O trem nosso de cada dia

Lucas Eliel Gonçalves
Cidades e Esportes
Published in
6 min readJun 25, 2018
Trensurb transporta em média 185 mil pessoas diariamente de Porto Alegre a Novo Hamburgo — Crédito: Aldrey Dorneles

Trens chegam nas estações a cada três minutos e transportam mais de mil pessoas por composição entre Porto Alegre e cinco cidades da Região Metropolitana: Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo e Novo Hamburgo. Conheça nesta reportagem a facilidade de locomoção dos usuários, os benefícios para o meio ambiente fornecidos pelo trem e suas dificuldades de operação.

Por Aldrey Dorneles, Lucas Eliel Gonçalves e Natália Supp

“Eu pego às 7 horas da manhã quando o trem vem superlotado”, relata Karen Silva, 26 anos, que utiliza o meio de transporte todos os dias para ir de São Leopoldo a Porto Alegre. Ao todo, segundo ela, são trinta minutos de viagem.

Esta é a realidade de quem utiliza modal na região metropolitana, bater de frente com o transporte lotado. Entretanto, para a usuária Karen Silva, esse não é o maior problema do trem: “A superlotação não tem como resolver devido aos horários já serem bem próximos, chega a ter horário de três em três minutos e mesmo assim tem uma quantidade muito grande de pessoas, o que acho mais problemático é o valor hoje cobrado pela passagem”.

Como muitos outros moradores da região de Novo Hamburgo até Porto Alegre, Karen Silva prefere o trem por questão de tempo, já que a logística para a locomoção nos ônibus na mesma direção costuma ser mais demorada. “No ônibus da Central a gente vem mais confortável só que o tempo é mais demorado. Pegando ele, demoraria mais de 70 minutos para chegar no meu serviço”, afirma.

Em 2017, a Trensurb transportou mais de 55 milhões usuários, que assim como Karen Silva optam por um transporte mais rápido. A média de passageiros transportados por dia útil (de segunda sexta) no mesmo período foi de 185 mil usuários. O trem atende Porto Alegre e mais cinco cidades da Região Metropolitana: Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo e Novo Hamburgo.

O meio de transporte também é um dos modais mais sustentáveis dentro de Porto Alegre, por funcionar com eletricidade, ou seja, ele acaba por não emitir gases poluentes. A coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Cláudia Ramos Rhodem, destaca a importância ecológica do transporte. “O meio ambiente possui grandes benefícios porque ele transporta um número grande de pessoas ao longo do dia e gera poucos poluentes”, afirma.

Para Frank Ferreira, responsável pelo planejamento e projetos de mobilidade urbana da Trensurb, o transporte é essencial para os moradores da região metropolitana. “O trem é um transporte de alta capacidade e isso contribui muito para região metropolitana, pois em uma viagem, o trem comporta mais ou menos mil pessoas”, conta.

Ele lista como contribuição para os usuários o preço ainda mais acessível em relação a outros meios de transporte. “O trem é um transporte barato também, porque apesar de ter aumentado o preço da passagem, ainda assim é um preço mais baixo do que costuma ser cobrado pelos ônibus”, afirma.

Para Eduardo Audibert, sociólogo e consultor na área do meio ambiente, a Trensurb é sinônimo de grande valia econômica. Se hoje esse meio de transporte viesse a entrar em greve ou fechasse, isso poderia gerar uma crise econômica na região metropolitana. “Imagina retirar o metrô, provavelmente, haveria um colapso econômico na estrutura metropolitana, porque a população que está fora de Porto Alegre não teria acesso aos seus empregos”, avalia.

O sociólogo diz ainda que não seria viável o deslocamento de ônibus ou carros, devido ao número de pessoas que são transportadas diariamente: “Isso dividido em uma taxa de 50 pessoas por ônibus ou quatro por carro, duas por carro. Seria um verdadeiro colapso. Quando ocorre as greves, a mobilidade já fica dificultosa”.

O especialista em transportes Luiz Afonso dos Santos Senna reforça sobre a questão do valor da passagem. Em janeiro deste ano, o valor passou a ser 94% maior, porém ainda fica abaixo do valor do ônibus, que facilmente passa de R$ 3,30. O ônibus da Linha Central é a outra opção da região metropolitana. Ao calcular a diferença entre os dois meios de transporte, pode-se ver que a diferença é pouca, mas ainda sim ao longo do mês o trem é mais acessível que o ônibus.

