estar longe de casa.

Com qual frequência tu via os teus pais quando tu estava no Inter?

Ah… A gente se via muito pouco, mas era umas três, quatros vezes no ano que eles vinham. Cheguei a passar um ano sem vê-los, sem eu conseguir ir e também sem eles virem aqui em casa. Então chegou na época das férias, parecem que as férias passaram rápido e como os meus pais são de uma cidade e os meus sogros são de outra cidade, normalmente os tempos de férias a gente divide para agradar a todos e também no sentido de atendê-los, pois você passa a ter filhos e eles querem ver os netos. Mas foi difícil… O ano acabou passando, foi em 2005 uma época em que eu andei sempre machucado e precisava ficar tratando. E para o meu pai sair do sitiozinho dele, era tudo mais complicado, hoje está um pouco melhor e até gosta de andar de avião. Só o meu sogro que ainda não, cê acredita que até hoje meu sogro vem 17 horas de ônibus e nisso ele acaba arrebentando com a minha sogra que anda de avião [risos].

Ser jogador de futebol sempre foi o teu sonho?

Na época eu morava em sítio, sempre via pela televisão, falar que eu sonhei, que eu vivi e me dediquei sempre para ser um jogador, um atleta… Não… Se eu falasse, eu estaria mentindo mas ao mesmo tempo eu vivi e respirei futebol desde os 7 anos de idade que eu cheguei em 1989 em Santa Amélia, que é a minha cidade que eu vivi mais tempo, aonde eu tenho meus melhores amigos, meus pais vivem lá hoje e enfim.. Dos 7 aos 16 anos eu joguei futsal pela cidade, então era uma saidinha e outra por esse time de Guarapuava, eram campeonatos regionais e escolares que eram chamados de olimpíadas, jogos abertos e tinha a fase final de cada um e a gente competia bastante, ali me ajudou muito por que eu peguei uma safra de colegas para jogar comigo que os caras eram muito bons de bola e como normalmente a gente competia e chegava bem nas competições, eu fui meio que treinado, doutrinado por esses momentos importantes.

Então tu não chegou a fazer nenhuma escolinha?

Não. Era o time da cidade, pela idade, chegou ali nos 12 anos já em 1994, e começamos a jogador uma categoria a cima, eu tinha primos que também jogavam e tinham esse talento, que poderiam terem sido atletas. Mas essa questão de você sonhar em ser jogador parecia ser muito distante… Você tem uma autoestima baixa. A realidade de quem morava em um sítio, em um lugar pequeno. Então cê via aquilo lá, você tinhas seus ídolos e eu cheguei a fazer um teste no Guarani em 1997… Nossa cara.. To ficando velho, 1997… [risos]

Em 1997 eu não era nem nascida.. [risos]

Ôôô louco.. Era no outro século e minha repórter não era nem nascida… [risos] Mas ta bom… Foi bem vivido. Tenho saudade para caramba. Em 1997 eu fiz um teste no Guarani e no Corinthians, e não passei nas peneira e depois, esses dois times tiveram que me contratar. Cê viu como é que é? Então quando eu fiz esses dois testes e não passei, eu com 16 para 17 anos comecei a pensar “Bahhh cara, vai chegar a maioridade.. Vou fazer um curso aqui..”, mas eu já estava jogando em Campinas, e também nós tivemos que se mudar para lá por que o pai é um agricultor pequeno e teve algumas safras ruins na década de 1990 e os agricultores pequenos não aguentaram. Então ele foi ser cobrador de ônibus quando ele tinha 50 anos, mais uma parte para eu admirar o meu pai, por que com 50 anos querer ser cobrador de ônibus, algo que ele nunca foi e largar a vida que ele amava, ele ama sítio, hoje ele ta lá e se tirar o sitio dele, ele realmente morre. Ele já está com 68 anos.. Então a gente acabou indo para lá em 1997, e eu fiz esses dois testes e pensei “Ah eu não quero seguir nessa vida não”, como muitos…

Qual foi o primeiro time que tu jogou?

