O que realmente importa na eleição do próximo prefeito de São Paulo

Ano que vem os paulistanos escolherão quem será seu próximo prefeito. Não há dúvidas de que essa é uma decisão determinante para o futuro da cidade. Mas mais importante do que definir nosso próximo gestor público é garantir que os avanços vividos recentemente na cidade não se percam.

Há alguns anos, a sociedade civil organizada de São Paulo vem desenvolvendo ações e protótipos, sistematizando conhecimento e construindo o imaginário do que seria uma São Paulo mais humana, mais justa, mais aberta, mais saudável, mais participativa e mais sustentável.

As ruas da cidade foram tomadas por movimentos que promovem o cuidado das praças pelos próprios vizinhos, coletivos que buscam resignificar a relação com as águas urbanas e tornar visiveis os rios e nascentes escondidos embaixo do asfalto, organizações que querem contribuir com uma cidade segura e acessivel para os pedestres e ciclistas

Também existem os grupos de cidadãos que se reunem nas diversas regiões da cidade para plantar alimentos, temperos e árvores para aumentar os espaços verdes e de lazer, e promover a transição para uma cidade cada vez mais autonoma na produção de alimentos. Organizações que vêm pressionado para aumentar o índice de reciclagem e de compostagem na cidade.

Em relação à transparência e participação cidadã, são muitos os grupos e organizações que vêm procurando aumentar o número de dados públicos disponiveis em formatos abertos e que vêm pressionando para ampliar e qualificar os espaços de participação existentes na cidade, assim como construir a possibilidade de votar pelo subprefeito e diversos assuntos por plebiscitos e referendos.

Felizmente, a Prefeitura deu sinais de estar acompanhando esse movimento da sociedade civil e de estar usando essas idéias como inspiração no planejamento urbano e nas decisões estratégicas da metrópole. Na última gestão, a lógica da divisão e uso do espaço público mudou, a exemplo das ciclovias, parklets e corredores de ônibus.

A principal chave desta virada foi uma mudança de olhar. São Paulo decidiu colocar as pessoas no centro do planejamento urbano. A cidade entendeu que, mais importante do que continuar construindo hardware, é hora de desenvolver softwares que ajudem a melhorar a qualidade de vida de cada paulistano, começando pelos mais vulneráveis.

Nesse intenso processo de transformação cultural e de estilo de vida numa cidade de mais de 11 milhões de habitantes, certamente se cometem erros, mas os avanços na direção da cidade que sonhamos têm sido expressivos e muito valiosos

Esse protótipo de uma São Paulo para pessoas não pode se perder. Defendemos isso como uma causa política e pública, não como uma bandeira partidária. Não falamos em defesa de nenhum partido, mas dos progressos alcançados em direção à humanização urbana. A cidade que tem 60% dos seus habitantes sofrendo de alguma doença psíquica parece estar em busca de uma cura, de uma vida melhor. Diversas mudanças recentes na lógica de São Paulo parecem priorizar a vida na cidade, da diminuição da velocidade à diversidade de usos da rua.

Acreditamos que esse protótipo precisa ser aprimorado, ajustado, melhorado. Precisa ganhar escala sem perder a complexidade. Precisa ser acessível para a diversidade — mais do que isso, priorizá-la como o valor máximo de uma cidade. E, mais do que tudo, precisa continuar a ser das pessoas para as pessoas.

Acreditamos que esse processo só terá continuidade se os avanços mensuráveis forem percebidos como uma conquista da cidade. O poder público tem sido um ator importante do processo, mas a sociedade civil tem vivido cada vez mais situações como protagonista.

Nas próximas eleições, o debate eleitoral será encima de propostas, programas e metas que estejam alinhados com esta visão e imaginário de cidade. Mais importante do que o resultado das urnas é como ele vai reverberar nas ruas. Não aceitaremos, de forma alguma, um retrocesso.

– Escrito por Ariel Kogan e Natália Garcia.