Na edição de 24 de maio do jornal Zero Hora, o Grupo de Investigação (GDI) levou a público o escândalo que ocorreu na Trensurb. Quinze veículos que entraram em operação no ano de 2014 nunca funcionaram juntos. Sempre ocorre algum problema, o principal deles é a infiltração de água nas rodas. Além disso o GDI apontou que os responsáveis pela compra dos trens estão envolvidos na Opração Lava-Jato.

Mesmo com dificuldade e limitações, o meio de transporte ainda é uma opção mais viável que o ônibus para quem se desloca entre Porto Alegre e a região metropolitana.

Trensurb e os trens que não funcionam

Trens antigos seguem funcionando no trecho Novo Hamburgo-Porto Alegre — Crédito: Aldrey Dorneles

Karen Silva, entrevistada do começo da reportagem, faz parte da grande maioria de usuários que preferem o trem antigo. Deixa isso bem claro ao se aproximar do microfone para dizer: ”Tá cheio, mas graças a Deus é o trem velho porque ele tem mais espaço e dá pra gente ficar mais tranquila”.

Em nota para a reportagem, a assessoria de imprensa da estatal afirma que veículos passam por processo de recall. A empresa destaca que sua única função é exigir o cumprimento do contrato.

Íntegra da nota

A Trensurb informa que os trens série 200, adquiridos do Consórcio FrotaPoa (formado por Alstom e CAF), passam por processo de recall que visa corrigir problemas recorrentes de infiltração nas caixas de rolamentos, que impossibilitam a circulação dos veículos. Esse processo e a entrega de todo os trens conforme as especificações contratuais e em condições de operação é de inteira responsabilidade do consórcio fornecedor. À Trensurb cabe apenas exigir o cumprimento das obrigações contratuais, aplicar multas e cobrar os prejuízos inerentes ao não funcionamento regular dos trens série 200. No momento, seis veículos que passaram pelo processo estão liberados para operação.

Atenciosamente,

Kauê P. Menezes

Menos carros na rua, menos poluição do ar

Os trens da Trensurb não fazem queima de gasolina para se locomover, eles são abastecidos por uma estação de energia elétrica de tração. A distribuição da energia é feita ao longo de toda a via metroviária, por condutores elétricos aéreos para alimentar os motores elétricos dos trens.

Para Frank Ferreira, responsável pelos Planejamento e Projetos de Mobilidade Urbana da Trensurb, aponta como o meio é uma saída para evitar a emissão de gases: “Com o trem muita gente deixa de usar o carro, deixa de emitir poluentes, então é uma questão que o trem é bom no impacto ambiental”.

A estatal conta com cinco subestações de alimentação elétrica com potência total de cinquenta megavolt, essas sendo também responsáveis por alimentar os diversos equipamentos distribuídos pela via metroviária.

Para a Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Cláudia Ramos Rhodem, o trem é fundamental para o meio ambiente. “O trem a gente sabe que a fonte dele é elétrica. Então, nós não temos emissão de poluentes. São grandes benefícios porque se transporta um número grande de pessoas ao longo do dia, gerando poucos poluentes. Ele impacta não só na emissão de poluentes mas também pela agilidade que as pessoas acabam circulando, diminuindo o estresse”, diz.

Ônibus x Trem: e a diferença de preço

O antigo valor da passagem — R$ 1,75 — era o grande diferencial do trem, mas mesmo com o aumento, ele pesa menos no bolso do usuário no fim do mês. Calculando o custo mensal de cada um dos meios de transportes, a diferença, por exemplo, entre Sapucaia do ônibus e do trem é R$ 56, como mostra o gráfico abaixo.

Um valor que não parece expressivo, mas faz a diferença no final do mês, especialmente para a classe média-baixa que necessita sair da região metropolitana e ir a Porto Alegre. Para ilustrar essa diferença levantamos a questão, “ o que se pode comprar com essa diferença de custos?”

Foto: Aldrey Dorneles

Com a diferença entre os custos de deslocamento dos meios de transportes, compras básicas como leite, arroz, feijão, frango e pão podem ser feitas. Tornando o trem uma opção mais em conta que o ônibus, além de garantir um deslocamento mais rápido ao usuário.

Reportagem produzida na disciplina Gestão da Informação: Cidades e Esportes do curso de Jornalismo do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter) campus Fapa. Supervisão: Prof. Roberto Villar Belmonte.

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