Foi o Primavera de Indaiatuba por que até os 16 para 17 anos, eu estava jogando futsal. No ano de 1999 em Indaiatuba eu comecei a jogar campo, e eu lembro que eu era bem “mirradinho”, eles me chamavam de Rafinha e os caras me protegiam, tinha isso quando eu jogava o futebol amador de Campinas, os capamguinhas diziam “não mexe com o Rafinha não..” [risos]. Mas sempre fui pequeninho, então até eu me adaptar e tudo, no final de 1999 o Guarani me comprou e ali eu posso te dizer que comecei a me deslumbrar a ser atleta… Mas antes, falar que eu sempre sonhei, “Eu vou ser jogador… Se não…”, isso não.

Como foram as peneiras nos clubes?

Eu cheguei a perigar a não seguir por essa questão de fazer testes, por que você vai fazer teste e são aqueles 10, 15 minutinhos e parece que é carta marcada. Eu até brincava com o treinador que me levou para o Guarani, que foi o mesmo que não me passou no teste, eu falava “O professor, cê tem um olho ruim hein cara… “ e ele falou “Você deve ter ido muito mal no treino”, e eu disse “Eu não fui, você só dava 10 minutos pra gente” [risos].

E como foi a sua trajetória até chegar no futebol profissional?

Deus me deu o dom, me colocou no caminho, me capacitou da maneira mais simples possível, mas em uma competição de alto nível, que ali eu já levava com responsabilidade desde os 7, 8 anos de idade pra chegar lá e Deus me abriu as portas e eu fui entrando…

Eu não tive ninguém que me bancou, sabe!? Mas ao mesmo tempo foi acontecendo, depois do Primavera, no Guarani eu voltei para a sexta divisão do São Paulo que eles me emprestaram, eles fizeram uma parceria com um time de Pirassununga, para quem não conhece Pirassununga, a famosa caninha, a cachaça 51 [risos], e a gente foi lá em 2001, daí eu também saí, eu ficava a semana toda dormindo lá de baixo da arquibancada.

Pirassununga era cento e poucos km de Campinas, e aí jogava no sábado e chegava no final de semana, no domingão e eu tava na casa da minha mãe, e como no Primavera de Indaiatuba eu levava as roupas de alguns atletas para ela lavar em casa, por que os caras moravam tudo longe de suas casas e suas famílias, e minha mãe lavava as roupas, roupas de cama e fazia duas receitas de bolo de cenoura com uma cobertura de brigadeirão e eu levava para lá, isso em 2001 no Pirassunga, daí eu voltei para o Guarani em 2002 e fomos vice-campeões paulistas, em 2003 joguei o primeiro ano de profissional, e em 2004 eu vim para o inter.

Qual foi a sensação de jogar Beira-Rio depois de passar por tantas dificuldades?

Eu vou dizer para você… É tudo muito gostoso, não é demagogia… Mas até hoje quando alguém te para, quando alguém te reconhece, viver as glórias que Deus me possibilitou viver, conhecer as pessoas que eu convivi. Parece que para mim não é muito real, mas as pessoas naturalmente te lembram. Quando você está aqui, podendo dar uma entrevista e poder falar, você vai relembrando… Mas cara, é uma sensação de realização mesmo, de sonho, de desejo, de muitos que de repente até pensam no lado somente de “Ah, meu filho vai ser atleta para mudar a vida da família”, acaba acontecendo para 0,78%. A cada 3 mil, sai 1 só para ter ideia. As pessoas acham que é assim, que vai acabar acontecendo e para mim aconteceu da maneira igual que te falei, criado no futebol assim falando, sem ninguém te bancar, só você mesmo passando por cima das dificuldades e tendo que evoluir, que cada momento foi um momento de glória, então eu só posso dizer que é Deus, e Glória a Deus por que sem ele eu não teria vivido isso, não só pelo dom, mas eu também tinha tudo para dar errado… Enfim… As coisas as vezes acontecem para mostrar que é possível desde que você se dedique por que portas se abrem.

Em 2009 tu jogou fora do Brasil né!?

Sim. Foi outro choque, o futebol realmente me despertou para a vida de uma maneira que eu não sabia… A autoestima melhora pois você se realiza, fez tanta gente feliz, grandes conquistas, grandes camisas, grandes clubes, de aprender culturas diferentes, lugares diferentes…

Depois de ter passado por tantas dificuldades, como era estar na Rússia?

