O que significa haver moléculas orgânicas em Marte?

Yara Laiz Souza
Ciência Descomplicada
3 min readJun 9, 2018
Créditos: NASA’s Goddard Space Flight Center

O rover Curiosity, da NASA, encontrou em sua morada, Marte, moléculas orgânicas em rochas com pelo menos três bilhões de anos e variações nos níveis de metano na atmosfera marciana. Estas descobertas não significam que a vida de fato existiu no passado ou no presente, mas servirão como pistas para explorações futuras sobre vida no planeta vermelho.

As moléculas encontradas contém em suas composições carbono e hidrogênio além de outras quantidades menores de oxigênio, nitrogênio e demais elementos. Aqui no Planeta Terra, estes compostos são associados a produtos feitos por formas de vida diversas. Entretanto, não é difícil encontrar vários tipos de compostos orgânicos Universo a fora. Uma vez que somos poeira das estrelas, a química que um dia encontrou a Terra também pode alcançar outros locais. Por aqui, esta química atualmente encontra os seres vivos para existir enquanto que no Universo são forjados dependendo das condições geológicas, físicas, atmosféricas do lugar onde está.

Ou seja, não indica necessariamente que haja ou houve vida em Marte. Sabemos que o passado marciano é muito semelhante a Terra, com imensos oceanos e uma atmosfera interessante. Porém, eventos naturais fizeram com que ele seja o que é hoje. O release oficial da NASA salienta que, por mais que estes compostos sejam associados a atividades vivas, eles também podem ser feitos através de processos não biológicos.

Gale Crater, local dos achados químicos (Créditos: Divulgação)

“Com essas novas descobertas, Marte está nos dizendo para manter o curso e continuar buscando evidências de vida”, comenta Thomas Zurbuchen, administrador associado da Diretoria de Missões Científicas na sede da NASA. “Estou confiante de que nossas missões contínuas e planejadas vão desbloquear ainda mais descobertas de tirar o fôlego no planeta vermelho”.

Desde 2015, cientistas encontram ainda mais sinais de que no passado o planeta apresentava condições climáticas muito boas para o surgimento e manutenção de água líquida na superfície. Era um cenário bem diferente do de hoje: a temperatura média por lá é de pelo menos -63 °C com uma atmosfera composta 95,72% de dióxido de carbono (CO2). Para identificar a descoberta anunciada, o rover Curiosity perfuro várias rochas sedimentares de quatro áreas da cratera Gale Crater. Curiosity utilizou o seu conjunto de instrumentos Sample Analysis at Mars (SAM) para aquecer as amostras coletadas e liberar moléculas orgânicas das rochas em pó.

O Sample Analysis at Mars (SAM) (Créditos: divulgação)

“Curiosity não determinou qual a origem das moléculas orgânicas”, diz Jen Eingenbrode, do Goddard Sapce Flight Center da NASA e autor principal do trabalho sobre as moléculas orgânicas. “A matéria orgânica em materiais marcianos contém pistas químicas para as condições e processos planetários”.

As variações sazonais de metano na atmosfera marciana também foram detectadas com o SAM durante três anos marcianos (que correspondem a seis anos terrestres). A reação química de água com compostos nas rochas no passado pode ter gerado o metano, porém pesquisadores não descartam a produção por algum tipo de vida no passado.

Variações sazonais de metano durante as estações do ano em Marte (Créditos: NASA/JPL-Caltech)

“Esta é a primeira vez que vemos algo desse tipo na história do metano em Marte”, disse Chris Webster, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (JPL) e principal autor do estudo com o metano na atmosfera. “Tudo isto é possível devido à longevidade de Curiosity. A longa duração permitiu-nos ver os padrões nesta ‘respiração’ sazonal.”

Todas estas descobertas dão esperanças de que os trabalhos com o rover Mars 2020 da NASA e a missão ExoMars da Agência Espacial Européia (ESA) mostrem resultados ainda mais precisos sobre a origem e outras características das moléculas orgânicas e da geração de metano na atmosfera marciana.

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Yara Laiz Souza
Ciência Descomplicada

Comunicadora Científica, bióloga em formação, pesquisadora da Educação e do Ensino de Biologia.