ESA detecta água no subsolo marciano

Yara Laiz Souza
Ciência Descomplicada
3 min readJul 25, 2018
Mars Express (créditos: ESA / ATG medialab; Marte: ESA / DLR / FU Berlim,CC BY-SA 3.0 IGO)

Dados do equipamento Mars Express da Agência Espacial Européia (ESA) indicam a existência de uma grande lagoa de água líquida enterrada sob muitas camadas de gelo e poeira em uma região do polo sul marciano. As camadas de gelo e poeira chegam a acerca de 1,5 km de profundidade e tem cerca de 20 km de largura. Esta é a primeira confirmação mais sólida da presença de água sob o solo, que vem sendo considerada há anos.

Este resultado só foi possível graças ao esforço coletivo de muitos cientistas, que experimentaram novas técnicas e instrumentos de sondagem de subsolo para coletar dados mais precisos. Uma radar chamado Marsis, aclopado ao Mars Express, usou o método de envio de pulsos de radar para a superfície marciana e calcula quanto tempo esses pulsos demoram para serem refletidos de volta para a o equipamento.

De acordo com estes pulsos refletidos e conforme as características do solo e das camadas dos solos, os dados foram interpretados para a existência de uma camada espessa de gelo de água e um corpo estável de água líquida que pode ser salgada ou com demais sedimentos saturados.

Imagem que mostra a detecção de água debaixo de camadas de gelo e poeria (Créditos: ESA / NASA / JPL / ASI / Univ. Roma; R. Orosei e outros 2018)

“Estas características de subsuperfície em Marte tem propriedades de radar que combinam com propriedades de água líquida ou sedimentos ricos em água líquida”, comenta Roberto Orosei, pesquisador chefe dos dados do Marsis e principal autor do artgi publicado na revista Science.

“Esta é apenas uma pequena área de estudo. É uma perspectiva empolgante pensar que poderia haver mais desses bolsões subterrâneos de água em outros lugares, ainda a serem descobertos”.

Desde muito tempo, cientistas vêm debatendo sobre a questão da água em Marte: no passado, o planeta vermelho pode ter abrigado grandiosos mares e até oceanos cheios de água. O sinal disso são compostos químicos e características de solo que são compatíveis com a existência de água e alguns só podem ser possíveis na presença de água líquida. Porém, com o passar dos anos, as características ambientais e climáticas do planeta mudaram muito bruscamente, trazendo para o lugar a realidade que conhecemos: muito frio e seco, com tempestades muito fortes e uma atmosfera devastada por partículas advindas de ventos solares.

Depósitos no polo sul marciano (créditos: ESA/Roscosmos/CaSSIS , CC BY-SA 3.0 IGO)

Em 2015, a Agência Espacial Americana (NASA) apontou para a possível existência de água líquida salgada na superfície do planeta após encontrar formações no solo ricos em minerais. Porém, com o passar dos anos, a confirmação caiu em dúvida quando novos dados de pesquisa foram divulgados, mostrando que o que foi detectado poderia não ter vindo necessariamente de algum corpo de água líquida.

“Esta descoberta emocionante é um destaque para a ciência planetária e contribuirá para a nossa compreensão da evolução de Marte, a história da água no nosso planeta vizinho e sua habitabilidade”.

A sonda Mars Express completa 15 anos em órbita de Marte em dezembro deste ano.

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Yara Laiz Souza
Ciência Descomplicada

Comunicadora Científica, bióloga em formação, pesquisadora da Educação e do Ensino de Biologia.