Cientistas que você deveria conhecer — Edwin Hubble

atleta, patriota, marrento e um dos mais importantes astrônomos

Andre Mazzetto
Ciência Descomplicada
6 min readJul 23, 2017

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Edwin Powell Hubble (20/11/1889–28/09/1953) foi “o” astrônomo americano. Ele desempenhou um papel crucial no estabelecimento de campos de astronomia e cosmologia e é considerado um dos mais importantes astrônomos de todos os tempos.

O atleta e homem de família

Quando mais jovem se destacava mais por sua habilidade atlética do que intelectuais. Edwin era um atleta talentoso jogando beisebol, futebol (americano) e basquete. Hubble até liderou a equipe de basquete da Universidade de Chicago para o primeiro título na conferência de 1907. Além dos esportes em grupos, ele também se destacava individualmente. Em uma única Olimpíada Escolar em 1906 venceu as provas de salto com vara, lançamento de peso, lançamento de disco, arremesso de martelo, salto em altura parado e salto em altura correndo e fez parte do time vencedor da corrida de revezamento.

Hubble também era um filho obediente. Apesar de seu intenso interesse em Astronomia desde a infância, concordou com o pedido de seu pai para estudar direito, primeiro na Universidade de Chicago e mais tarde em Oxford. Era vaidoso, egocêntrico e dado a exageros sobre a própria pessoa e supostos atos de bravura e coragem. Após a morte de seu pai em 1913, Edwin retornou aos EUA usando capa, fumando cachimbo e simulando um sotaque que não era britânico e que o acompanhou pelo resto da vida. Apesar de seus defeitos, estamos falando do cientista que fez Albert Einstein reconhecer o maior erro da sua vida.

O herói de guerras

Hubble serviu na Primeira Guerra Mundial, quando se ofereceu para o Exército dos Estados Unidos e foi designado para a 86ª Divisão, onde serviu no 2º Batalhão, 343 Regimento de Infantaria. Ele subiu ao cargo de tenente-coronel, mas a 86ª Divisão nunca viu o campo de combate.

Hubble também trabalhou como civil para o Exército dos EUA em Aberdeen Proving Ground, em Maryland, durante a Segunda Guerra Mundial, como Chefe do Departamento de Balística Externa do Laboratório de Pesquisa Balística. Os resultados de seus estudos foram creditados com uma grande melhoria do design, desempenho e eficácia militar de bombas e foguetes. Por seu trabalho, recebeu o prêmio da Legião do Mérito.

O início tardio na Astronomia

Hubble matriculou-se na Universidade de Oxford, onde estudou direito e se formou em 1913. Depois da morte de seu pai, retornou à Universidade de Chicago para estudar Astronomia. Antes de iniciar seus trabalhos no Observatório Mount Wilson da Califórnia, Hubble completou seu doutorado em astronomia.

Enquanto trabalhava no Mount Wilson, Hubble provou que existiam outras galáxias fora da Via Láctea, onde a Terra está localizada, tirando fotos através do telescópio Hooker. Ao mostrar que existiam outras galáxias, os cientistas tinham uma idéia melhor do conceito do tamanho do universo e da possibilidade de outros planetas.

Sempre com o caximbo… (Emilio Segre Visual Archives/AIP/SPL)

O trabalho de Hubble no campo da astronomia foi realmente revolucionário. Suas pesquisas ajudaram a provar que o universo está se expandindo. Além disso, um sistema de classificação que ele criou para galáxias tem sido usado por outros pesquisadores há décadas, agora conhecido como a sequência Hubble.

O universo em expansão

No início da década de 1920, Hubble começou a realizar novas pesquisas, junto com o astrônomo Milton Humason. Eles publicaram suas pesquisas em 1929, teorizando que a mudança do infravermelho nas emissões de luz das galáxias movem-se a uma taxa linear. Isso também mostra que as galáxias estão se afastando um do outro.

Desde então, a teoria do Universo em expansão tem sido amplamente aceita por cientistas em todo o mundo. O trabalho de pesquisa de Hubble e Humason também ajudou a provar que as galáxias devem vir de um ponto central de origem e foi usada por para apoiar a Teoria do Big Bang — uma das teorias mais populares teorias sobre a origem do Universo, sugerida por Georges Lemaître em 1927.