Andar a primeira vez de avião, a minha primeira viagem de avião que eu estava no juniores do Guarani e eu fui fazer um amistoso em Criciúma, o treinador era o Ricardo Gomes e eu lembro que era obrigado a viajar de calça jeans, e eu não tinha… Eu tive que pegar emprestado do meu irmão e minha mãe fez a famosa pence e diminuiu um pouquinho por que peguei emprestado do meu irmão mais velho, e eu viajei com uma calça emprestada do meu irmão pois eu não tinha… Até você chegar daqui a pouco e se ver Campeão da Libertadores, do Mundial… Vem tudo aquilo…

E quando tu disse sim para ir para a Rússia?

Antes eu falava que eu não iria ir para Rússia por nenhum dinheiro no mundo… Pois lá é muito frio mas a gente naquela insegurança né… Em 2008, veio até seleção brasileira e você fala assim… O que eu sou? O que está acontecendo? Como o futebol é muito comercial, eu já ia fazer 27 anos, a gente programou isso, eu com o Luiz que é o meu empresário que é outro anjo que apareceu na minha vida; Quando você está cercado de pessoas boas, as coisas acontecem, você já evolui só dessa maneira… A gente programou para sair mais maduro, deixando o mercado brasileiro aberto, construindo uma história e na hora que chegou a Rússia.

Me conte mais sobre tu não querer ir para a Rússia?

No começo realmente não queria ir por que que era uma copa do mundo que estava se aproximando, começando a ser convocado pelo Dunga, que é outro cara que eu vou ser grato para o resto da minha vida, que muita gente questiona mas quando as pessoas conhecem o Dunga sabem que realmente é um cara especial..

Enfim, então eu olhei para minha esposa e falei: — E aí?, eu já estava a 6 anos em uma parceria com a minha esposa e com o meu filho Lucas de 2 anos de idade… E eu disse, chegou o momento, pois o inter queria me vender e ela até mesmo disse que não tinha mais clima justamente por isso de querer me vender, e estava surgindo o Taison e eu ia fazer 27 anos e eles tinham medo de não ganhar mais dinheiro comigo, aquele coisa de futebol, mas eu queria ficar… Então nós pensamos, depois nós vamos nos arrepender de nunca ter ido, tentado e poxa vida quando vê poderia ter sido bom, então eu falei que nós tínhamos que tomar uma decisão, e que teríamos que estar juntos… Se der errado, a gente volta.

Como foi a sua adaptação em outro país junto a sua família?

A gente foi morrendo de medo, mas quando a gente chegou lá foi tudo diferente. Foi maravilhoso, a gente sente saudade das pessoas que a gente conheceu, da maneira que eu fui tratado, eu fui muito bem tratado, de aprender a falar uma língua, aprender não, mas eu já me comunicava por telefone, e você conhece que farmácia tem tudo, mercado tem de tudo, churrasco você faz, se você quiser você leva o chimarrão, você tem o seu feijão, tem restaurante italiano, restaurante brasileiro, é tudo…. Daí você realmente conhece o mundo. Dalí eu fui jogar e conhecer mais partes da Europa.

Futebol deu alguma coisa de admiração que eu consegui conquistar por parte das pessoas. Eu tinha medo né cara, pequenininho do sítio, do interior… Então hoje a gente sentado aqui ou se a gente sentar com o presidente da república, o futebol me deu a condição de falar “Pô, você é capaz… Ninguém é diferente de ninguém, ninguém é mais, ninguém é menos do que ninguém…”. Foi assustador, mas foi glorioso passar 2 anos e meio na Rússia, ter pego 29° negativos, jogador com 15° grau negativos, enfim… Era algo que eu tinha que passar por cima, e Deus me deu uma força para mim, que realmente deu tudo certo e por isso a gente sente saudade.

Mudando um pouco de assunto… Nós sabemos que tu sempre foi muito amigo do Fernandão. O que tu sentiu quando ficou sabendo da tragédia que ocorreu com ele?

