Driblando obstáculos para conquistar o mundo da bola

Guilherme Escouto
Cidades e Esportes
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9 min readJun 26, 2018

Vini Moraes, que está há dez anos na base do Grêmio, conta sua trajetória e sonhos para a carreira de jogador profissional

Por: Guilherme Escouto

Vini Moraes é um meio-campista que se define como um ‘’10 Clássico’’. Foto: Arquivo pessoal

Vinícius Moraes da Cunha, 19 anos, natural de Porto Alegre, era apenas um menino quando começou a se interessar pelo futebol, assim como tantos outros garotos espalhados pelo Brasil e mundo a fora. Mas Vini Moraes, como é conhecido, não ficou apenas com o sonho engavetado, ele batalhou pra isso.

Vini é um jogador que atua no meio de campo, exercendo sua função com qualidade e, há dez anos nas categorias de base do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, tem um vasto currículo para alguém da sua idade, com mais de 15 títulos conquistados, como por exemplo Copa China-América Latina, o qual, além do título, foi o vice-artilheiro da competição. Também foi campeão do Encontro de Futebol Infantil Pan-Americano (Efipan) e escolhido o Craque da Galera. E um dos títulos ganhos foi a Copa de Seleções Estaduais Sub-20, o qual foi convocado para a seleção gaúcha. Confira a entrevista com Vini Moraes.

Desde quando se interessou pelo futebol?

Desde pequeno quando ingressei na primeira escolinha, logo aos quatro anos. A partir dai surgiu o amor e a paixão pelo futebol e hoje ele se tonou meu ganha-pão.

Como surgiu a ideia de ser jogador profissional?

Isso surgiu naturalmente. Quando entrei na escolinha nasceu o amor e a paixão, e naturalmente fui pegando o gosto. Sempre na minha cabeça vinha o pensamento de ser jogador. “Eu vou ser jogador, eu vou ser jogador, eu vou ser jogador”. Também o pai e a mãe, a família, o incentivo, que é importante e acabou ficando sério.

Como foi o incentivo deles?

Foi bom. Além de ser de pai e de mãe, que é amoroso, foi um incentivo que começou a ficar sério quando fui pro Grêmio. Eu os agradeço, porque me fizeram ser o que sou hoje e eu estou muito feliz.

Jogar outro esporte nunca cogitou, ou o foco sempre foi futebol?

Não, não (risos). Sempre foi o futebol, o esporte preferido e o que eu tenho as habilidades para praticar.

Foram necessárias quantas peneiras para ingressar na base do Grêmio, ou foi de primeira?

Isso até é um fato interessante. Logo de cara, o Grêmio me viu com nove anos de idade e sem demora fui chamado para ingressar nas categorias de base e até então já faz 10 anos que estou lá dentro.

Então não precisou de peneira?

Eles me viram jogando na escolinha, a primeira que ingressei, a que sempre me mantive. Foi até um fato curioso, porque foi contra o próprio Grêmio e os avaliadores estavam lá e me chamaram.

Quais foram as dificuldades enfrentadas no início?

Foi locomoção. Era muito longe pra eu ir de Canoas ao bairro Cristal, na frente do Barra Shopping, que é onde ficam as categorias menores. Então tive que saber como ia me locomover. Também teve a questão de associar com colégio, porque o cara ainda é uma criança e tem as responsabilidades maiores, então isso foi dificultoso no começo.

Como foi lidar com os estudos e com a categoria de base?

Quando o cara começa é bem difícil associar com a escola, porque eu não conseguia me dedicar 100% a ela. Era realmente muito difícil. Mas, mesmo assim, consegui terminar o ensino médio e comecei a faculdade. E até estudei um pouco na faculdade, mas como estou totalmente focado no futebol, tive que trancar, porque não era viável pra mim. Mais para a frente penso, sim, em retomar a faculdade. Foi difícil conseguir associar a escola com o trabalho, então foi uma das dificuldades.

Tu disse que uma das tuas dificuldades era a locomoção. Nesse aspecto, o clube deu apoio, ou foi por ti e pela família?

Quando começamos a conversar com o clube sobre isso eles prontamente ajudaram! Já viram uma forma de como eu ia me locomover, o que eles poderiam ajudar e foi ai que já comecei a receber ajuda de custo, logo aos 10 anos de idade. Claro que não era um salário, mas era uma ajuda que fazia com que eu poderia ir ao Grêmio todos os dias. Não me esqueço de que também tive a sorte de ter um amigo que jogava junto, que era aqui de Canoas, e a gente rachava gasolina e isso foi bem importante. Mas, sim, o Grêmio se disponibilizou a me ajudar.

