Jogador de time gaúcho é convocado para a Seleção Brasileira

Giovanna Kopczynski
Cidades e Esportes
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7 min readJul 19, 2018

Com 28 anos de treino, Éderson dos Santos Gonçalves de Barros, — o ‘Dentinho’ — é o grande destaque entre os times softbol do Rio Grande do Sul neste ano. Convocado para Seleção Brasileira de Softbol, o jogador do Farrapos beisebol Clube Porto Alegre — há mais de dez anos — é o único representante do estado na escalação.

Paranaense de Maringá, Éderson se interessou pelo beisebol aos nove anos, quando o esporte era apenas uma brincadeira entre os colegas de escola. Entre idas e vindas, mudanças de estados, alguns períodos de hiato, aos 23 anos de idade Éderson decidiu vir para Porto Alegre e aos 27 anos resolveu fazer parte do time de beisebol Porto-Alegrense. Os treinos serviam para ambos esportes, vez que o softbol é uma versão do beisebol mais leve, porém mais dinâmica, com algumas diferenças de regras.

Dos sonhos de criança até a Seleção, no auge de seus 37 anos, em meio ao campo improvisado no Parque Marinha do Brasil, ladeado por adolescentes cheios de admiração, treinava com o jovem time White Tigers quando demos inicio a nossa conversa

O atleta que atua também na posição de pitcher se prepara para lançar a bola — Crédito: Giovanna K Folchini

Quais as principais diferenças entre o beisebol e o softbol?

Éderson dos Santos Gonçalves de Barros: Olha, uma diferença razoável é o pitcher, é mais perto e o arremesso é por baixo, não que isso seja mais lento, é até mais rápido. A distância das bases é menor isso torna o jogo mais rápido, no beisebol tu tem mais tempo para eliminar o cara porque ele tem que percorrer uma distância razoável, agora no softbol não dá tempo. Então é um jogo mais rápido. Existe diferença entre as bolas que são usadas no jogo, no softbol a bola é amarela para o rebatedor conseguir enxergar melhor, já que o arremesso pode chegar a 130 km por hora, em uma distância curta de 10 a 13 metros dependendo do salto do Pitcher.

O softbol foi criado para popularizar o beisebol fora dos Estados Unidos?

Não, eu acredito que, mesmo não tendo lido muito sobre isso, que era para incluir as gurias no esporte, para ser um esporte mais light, mas não foi isso que aconteceu, até está mais forte que o próprio basebol. Lógico que não mostra tanto quanto tem a MLB, essas coisas milionárias que os caras mostram muito mais do que o softbol, que não é tão milionário assim. Mas bate perto, muitos jogadores de basebol da MLB não conseguem rebater a bola de softbol. A bola é muito rápida e perto, na hora que pessoa pula na tua frente a bola já está a dez metros e o basebol é dezoito metros. O rebatedor bom é aquele que de cinco acerta duas, se ele acertar três ele é excepcional.

Quais são as regras fundamentais do Softbol?

Basicamente são iguais as do beisebol, só muda a questão de ter que ficar em base enquanto o arremessador não soltar a bola, tu não pode tirar lead, que é se afastar de base, isso não pode. Tu tem que ficar em cima da base, no momento em que ele soltar a bola tu pode correr. Isso é uma das principais regras, porque se errar tu é eliminado.

Qual a posição que você ocupa dentro desse esporte?

Atualmente eu jogo de terceira base.

Quando foi o seu primeiro contato com o esporte?

Eu tinha nove anos, morava no Paraná e lá a colônia japonesa é muito forte, eu tinha muitos colegas que diziam “Ah vamos lá conhecer” e era pertinho de casa o campo. Geralmente se começa com o beisebol, só na América latina que existem categorias de base de softbol mesmo, ai os caras se profissionalizam e tal, mas aqui no Brasil acredito que todo mundo começa com beisebol.

Desde quando você projetava sua vida baseada nesse esporte?

Eu não projetei, simples assim. Eu fui jogando, só fui jogando. Daí eu parei um tempo, a vida me levou pra outras coisas, fui morar em São Paulo para trabalhar e tal, passei por algumas cidades do Paraná e parei.

Ai eu vim para o Rio Grande do Sul, e numa dessas entrevistas do Patrola, eu vi que os caras treinavam ali no anfiteatro pôr-do-sol, isso em 2007. Eu fui ali comecei a treinar com os caras e não parei mais, com o Clube Farrapos.

Em que momento você decidiu levar o esporte a nível profissional, como agora que você foi pré-convocado para a seleção?

É que na verdade agora eu tô convocado definitivo. Aconteceu uma série de mudanças e eles me ligaram, agora eu vou realmente para a Colômbia.