O Fernando conquistou uma situação com a gente, que foi conquistado. Meu pai e minha mãe, com eles eu aprendi, no ambiente familiar, com meus tios e avos nos quais eu tive essa felicidade de crescer junto com eles, a gente conheceu o significado da palavra respeito, que é o que falta hoje no mundo. Tem tanta coisa que aparece no mundo e parece que você não vê o respeito voltando a moda. O Fernando com tudo que ele representava, ele nos passava tudo isso, de assumir as broncas e tudo… E na hora que um cara desses morre, você pensa: “Não é possível”, pois você tinha a imagem dele, como se ele fosse um super-herói, ele ia lá e resolvia os seus problemas e eu cheguei a comparar, nas devidas proporções, ele aqui para a gente, com o Ayrton Senna, pois assim como ele, o Fernando a gente idolatrava demais, admirava muito pelo bem que ele fazia, pela maneira que tratava as pessoas, a maneira destemida, de te encorajar, de questionar um treinador, de tudo cara… Tudo que você ia perguntar, parecia que ele tinha uma resposta pronta, era algo inacreditável. E eu comparo ele com o Ayrton Senna pois ele é um dos grandes ídolos e na hora que você assiste a história dele, você vê o quanto o Brasil era pobre na década, no outro século. E o Fernando ele vem disso, para você ter ideia da pessoa que é… Pois todos podem admirar o profissional pelo o que o cara faz dentro de campo, mas não tem nada mais gostoso, do que a pessoa falar, “Poxa vida, eu te admiro mais ainda pela pessoa que você é” e o Fernandão, cê vai em Goiana e parece que ele era o coronel de Goiana, todo mundo conhece e gosta dele… Cresceu no meio… Me apresentou o primeiro cantor sertanejo que foi o Leonardo, que a gente cresceu ouvindo, Bruno e Marrone, eu aprendi tudo isso com ele bixo. Ele era um cara que te aconchegava naturalmente, sem querer, do jeito dele. Por isso foi realmente muito impactante, eu estava na casa do meu pai no Paraná, foi bem na época da Copa do Mundo. A gente teve a folga, e eu fui para a casa do meu pai e o meu pai acordou emocionado pois a gente tinha uma ligação no inter, que chegava meu pai, meu sogro, meu primo e todo mundo entrava no vestiário, não tinha frescura. A gente como conviveu quatro anos, praticamente juntos, 80% do grupo, a amizade, a família com tudo ele veio, e é por isto que também deu certo, por isso que todo mundo que ia saindo de lá ia chorando, por que a gente pegou um vínculo com o clube, que tem gente que não entende até, mas é um vínculo sentimental, foi conquistado o negócio… E na hora que você vê faltar realmente o Fernando, parecia que esse cara nunca ia morrer na vida né.. De toda a maneira é uma pessoa que faz muita falta hoje no mundo, ele seria realmente um porta voz para muitas coisas bacanas como ele era… Ele representava muito, todo mundo! Eu nunca vi o que aconteceu com ele, dele se lesionar e o estádio todo se calar quando nós estávamos jogando a Sul Americana de 2004. Ele não podia andar em Porto Alegre, sabe!? Poder ter tido realmente aulas com ele, foi uma riqueza muito grande e por isso foi um dos maiores choques que eu vivi na vida, pois você perde pessoas próximas, as vezes por estar mais velhas, ou por alguma doença mas a maneira que acabou sendo. Era um cara que fazia parte da minha vida, por isso que eu fiz questão de ir no velório, por que a Fernanda, o Enzo até hoje a gente tem um contato, e existe um respeito, o Enzo está crescendo uma pessoa espetacular, muito legal de ter esse olhar de não ser mais do que ninguém. E eu fico imaginando, se ele tinha esse poder de mobilizar tanta gente, um clube, um estádio e tal… Imagina na casa dele a falta que ele não faz… Ver o Enzo hoje superando, a Eloa fazendo o seu ballet e a Fernanda estimulando isso e tendo que seguir a vida e se reinventar, então essa é a história que ele fez e por isso ele foi tão brilhante e tão querido.

Com a tua saída do internacional, como foi o sentimento de sair de um clube que te acompanhou durante tantos anos e te possibilitou te realizar tantos sonhos?

A sensação foi terrível. Eu tenho sofrido muito desde 2016 pra cá, além do rebaixamento, que eu participei e eu não pude participar do acesso, seja da maneira que fosse, ali representou para mim o fim da minha carreira, então pra gente é uma morte, é como se fosse uma faca, uma espada passando, uma dor. Nem eu imaginava que eu ia estar sofrendo até hoje dessa maneira, a cabeça.

