Projetos Inspiradores de pessoas para cidades, viabilizados por financiamento coletivo

Natália Fontes Garcia
Cidades para Pessoas
6 min readNov 27, 2015

Iniciativas brasileiras, feitas por pessoas (ou pequenos coletivos), viabilizadas por crowdfunding, que melhoraram espaços públicos e ensinam algo sobre a vida urbana.

ilustração: Juliana Russo

Conheça abaixo a seleção dos projetos que mais nos inspiram. E, se você tem vontade de realizar seu próprio projeto, acesse nosso Manual Afetivo de Crowdfunding para Cidades.

Alessandro Marconi é orquidófilo e Carolina Sbrana Sciotti é produtora. Há algum tempo, ele descobriu em seus estudos uma espécie nativa de orquídea que já povoou as margens do rio Pinheiros, a Cattleya Loddigesii.Desde que se casou com Alê, Carol começou a tecer com ele o sonho de devolver essa orquídea para a beira do rio. Daí nasceu a ideia de plantar mil mudas nos resquícios de mata ciliar do Tietê e do Pinheiros. Eles passaram algum tempo negociando com a CPTM e o Governo do Estado a permissão para o plantio até serem atendidos. “Hoje muitos dos funcionários vibram conosco a orquídea uma que pega”, conta Carol. Muitas das mil mudas pegaram. “Já pudemos até ver o agente polinizador [abelhas e pássaros] agindo e acreditamos que essas orquídeas podem se espalhar”, diz Alê. O Mil Orquídeas Marginais continua fazendo oficinas e encontros de plantio na beira dos rios.

Thiago Mundano é um artista plástico que sempre teve uma relação especial com a cidade. Em suas andanças pela rua conheceu o movimento dos catadores de recicláveis e criou o conceito de “pimpar as carroças” — pintá-las e instalar equipamentos para que transitem com mais segurança pelas ruas. Mundano passou cinco anos pintando mais de 100 carroças. Com toda essa experiência acumulada, em 2012 ele submeteu ao Catarse o Pimp my Carroça, campanha que tinha como entrega um evento em que vários grafiteiros pintariam e reformariam uma porção de carroças. A meta de R$ 38 mil foi mais do que batida: ao final o projeto levou quase R$ 64 mil. E sua exposição levantou a bandeira de trazer visibilidade para os catadores nas ruas das cidades. Com o tempo, Mundano desenvolveu o Pimpex, um kit com tintas e equipamentos de segurança como retrovisores, faixas reflexivas, cordas e luvas, que pode ser adquirido por qualquer pessoa em uma campanha de financiamento coletivo de R$ 500. A iniciativa de padronizar a campanha para que possa ser replicada deu autonomia para que mais artistas do Brasil possam pimpar a carroça do catador mais próximo. Hoje o projeto organiza diversas ações pelo Brasil dentro dessa causa.

O casal de arquitetos Dimitre Gallego e Luciana Antunes se apaixonou pelas mesas de pingue pongue que viram nas ruas de Barcelona. Tanto que passaram alguns meses tentando em criar um modelo para São Paulo. Trabalharam em alguns protótipos até chegar à melhor combinação entre qualidade, durabilidade e baixa manutenção. Daí submeteram uma campanha no Catarse, em dezembro de 2014, para construir essa mesa no Largo da Batata. Ao mesmo tempo, foram convidados pelo projeto da prefeitura de São Paulo Centro Aberto para instalar outra mesa no Largo São Francisco — o que deu mais força para sua campanha, que acabou sendo bem sucedida. Com o dinheiro na mão, precisaram pedir autorização na subprefeitura de Pinheiros para instalar a mesa PingPoint. “Passamos por diversas reuniões, foi bem complicado, mas no final conseguimos um Termo de Doação”, conta Dimitre. Esse termo significa que eles doaram o mobiliário para a gestão da cidade, que se responsabiliza por sua manutenção (veja mais sobre a interface com o poder público abaixo). Um ponto que merece atenção são as recompensas da campanha: raquetes e bolinhas para o jogo.

A primeira coisa que impressiona no Play na Rua é a simplicidade da campanha. Com uma meta de apenas R$ 100, o projeto das publicitárias Carol Romano e Carla Mayumi foi transformar uma rua em via de lazer no bairro de Pinheiros, zona Oeste de São Paulo, durante um domingo. O evento tinha uma série de ações orçadas, mas a ideia era reforçar que com apenas R$ 100 já era possível reunir adultos e crianças para brincar na rua — o que entrasse a mais comporia a meta estendida. O Play na Rua já teve duas edições, em 2014 e 2015, sempre perto do dia das crianças. Para conseguir ocupar a rua, Carol e Carla conseguiram autorização da CET (Companhia de Engenharia de Trânsito) de fechamento da via para lazer (mais sobre interface com poder público abaixo).

O grupo de ativistas Shoot the Shit ficou conhecido em Porto Alegre pela habilidade de fazer barulho com ações criativas em torno de causas que promovam a qualidade de vida na cidade. Para trazer atenção à necessidade de tapar os buracos das ruas, por exemplo, eles organizaram um jogo de golfe em Porto Alegre tentando acertar esses buracos. A iniciativa atraiu a atenção da mídia e o asfalto foi recapeado pela prefeitura. Em fevereiro de 2012 eles criaram um projeto para melhorar a informação disponível nos pontos de ônibus. Criaram um adesivo que trazia o nome do projeto, “Que Ônibus Passa Aqui?“, e um espaço para ser preenchido pelo usuário de transporte público. Viabilizaram o projeto por financiamento coletivo e arrecadaram quase R$ 2 mil — a recompensa mais adquirida foram os próprios adesivos do projeto. A ação deu certo parcialmente: em pouco tempo os adesivos eram arrancados dos pontos. Daí eles criaram uma segunda campanha, em que os apoiadores adotariam um ponto e receberiam 10 adesivos em vez de apenas um, para cuidar da manutenção do projeto. Em um primeiro momento, a EPTC (Empresa Pública de Transportes e Circulação) foi contra. Depois tentaram implementar o projeto como política pública, mas acabaram abandonando a ideia. Ainda assim, o legado do projeto foi trazer visibilidade para esse problema.

Cidade Azul foi um projeto desenvolvido na Mesa & Cadeira — uma metodologia de aprendizagem pelo trabalho que reúne profissionais talentosos em torno de um desafio. Dentre os escolhidos para compor a mesa estão José Bueno e Luiz de Campos, do Rios e Ruas, Carol Ferrés, do Viva Rio Pinheiros e Denis Russo, diretor de redação da Superinteressante. O desafio do time era criar uma plataforma onde as pessoas pudessem descobrir os rios canalizados (portanto, invisíveis) de São Paulo e quisessem espalhar essa descoberta. A plataforma criada é um audio-guia, que cria uma experiência de navegação e percepção desses cursos d’água invisíveis. Em sua campanha do Catarse, a meta era viabilizar a produção da segunda edição desse audio-guia, com uma missão agora de transformar os rios no coração das cidades.

Tiquatira em Construção foi o Trabalho de Conclusão de Curso das arquitetas Andrea Helou e Julieta Fialho pela Escola da Cidade. Em outubro de 2012 elas arrecadaram perto de R$ 17 mil para a construção de janelas, bancos, armários e latões de lixo no muro do córrego linear Tiquatira, na zona Leste de São Paulo. Um dos pontos fortes do projeto é o registro da intervenção em vídeo após a campanha.

Acesse a versão completa do Manual Afetivo de Crowdfunding para Cidades

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