Novas evidências de água e mudanças climáticas em Marte

Yara Laiz Souza
Ciência Descomplicada
3 min readSep 22, 2017
Simulação de como seria o lago em Gale Crater (Créditos: NASA / JPL-Caltech / ESA / DLR / FU Berlin / MSSS.)

Desde 2015, quando um dos principais estudos sobre o passado marciano foi divulgado pela NASA, estamos na expectativa por respostas ainda mais concretas sobre Marte. Na época, foi divulgado a detecção de sinais de água em rochas marcianas.

Dessa vez, um estudo liderado por Joel Hurowitz da Universidade de Stony Brook e publicado na Science, mostra ainda mais evidências de água no passado marciano: havia um lago com a sua parte inferior sem oxigênio e a parte superior rica em oxigênio. Isso aponta para uma superfície quente e úmida o suficiente para suportar uma quantidade grande de água superficial e também aponta que mudanças climáticas fortes assolaram o planeta.

Dados de Curiosity fora analisados (Créditos: NASA / JPL-Caltech / MSSS.)

A equipe de Hurowitz estudou a famosa cratera Gale Crater em Marte. Formada a partir de um choque com asteroide há cerca de 3,8 bilhões de anos, a cratera tem uma grande quantidade de sedimentos que podem ajudar a contar a história de Marte.

Foram analisados cerca de três anos de dados gerados pelo rover Curiosity sobre Gale Crater. O rover analisou por vários meses as rochas que estão na cratera. Os sinais deixados nessas rochas, como os compostos hematita, filossilicato e silicato de magnetita, indicam que Gale Crater um dia foi um grande lago, além de mostrar padrões ambientais passados que sofreram consequências drásticas; essas consequências deixaram esses e outros compostos químicos como uma ‘pista’.

Dados de 2014, 2015 e 2016 foram analisados (Créditos: NASA / JPL-Caltech.)

Assim, eles decifraram o passo a passo dessa mudança de ambiente — mudança drástica e interessante por assim dizer.

Analisando a composição mineral das rochas, Hurowitz e equipe descobriram que o fato de uma parte do lago passado ter uma metade com oxigênio e outra metade sem oxigênio se deu pela ação da radiação ultravioleta (UV). A radiação UV penetrou na atmosfera e oxidou as moléculas de água. Assim, íons de ferro e manganês foram trazidos para o lago uma vez que a água infiltrou no subterrâneo através do chão do lago.

Com a interação do UV com o oxigênio, houve uma perda de elétrons causando a oxidação de uma parte do lago; ferro e manganês oxidado se precipitaram e formaram minerais detectados pela equipe nas rochas. A outra parte não alcançada pelo UV tornou-se a magnetita também detectada pela equipe.

Esquema mostrando passo a passo do ‘desaparecimento’ do lago (Créditos: Hurowitz et al. (2017).)

A principal evidência da descoberta é a mudança climática que assolou o planeta vermelho. Se muda o clima, muda também as chances de surgir algum tipo de vida — ou pelo menos o único tipo de vida que conhecemos até então, que é a baseada em carbono. Interessantemente, a mudança climática que ocorreu em Marte foi tão forte que o lago de Gale Crater simplesmente evaporou segundo os resultados — fato que explica a presença maçante de sais. A não presença de rachaduras e outros sinais físicos mostram que essa evaporação ocorreu há muito tempo — tanto tempo que as marcas físicas foram perdidas.

Já sabemos que as condições atmosféricas e principalmente o campo magnético de Marte contribuíram muito para o que vemos hoje. Porém, a forma como essa mudança impactou o planeta ainda não é bem conhecida e pesquisas como essa podem ajudar a desvendar ainda mais mistérios.

--

--

Yara Laiz Souza
Ciência Descomplicada

Comunicadora Científica, bióloga em formação, pesquisadora da Educação e do Ensino de Biologia.