Eu falei com amigos, ex-colegas de formas diferentes, eles aposentaram, e realmente tem muitos que sofrem e se tratam e ninguém sabe, mas ele tem esse lado depressivo, por que é um fim. Você viveu aquela vida toda e agora não pode fazer mais e é assim, você não pode acordar no outro dia e ir lá e treinar, conviver com aquele ambiente, conversar. Foi tudo muito doido por que eu queria estar lá no clube em um momento delicadíssimo por que eu imaginava que eu poderia ajudar… Como é do ser humano, e a gente tem sentimento… Mas tudo passa, tudo acaba e tem custado muito para eu entender isso, mas chegou, acho que foi bom, tenho um orgulho muito grande daquilo que eu vivi, principalmente pelos 9 anos de inter, o Marcelo Medeiros fez parte disso, que ele me trouxe para cá, enfim, respeito a cima de tudo, gratidão de mais pelo o que o clube fez, ajudou a mudar muito a minha vida, então é um amor cara.. Não acaba.

Tu já conseguiu voltar ao Beira-Rio?

Eu voltei recentemente no Beira-Rio, não conseguia voltar antes, não sei… Marcava e eu não conseguia mas aí contra a Chapecoense, foi um jogo de segunda-feira antes da Copa do Mundo, eu consegui voltar no vestiário, vi aquilo e foi uma emoção azarona assim bixo… [emocionado] e foi como se fosse quase tirar, acho que reviver que parece que você nunca fica velho, e não é nem por isso, eu teria condições mesmo, planejamento a gente tem que entender e respeitar mas você vê o pessoal ali rezando, daí você fala e pensa “Como você não está mais ali!?” É mesma coisa que eu imagino, eu não gosto de velório, eu nunca encostei a mão em um defunto, eu não consigo entender que nós estamos aqui nos comunicando, andando, pensando, tanta coisa e do nada você está ali em uma caixa onde você vai ser enterrado… Não entra dentro da minha cabeça, sabe!?

Tu mantém contato com os antigos colegas de clube?

Eu falo com os meninos, os atletas que eu joguei junto e os que eu encontro eu comento “Aproveita… Pois um dia acaba, não parece, mas um dia acaba”. Eu pensei até em ir embora de Porto Alegre por essa proximidade com o inter ser tão grande e você não poder viver isso mais, e isso também me machucava que eu não conseguia voltar ao Beira-Rio, tinha voltado já no CT ver o pessoal, e sempre é muito gostoso, parece que você adoraria estar lá de alguma maneira em algum cargo, fazendo alguma coisa, mas a gente sabe que o processo também não é bem assim.

O que podemos falar sobre a vida do Alex?

A minha sensação de vida ela realmente é muito grande, o sentimento de agradecer a Deus todos os dias por estar vivo e viver. Essa vida é maravilhosa, a gente tem muita coisa para se viver, mas é dia pós dia e você vê que as coisas passam… É um turbilhão de sentimentos dessa minha saída logo no final da minha carreira, por que eu não quis sair daqui para outros times grandes por gostar tanto do clube, da cidade, meus filhos estudando, então isso mexeu com o todo o meu projeto de vida, me chacoalhou, me pôs sim para baixo mas agora a gente tá em uma escada rolante, aquele que sobe né [risos].

Memorial

Quando fomos desafiados a entrevistas alguma personalidade que fosse envolvida com futebol pensei primeiramente no Alex, um eterno ídolo do Internacional.

Inicialmente conversarmos um pouco antes de começar a gravar a entrevista, e como sempre o Alex sempre muito querido e atencioso. As perguntas foram relacionados a sua história de vida, a morte do Fernandão e a sua saída do internacional com muita emoção do início ao fim, inclusive me emocionei, chegou uma hora em que meus olhos ficaram cheio de lágrimas. A história do Alex é fantástica e com essa entrevista quero que todos conheçam não só o jogador Alex, mas sim Alex como ser humano como qualquer outra pessoa, que tem histórias e sentimentos.

Entrevista pingue-pongue com o Alex ocorreu no Shopping Passeo na Zona Sul no dia 25 de junho de 2018 que durou aproximadamente 30 minutos. — Crédito: Douglas Fritscher

--

--

Vitória Karoline
Cidades e Esportes

Estudante de Jornalismo na UniRitter, 19 anos e gaúcha.