Mas a questão do profissional assim, eu nunca pensei nisso, porque sempre me diverti muito. E isso vai muito do teu treinador e da tua família, se tu é um destaque no time, tu vai para um CT, ele te levam lá. Eu com doze, treze anos não tenho nem cabeça pra isso, até por ser menor de idade, mas se o treinador e a família acompanhar, ai já é diferente. Para mim era mais a questão de ter um hobbie, porque profissional até no Brasil não existe né, tem alguns incentivos, eles dão faculdade em São Paulo, no Paraná também, mas a minha família não via isso entende? Não tinha muito envolvimento, então ficou por isso.

Você já jogou mais de um time de basebol ou softbol? Quais?

Sim, já. No Paraná, por exemplo, joguei pelo time Nova Esperança, Maringá, Paranavaí, quando vim pra cá joguei no Farrapos, no Sapucaia Crows. A gente tem um time de softbol que é o Locones, que é espalhado, tem uns caras de Porto Alegre, outros de Canoas. Joguei pelo Phoenix também e no São José, de São Paulo, alguns torneios.

Nesse momento você joga somente no Clube Farrapos?

Não, no time do Farrapos eu jogo beisebol, softbol eu jogo com o Locones e agora com a Seleção (risos)

O que te fez jogar pelo time Farrapos?

Isso foi em 2007 né, então era o único time ativo mesmo, ai teve um momento, em 2011, que eu jogava softbol em Ivoti, no Phoenix, que eu comecei a jogar basebol com os caras, até o pessoal do Farrapos ficou bravo comigo porque a gente ganhou e eu tinha dado uma entrevista antes do jogo brincando que o jogo seria vinte à cinco para nós do Phoenix, e o resultado final daquela partida foi dezenove a seis (risos).

Mas foi essa foi à única vez que fui jogar beisebol para outros TIMES aqui DO sul.

Qual a sensação de ser convocado para a Seleção Brasileira?

É muito boa, mesmo. É coisa de criança né? Tu quer entrar pra seleção. Mas depois de velho, 37 anos né. É um sonho, tu tá treinando todos os dias, sábado e domingo, o teu objetivo é esse sabe?

Qual a faixa de idade das pessoas que jogam softbol aqui no sul ou no Brasil?

Até uns 60 anos, lógico que não em certos níveis, mas jogam sim.

Existem lugares públicos em Porto Alegre que são apropriados para a prática deste esporte? Quais?

Aqui em Porto Alegre não, a gente treina aqui nesse campo do Marinha, na Redenção a gente treina bastante, mas fundamento né, não tem como rebater lá, pode acertar alguém e acabar se complicando. Aqui no sul, o único lugar é o Enkyo, que é uma chácara ali entre Cachoeirinha e Gravataí, ali sim tem campo para os jogos.

Você consegue identificar as dificuldades para quem está iniciando neste esporte?

As dificuldades são os equipamentos e lugar pra treinar né, porque aqui o equipamento vem todo de fora. Ainda bem que a gente tem bastante japonês-americanos, que vão pra lá e trazem. Se tu for comprar uma luva aqui no Brasil, por menos de quinhentos reais tu não consegue, então é difícil. A nossa sorte é que existem muitos japoneses que trazem equipamento de fora, mas pra quem tá começando isso é o mais difícil sim. Mas isso a gente dá um jeito, se tiver uma luva sobrando A gente consegue.

Existe no Brasil um lugar que você considere uma referência para a prática desse esporte?

No ano passado eu estava jogando o Campeonato Paulista de Beisebol, se tu quiseres realmente aprender basebol, é em São Paulo. Paraná também, mas São Paulo ainda é mais forte. É onde estão os caras top, que vão para a MLB, os caras que vão jogar fora do país, tudo de time de São Paulo, algum que outro que é do Paraná.

Uma dica para quem tá começando no esporte?

Olha, é só aparecer nos treinos! (risos)

Eu aconselho pra quem tá começando, a procurar o White Tigers, eles são abertos à gurizada nova, tem os meninos que tão ensinando muito bem. No nosso time no caso, que tem um pouco mais de “velhos”, alguns já não tem tanta paciência para ensinar, agora no White Tigers eu vejo que eles são bem unidos, juntam vários times. Eu até tenho que aprender com eles como fazem isso, como eles conseguem captar tanta galera. Mas para quem quiser treinar, é só aparecer para conhecer e treinar com a gente. Estamos nas quartas, quintas e sextas a partir das 18h30 na Redenção, e nos domingos treinamos aqui no Parque Marinha do Brasil, às 9h.

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