Algum empresário já tentou se aproveitar da tua pouca idade?

Todo mundo fala que no futebol isso é comum, mas pra mim nunca aconteceu. Sempre a família deu todo o suporte e nunca deixou isso acontecer. E, realmente, eu mesmo já vi alguns fatos desses ocorrer, mas comigo, não.

Por que é melhor ter um familiar como empresário?

Não digo que é melhor ter um familiar. O melhor é ter um cara que quer o melhor pra ti, que juntamente contigo vê coisas boas lá na frente. Não que está contigo só pelo dinheiro, e sim porque ele é parceiro. Porque vê que no futuro pode colher bons frutos junto contigo. Então não digo que ter um familiar é melhor, mas a ajuda da família é muito importante, assim como a do empresário.

Como tu consegue ajudar a família?

Hoje, graças a Deus, já tenho um salário fixo e consigo ajudar a família com isso, como por exemplo, pagando algumas contas e isso me deixa muito feliz e orgulhoso. Porque é o sonho de todo mundo dar uma vida melhor pra família, então essa é uma das formas que eu consigo melhor ajudá-los. E sempre falo pra eles que é só o começo, que espero transformar a vida deles junto comigo.

Tu disse que começou a ganhar ajuda de custo aos nove anos de idade e com 16 passou a ter salário fixo. E sabemos que a remuneração de futebol é diferente. Como administrar um bom salário desde cedo? Não sobe à cabeça?

Tem que ter o suporte de família e do empresário, que são peças importantes pra ti. Minha mãe me ajuda muito nessa questão, meu empresário também, como por exemplo, na hora de assinar um contrato, ganhar um salario bom e eu consigo administrar bem, ficar na conta. Não subiu pra cabeça em momento algum e me motivou a trabalhar cada vez mais.

Alguém já se aproximou de ti só por causa da base e tu sentiu que era uma falsa amizade?

Falsa amizade não senti, mas sabemos que tem gente que tenta uma aproximação porque o cara tem o status de que é jogador do Grêmio. E, sinceramente, não tem espaço. O cara sabe quando é pela ‘’trairagem’’, ‘’não é de verdade’’, e isso acaba ficando pelo caminho. Graças a Deus eu tenho meus amigos, sei com quem posso contar e falsa amizade nem dou brecha pra isso acontecer.

Como foi conciliar o falecimento do teu pai com o futebol? Foi o teu momento mais difícil?

Foi um dos momentos mais difíceis. Não digo o mais difícil, e sim um deles. A perda de um pai, todo mundo sabe que é dolorido e, pra mim, não foi diferente. Ele foi um dos que mais me motivou a jogar futebol e sempre falava que o maior sonho dele era me ver fardado, jogando, então foi bem difícil. Mas superei.

Hoje, tu joga por ele também?

Com certeza! Não só por ele, por toda minha família, mas por ele é especial. É uma das pessoas mais importantes da minha vida, né, então, com certeza, meu sonho vai ser realizado muito por ele.

Nunca pensou em desistir?

Desistir, não. Tem aqueles momentos que o cara fica triste, desmotivado, mas ai o cara tem o suporte do clube, a psicóloga, nutrição, todos os setores te auxiliam, então o clube tem dado suporte, e nesse momento o clube deu. Não tenho do que me queixar.

Já recebeu propostas de clubes nacionais e estrangeiros?

Sim, de time daqui, muitas, da Europa, só sondagens. Meu empresário recebeu, conversou comigo, mas sempre fui focado em ficar no Grêmio, até porque é o clube que me acolheu desde os nove anos de idade. Estou 10 anos dentro do clube, tenho uma identificação, então nunca pensei em sair do clube. Já tive propostas, conversei, mas não. E o clube sempre vinha, dava um suporte, conversava. Não nego que uma vez quase saí, mas não aconteceu, e estou feliz aqui e pretendo me manter.

Quer fazer história no Grêmio?

É meu sonho e da família virar jogador no Grêmio. Mas a gente não sabe, né. Se tiver que sair, voltar, não sei, mas se der, gostaria de conquistar meu espaço.

Falando da paixão pelo Grêmio, tu jogaria no maior rival, o Internacional?

Essa é uma pergunta complicada (risos). Não te respondo ela hoje porque a gente não sabe, o mundo da bola da muita volta. Hoje, meu foco está aqui. Visto a camisa do Grêmio. Então no meu maior rival deixo isso lá na frente. Futebol é muito dinâmico! Mas, hoje, visto a camisa do Grêmio e só penso no Grêmio.

Como é jogar clássico Gre-Nal desde cedo? Como é a motivação?

