Uma vida a partir do tênis

Fabíola Barcelos
Cidades e Esportes
Published in
5 min readJun 12, 2018
Jaleska Mendes já foi aluna do WimBelemDon. Hoje ela faz parte do corpo de professores de tênis do projeto. — Crédito: Divulgação/WimBelemDon

Por Fabíola Barcelos

O WimBelemDon é um projeto social que dá aulas de tênis para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social do bairro Belém Novo e arredores, na Zona Sul de Porto Alegre. Atualmente, atende aproximadamente 20 alunos. É também um tipo de reforço em disciplinas escolares como português e matemática. O projeto, fundado no ano 2005, é mantido única e exclusivamente por meio de doações de comércios do bairro, como a loja de materiais de construção Madeben e outros grandes parceiros como a Braskem.

Jaleska Mendes, de 22 anos, é moradora do bairro Belém Novo desde criança e participa do projeto desde que iniciou. Além de estudante do curso de Educação Física da Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (Sogipa), ela é uma das instrutoras de tênis no WimBelemDon. Confira nesta entrevista como Jaleska vê o esporte e de que maneira isso influencia na vida dos jovens que fazem parte do WimBelemDon.

Como começou a sua história no tênis?

Eu conheci o tênis através do projeto. Eu nem sabia que existia o esporte e foi onde desenvolvi toda a minha carreira. O tênis me abriu muitas portas, muitas oportunidades.

Com quantos anos isso aconteceu?

Eu comecei com 9 anos.

Como você descobriu o projeto?

O projeto foi uma novidade no bairro. Na época, eles foram nas escolas e entregaram as autorizações pra gente. No primeiro ano eu nem curti muito a ideia. Aí meu irmão entrou e começou a fazer e foi o que me chamou atenção aí comecei a participar um ano depois.

Você já participou de campeonatos, certo? Já viajou para quais lugares para jogar?

Eu joguei dos 12 aos 18 anos. Não profissionalmente. Era algo mais amador. Eu joguei alguns torneios importantes e fui para vários lugares fora do estado, estaduais, regionais. Joguei em Brasília, em São Paulo, em várias cidades aqui do estado, Caxias, Passo Fundo…

Esses campeonatos eram somente entre projetos sociais ou também tinham escolas particulares?

Não. Era de escolas de todo o estado, inclusive particulares.

Você sofreu ou já viu alguém passar por esse tipo de situação por fazer parte um projeto social?

Eu, particularmente, nunca passei por isso até porque o WimBelemDon é muito respeitado nos lugares. Eu nunca passei por isso e nem presenciei essa situação com alguma outra pessoa daqui. Nunca fui descriminada por isso.

Desses campeonatos que você já participou, qual foi o mais importante? Venceu algum?

Aqui no estado eu joguei bastante, venci alguns torneios que são bem importantes. Joguei a Gerdau que é um torneio internacional muito importante e que foi onde eu encerrei o ciclo de competições, que foi com 18 anos. Não ganhei, mas cheguei em uma fase bem legal. Pra mim foi gratificante.

Como você acha que teria sido a sua vida até o momento sem o tênis?

Nem consigo imaginar. Como eu comecei muito pequena, a minha vida toda e tudo o que eu fiz sempre foi relacionado ao esporte. Tudo o que eu penso em fazer a partir daqui é relacionado ao esporte.

Você tem ainda alguma pretensão no esporte, como por exemplo jogar profissionalmente?

Tudo o que eu imagino para a minha vida sempre é ligado ao tênis. Agora não penso nessa questão de jogar profissionalmente, quero seguir jogando mas mais na parte de trabalhar com o tênis, seguir dando aula. Eu também trabalho com arbitragem do tênis.

Como é dar aula no WimBelemDon?

Ah, é muito bom! Como eu comecei aqui ainda pequena, agora eu tô no inverso, agora eu sou a professora. É muito gratificante. Tu consegue ver o outro lado. Acho que fica mais fácil quando se trabalha assim.

O que você acha que projetos sociais como o WimBelemDon proporcionam, além do esporte, para as crianças e jovens?

O tênis em si, ele ensina muito. Não fica só no esporte. É muito a realidade da vida. Por exemplo, se em um jogo o teu placar está atrás, tu tem que correr atrás sempre e enfrentar as barreiras. Na vida é assim, sempre correndo atrás.

Na sua opinião qual a importância do esporte na vida de uma criança?

O esporte traz muitos benefícios. Eu sou uma incentivadora total ainda mais na geração que estamos de celulares, computadores e videogames. O esporte é onde tu vai fazer amizades fora de um celular. Por exemplo, jogando futebol tu tem milhares de amigos. O tênis é um esporte mais individual mas mesmo assim se faz muitas amizades também.

Você pratica ou praticaria outro esporte além do tênis?

Não sei… Eu me identifico bastante com o vôlei e o basquete. Acho que por questão da faculdade, de haverem essas oportunidades de lidar com outros esportes. Também curto muito atletismo, é muito legal.

Em algum momento você pensou “não é isso o que eu quero” em relação ao tênis?

Não. Eu me apaixonei pelo tênis. Ele ficou tão interligado com a minha vida que eu nunca pensei em não querer mais isso. Chegou o momento da questão da competição, dessa transição de não querer seguir profissionalmente mas de utilizar o tênis como uma maneira de abrir outras portas como seguir dando aula, trabalhar na arbitragem do tênis…

Jaleska Mendes competiu em torneios de tênis entre os 12 e 18 anos. — Crédito: Arquivo pessoal
A entrevista foi realizada no dia 21 de maio de 2018 no WimBelemDon.

Memorial descritivo

Sempre soube da existência do WimBelemDon, já que muitos alunos de lá estudavam na mesma escola onde cursei o ensino médio, inclusive a fonte. Ainda assim, não sabia exatamente como funcionava, apenas que dava aulas gratuitas de tênis.

Nunca fui próxima da Jaleska, a conhecia apenas de vista. Quando proposto o trabalho “Pingue-pongue com Atleta” de cara pensei nela. Sempre a vi como uma pessoa simpática e acessível. Também pensei que seria uma boa oportunidade de entender como funcionava o projeto.

Fiz contato pelo facebook cerca de um mês antes da entrevista. Como já havia imaginado ela se mostrou super aberta e a disposição para a entrevista desde o início. Ao fazer esse primeiro contato descobri que ela não joga mais em torneios e que atualmente dá aulas de tênis no projeto e faz arbitragem.

Fui até o WimBelemDon para realizar a entrevista no dia 21 de maio. As aulas não estavam acontecendo pois o local estava interditado e em obras em função de um incêndio que havia acontecido algumas semanas antes. Nada grave. Conversando com a Jaleska descobri que o WimBelemDon não é apenas um projeto social, é mais. Além do esporte, proporciona cultura e a possibilidade de abertura de várias portas para crianças e jovens em vulnerabilidade social.

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Fabíola Barcelos
Cidades e Esportes

21 anos, estudante de Jornalismo da UniRitter. Porto Alegre, RS