Carros Autônomos: da ficção a realidade

e suas aplicações tecnológicas e éticas

Suzana Mota
Ciência Descomplicada
5 min readOct 17, 2017

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Somos péssimos motoristas. É difícil, eu sei, mas precisamos admitir nossas fraquezas. Nós perdemos a atenção facilmente, sempre viramos animais raivosos quando estamos atrás de um volante e nem sequer resistimos a ficar 5 minutos sem usar o celular. É simplesmente um desastre total.

Só no Brasil, são 47 mil mortes no trânsito por ano e cerca de 400 mil pessoas ficam com alguma sequela após acidentes.

Os carros autônomos prometem trazer uma nova revolução e estão cada vez mais perto de sair dos ambientes de pesquisa e estarem prontinhos nas concessionárias. Porém, para que possam reduzir acidentes e eliminar as falhas humanas, será necessário ganhar escala e ser a maioria nas ruas.

Para os apressadinhos que não querem esperar pelo futuro, já existem alguns carros capazes de fazer de forma autônoma algumas funções básicas. São os chamados “semiautônomos”. Para eles, acelerar, frear, manter distância segura para o veículo a frente, ficar dentro da faixa e fazer certas curvas, já é realidade.

É importante lembrar que ainda não temos nenhum carro 100% autônomo no mercado. Empresas como o Google já testam o carro 100% autônomo nas ruas dos Estados Unidos, mas não sem um motorista “a postos”, para tomar o controle em casos de emergência: esta ainda é uma exigência da legislação que liberam testes nas vias públicas. A velocidade também é limitada.

Mas como os carros autônomos funcionam?

Basicamente estes carros são dotados de três elementos: sensores, atuadores e processadores. Os sensores são tudo aquilo que permitem que o carro “veja” o mundo a sua volta, como: sensores de distância, GPS e câmeras. Os atuadores correspondem aos itens que interagem com o ambiente fisicamente e permitem que o carro acelere, faça curvas ou freie com segurança. E os processadores, são cérebro do carro e analisam as informações dadas pelos sensores e tomam alguma decisão enviando comandos para os atuadores.

Sensores, atuadores e processadores, trabalhando juntos

Se um pedestre atravessa o caminho do carro, os sensores identificam e passam essa informação para o processador. O processador analisa se existe algum outro carro em sua traseira, por exemplo e só após se certificar disso, envia para o atuador, o comando de freiar suavemente o carro, evitando assim, um grave acidente.

Novos mercados

Para dirigir bem, os carros autônomos precisam de mapas muito mais detalhados que aqueles disponíveis no Google Maps ou Waze. Eles precisam obter de forma detalhada a localização de semáforos, sinais de trânsito e tráfego de pedestres, tudo em 3D. Para isso, novas empresas estão surgindo disponibilizando dispositivos que façam esse mapeamento. A Mapper é uma destas empresas, que pretende coletar dados que irão acumular um enorme “mapa base” para carros autônomos.

Agora imagine, quanto tempo vamos precisar para remapear cada rua e cada rodovia. Não parece um trabalho fácil, não é?

Em breve milhares de pessoas podem colaborar com este grande projeto e ainda ter algum tipo de remuneração. Aparelhos como o desenvolvido pela Mapper podem ser instalados em carros de colaboradores, que só necessitam dirigir para realizar o remapeamento.

Dispositivo de mapeamento

Se tivermos os olhos vendados e caíssemos em um novo lugar, nos encontraremos, pois temos milhões de anos de bom senso para ajudar a orientar a nossa consciência”, diz Nikhil Naikal, CEO da Mapper. “Uma máquina, por outro lado, precisa de uma grande quantidade de dados de mapas 3D atualizados para ter previsões sobre o que esperar ao virar a próxima esquina. E esse é exatamente o tipo de mapas que entregamos.

Olha mãe, sem as mãos!

Audi, BMW, Ford, GM, Renault, Nissan, Honda, Toyota e Mercedez já estão numa corrida contra o tempo no desenvolvimento de seus próprios projetos de carros autônomos.

OS EUA já estão alterando sua legislação para facilitar e permitir a entrada dos carros 100% autônomos no mercado e sem a necessidade de um motorista de prontidão. As montadoras e empresas de tecnologia acreditam que há boas chances que o Congresso aprove esta legislação até o final do ano.

A perspectiva é que até 2020 já poderemos atravessar a rua e encontrar um carro sem motorista. Eu, como péssima motorista que sou, mal vejo a hora de ter meu próprio motorista robô.

Questões Éticas

E não só de diminuições de acidentes e mapas 3D vivem os carro autônomos. Eles também têm que serem dotados de ética. Como o carro deve ser programado pra agir em caso de um acidente inevitável?

Ele deve minimizar o número de vítimas fatais, mesmo que isso signifique sacrificar os ocupantes do carro? Ou deve proteger motorista e passageiros a todo custo? Ou até talvez escolher aleatoriamente entre os dois casos? Decidir entre a vida e a morte de alguém no palitinho? São questões realmente difíceis de serem respondidas.

O escritor de ficção, Isaac Asimov já havia pensado nestas questões e definido as 3 leis da Robótica, um conjunto de regras éticas para robôs, ainda na década de 50.

1) Um robô não pode ferir um humano ou permitir que um humano sofra algum mal.

2) Os robôs devem obedecer às ordens dos humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a primeira lei.

3) Um robô deve proteger sua própria existência, desde que não entre em conflito com as leis anteriores.

As regras visam à paz entre os robôs e os seres biológicos, impedindo rebeliões. Tanto que estas diretrizes são até hoje respeitadas pelos pesquisadores. Entretanto, não são capazes de resolver todas as questões.

A resposta para tantas perguntas éticas podem impactar diretamente na maneira como carros autônomos serão aceitos em nossa sociedade. Afinal, quem iria comprar um carro programado para sacrificar o próprio dono?

Como quase tudo na ciência, novas respostas geram novas perguntas e agora os pesquisadores também estão trabalhando com outros modelos hipotéticos.

Se um fabricante oferecer diferentes versões de seu algoritmo de tomada de decisões morais, e um comprador escolher conscientemente um deles, seria o comprador, o responsável por eventuais acidentes e suas consequências?

E você? Acha que estamos prontos para conviver com máquinas no trânsito? As inovações trazidas pelos carros autônomos, vão ser capazes de melhorar e revolucionar os transportes? E o que deve predominar, o interesse próprio ou o bem comum?

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