Lugar de conflito é na rua

Natália Fontes Garcia
Cidades para Pessoas
2 min readMar 20, 2016
duas versões de uma mesma avenida

Peço licença nessa atmosfera tão raivosa e ressentida, que por vezes também me abala, para elogiar o conflito, as vozes discordantes, as perspectivas distintas, os pontos de vista. Não quero somar mais uma opinião a essa nuvem de vozes, apenas reconhecer o valor de duas versões ideológicas poderem ocupar a mesma avenida em um período de uma semana.

Rua é isso: lugar de opiniões diversas. Ou, nas palavras do urbanista tático Jean-François Prost, o espaço público é a dimensão da criação humana.

Espaço público ainda é um conceito em construção no Brasil. Como é também recente nossa condição urbana — éramos um um país rural há tão pouco tempo que nosso ministério administrativo ainda se chama Fazenda. Mas começa a se consolidar cada vez mais nas cidades brasileiras o valor de lugares públicos que sirvam não só à passagem mas também à permanência de pessoas. O valor da diversidade, do acaso e da descoberta, elementos comuns ao espaço público e tão caros a um país que carece de inovação como o nosso.

É por isso que ressalto o valor das passeatas conflitantes entre si que ocuparam a avenida Paulista, em São Paulo, e tantos outros espaços de cidades brasileiras, no último domingo e na última sexta-feira. Em um mundo ideal, as pessoas dos dois lados conviveriam sem quererem se matar. Em um mundo ditatorial, apenas uma versão teria lugar. Nem lá nem cá, pergunto-me em que direção nos movemos. Como prefiro a primeira opção, honro o conflito e respeito as opiniões que divergem da minha.

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