É uma motivação fora do normal. Gre-Nal é o maior clássico do Brasil, um dos maiores do mundo e é muito gratificante entrar nesse confronto, e participar daquela partida que para o Rio Grande do Sul, o Brasil, vira manchete. Gre-Nal muda a vida da pessoa e graças a Deus eu fui muito mais feliz do que triste em Gre-Nais (risos). Há dois anos, no sub-17, tive a felicidade de ser escolhido melhor em campo. Fiz dois gols. Apareci no Zero Hora. Foi todo um marketing e fiquei muito feliz. Meu celular não parou de vibrar o dia inteiro com tantas mensagens. É um jogo diferente.

Já teve alguma lesão?

Graças a Deus, lesões sérias, nunca tive. Já tive lesões comuns, de pouquíssima gravidade. Me previno pra não acontecer. Lá no Grêmio tem um trabalho de prevenção. Eles focam muito nisso e espero nunca ter, mas no futebol isso pode acontecer a qualquer momento.

Tu é muito visado nos jogos?

Olha, por jogar no meio campo, por armar e buscar o jogo, sou um cara que sofre bastante falta, pontapés, mas isso é do jogo. Trabalho pra realmente receber os pontapés, mas tenho que me manter forte e firme para não acontecer o pior.

Como é teu estilo de jogo?

Sou um meia que todo mundo fala que é aquele ‘’camisa 10 clássico’’. Tenho muita qualidade, habilidade, visão de jogo, então me defino assim, um meia clássico.

Tu se definiu como 10 clássico. Mas também gosta do drible, de fazer aquela jogada que ninguém espera?

Gosto. Mas se o companheiro está passando pra pifar eu pifo, mas gosto do drible. Meu estilo de drible é curto. É uma forma de eu aparecer. Não sou aquele jogador do drible longo, mas se tiver que fazer, faço. Procuro na hora da jogada individual ter o drible porque também define jogo.

Como jogador, qual teu maior sonho?

Meu maior sonho, primeiramente, é virar jogador aqui no Brasil. Se possível no Grêmio, né, e depois Europa. Jogar em alto nível é meu maior sonho. E depois seleção brasileira, que é o sonho de todo mundo, jogar uma copa do mundo. Tenho que trabalhar muito pra isso. Vai ser o fruto do meu trabalho dentro de campo.

Memorial

A ideia de fazer a entrevista com Vinicius surgiu logo no momento em que este trabalho foi lançado. Desde o primeiro semestre que ingressei na faculdade, em 2015, tentei realizar trabalhos com ele, mas sempre apareciam empecilhos, então foram passando os anos e continuei tentando, entretanto os empecilhos não desapareciam.

Finalmente consegui marcar a entrevista, mas não foi fácil. Entrei em contato com ele uma via aplicativo Whatsapp, mas não obtive resposta. Foi feito um segundo contato e nada. Então, decidi falar com a irmã dele, uma grande amiga minha, que falou com ele e, prontamente, fui respondido.

A entrevista foi marcada para o dia 21 de maio, segunda-feira, na residência onde ele mora, em Estancia Velha, Canoas. Como faço estágio no período da tarde e tenho aula de terça à sexta, esse foi o melhor dia, pois trabalhei no período da manhã até às 15h e me desloquei direto para realizar a entrevista.

Enquanto estava no caminho, ainda mesmo em Porto Alegre, perto do local do meu trabalho, ele me envia áudios se desculpando, pois surgiram imprevistos e que não poderia fazer a entrevista naquele dia. Eu disse que estava tudo bem, que acontece, mas que no máximo poderia ser na próxima segunda, 28 de maio.

Passou-se uma semana. Chegou o dia da entrevista. Fiz a mesma rotina da segunda anterior: trabalhei no horário da manhã e 15h saí para a entrevista. Cheguei em Canoas por volta de 16h, pois trabalho no Partenon e, em decorrência da greve dos caminhoneiros, os horários estavam reduzidos.

Já em Canoas, caminhei até um banco Banrisul para sacar o dinheiro para o aplicativo Uber. Esperei cerca de oito minutos e 16h30min em ponto cheguei na casa do Vinicius.

A entrevista correu bem. Por vezes ele repetiu as mesmas frases em várias perguntas, mas isso não atrapalhou em nada, consegui aproveitar bastante. Ele ficava sempre atento à duração da gravação e, acredito eu, que isso tenha sido uma barreira para ele. Creio que ele poderia falar muito mais, mas como foi dito logo acima, consegui aproveitar bastante.

Frame dos bastidores da entrevista com Vini Moraes

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