Na verdade, Georges Lemaître, um sacerdote e físico católico belga, previu em bases teóricas o Big Bang, com base nas equações de Einstein para a Relatividade Geral. No entanto, muitos cosmólogos e astrônomos (incluindo o próprio Hubble) não reconheceram o trabalho de Lemaître.

O primeiro pesquisador a teorizar o Big-Bang segue como uma polêmica, mas com sua descoberta Hubble acabou com uma das teorias de Einstein.

Einstein introduziu a constante cosmológica na equação da Relatividade Geral em 1917, com a idéia de que o Universo era estático e imutável. Quando Hubble descobriu a expansão do Universo, Einstein chegou a considerar que a introdução da constante cosmológica teria sido o maior erro da sua vida. O físico alemão revisou suas fórmulas e excluiu o fator de correção.

Einstein: Puxa, o Universo está mesmo expandindo! / Hubble: Eu avisei… (Arquivos do California Institute of Technology)

No entanto, a constante cosmológica voltou para a fórmula em 1988 depois da descoberta que o Universo está acelerando. Einstein não estava errado sobre a constante…apenas sobre o Universo estático. Até quando estava errado, Einstein estava “meio-certo”.

Ninguém sabe direito (ainda hoje!) como o Universo está se afastando. A possibilidade mais estudada é a da existência da chamada energia escura, que dá origem a uma espécie de anti-gravidade, que causa o afastamento entre si dos objetos com massa.

O Nobel que não veio

Na época, o Prêmio Nobel de Física não reconhecia o trabalho realizado em Astronomia. Hubble passou grande parte da sua carreira tentando fazer com que a Astronomia fosse considerada uma área da Física, em vez de ser sua própria Ciência. Esta campanha não teve êxito durante a vida de Hubble, mas pouco depois de sua morte, o Comitê do Prêmio Nobel decidiu que o trabalho astronômico seria elegível para o prêmio de Física. No entanto, o Nobel só é dado para pesquisadores vivos, e não há homenagens póstumas.

A morte anônima

Hubble morreu de trombose cerebral em 28 de setembro de 1953, na Califórnia. Nenhum funeral foi realizado e sua esposa nunca revelou o local onde o corpo foi enterrado. Como homenagem ao trabalho inovador de Hubble na astrofísica, a NASA o homenageou com o “Telescópio Espacial Hubble”. Inúmeras instalações universitárias, um planetário e um asteróide também compartilham seu nome.

O telescópio espacial Hubble, responsável por imagens como a que está abaixo (fonte: NASA)
Os pilares da criação (nebulosa da Águia), talvez a imagem mais famosa do Hubble (fonte: NASA-Hubble)

As lições de um grande astrônomo

Além da parte científica, é de se notar a disciplina de Hubble. Apesar de ser marrento, ele serviu seu país em duas guerras e abandonou seus estudos na Inglaterra para cuidar da família após a morte do pai.

Ao discutir conceitos científicos, Hubble mantinha uma postura neutra e cética. Se há uma expressão que pode resumir a importância de Hubble, seria “alargar os horizontes”.

É uma reflexão interessante: será que estamos vendo tudo que há para ser visto? Não estamos fazendo um julgamento acerca do nosso mundo baseado naquilo que apenas podemos ver com nossos olhos míopes? Ao olhar por um telescópio, Hubble descobriu muito mais do que se esperava sobre o Universo. Inclusive, quando perguntado sobre o que mais gostava em Ciência, sua resposta foi:

“A possibilidade e a esperança de encontrar algo que não esperamos”

Hubble levou este objetivo ao extremo, desafiando visões de mundo pré-estabelecidas e buscando repostas novas para perguntas antigas.

Confira todos os cientistas que você deveria conhecer neste link!

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Andre Mazzetto
Ciência Descomplicada

Biólogo, um cientista que não é movido a café. Entusiasta da Ciência e da Educação. Editor e autor do blog Ciência Descomplicada.