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Ciência: Uma prioridade para Portugal

Maria Cruz, Pedro Russo e Sílvia Castro

Pedro Russo
Ciência e Sociedade
3 min readMay 27, 2013

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Pas­saram mais de 11 anos desde que os 15 países da então Comu­nidade Económica Europeia acor­daram em Lis­boa uma ambi­ciosa estraté­gia: con­verter a econo­mia europeia “na econo­mia baseada no con­hec­i­mento mais com­pet­i­tiva e dinâmica do mundo até 2010, capaz de um cresci­mento económico sus­ten­tável acom­pan­hado de uma mel­ho­ria quan­ti­ta­tiva e qual­i­ta­tiva do emprego, uma maior coesão social e do respeito pelo ambiente”.

A Europa fal­hou os objec­tivos traça­dos. As razões são muitas, mas a crise finan­ceira que afec­tou a difer­entes níveis a estru­tura europeia é apon­tada como a prin­ci­pal razão pelo atraso e pela impos­si­bil­i­dade de alcançar as metas. No ano pas­sado a nova Comis­são Europeia apre­sen­tou uma nova estraté­gia em muito alin­hada com a Estraté­gia de Lis­boa: a Estraté­gia Europa 2020, que esta­b­elece três pri­or­i­dades que se reforçam mutu­a­mente e pro­por­cionam uma visão da Europa no século XXI. A pri­or­i­dade número um é o cresci­mento inteligente, desen­vol­vendo uma econo­mia baseada no con­hec­i­mento e na ino­vação. Ou seja uma econo­mia baseada em ciên­cia e tec­nolo­gia, a base do con­hec­i­mento e da inovação.

Neste con­texto, é pre­ocu­pante que a ciên­cia tenha tão pouca pre­sença nos pro­gra­mas eleitorais dos vários par­tidos políticos.

O Bloco de Esquerda diz que na ciên­cia, como na saúde, na edu­cação, na for­mação e no com­bate à pobreza, “só se mexe para mel­hor”, mas não for­mula qual a estraté­gia para a mel­ho­rar e quais as suas pri­or­i­dades. Em 2009, o PCP no pro­grama eleitoral para as eleições leg­isla­ti­vas apelava a uma revisão do Sis­tema Cien­tí­fico e Tec­nológico Nacional e do Estatuto da Car­reira de Inves­ti­gação Cien­tí­fica. No entanto no “Com­pro­misso para a Mudança” para as eleições do próx­imo domingo, no sítio elec­trónico daCDU, não men­ciona de forma alguma a ciên­cia. O pro­grama eleitoral do PS não lança muitas pis­tas para o futuro; o do PSD tem um pouco mais de infor­mação com enfoque na artic­u­lação entre uni­ver­si­dades, cen­tros de inves­ti­gação e empre­sas. O CDS não apre­senta nen­huma infor­mação sobre as suas ideias, pro­postas ou estraté­gias para a ciên­cia na próx­ima legislatura.

O desen­volvi­mento cien­tí­fico e tec­nológico está inti­ma­mente lig­ado ao índice de desen­volvi­mento humano de um país ou região. É fácil de perce­ber que quando o com­bate à pobreza e às desigual­dades soci­ais são uma pri­or­i­dade, não é fácil de jus­ti­ficar e apoiar qual­quer activi­dade secundária que não tente resolver direc­ta­mente estas questões. No entanto, diver­sos estu­dos indicam que inves­ti­men­tos em ciên­cia e tec­nolo­gia em situ­ações de crise têm vindo a aju­dar países a enfrentar e ultra­pas­sar as mes­mas. Isto vem mostrar que o inves­ti­mento em ciên­cias bási­cas tem, não só um grande retorno cul­tural e humano, mas tam­bém um retorno económico.

Recen­te­mente, na ocasião da atribuição do maior prémio nacional de cul­tura e ciên­cia, o Prémio Pes­soa, à cien­tista Maria do Carmo Fon­seca, esta falou “da importân­cia da ciên­cia no desen­volvi­mento do país”. De uma forma sim­ples e clara afirma: “A Ciên­cia tem um enorme poten­cial para atrair inves­ti­mento inter­na­cional, mas para ter sucesso a ciên­cia por­tuguesa terá de ser com­pet­i­tiva a nível mundial. (…) Como em todas as áreas da econo­mia, a com­pet­i­tivi­dade nacional exige opções estratég­i­cas sobre inves­ti­men­tos pri­or­itários.” Fica assim lançado o repto aos futuros governantes.

Não esque­cendo que o júri do Prémio Pes­soa é con­sti­tuído por algu­mas das maiores per­son­al­i­dades da sociedade por­tuguesa, incluindo um ex-Presidente da República e anti­gos primeiros-ministros, a atribuição do prémio a um cien­tista, pela ter­ceira vez, vem realçar o papel ful­cral que a ciên­cia tem para mel­ho­rar a situ­ação económica por­tuguesa, se o poder político assim o desejar.

Esta­mos cientes do nosso tamanho: somos um país pequeno, com recur­sos lim­i­ta­dos. Sem esque­cer a ino­vação, a orig­i­nal­i­dade e a cria­tivi­dade, temos que perce­ber onde estão as nos­sas mais-valias e alin­har os nos­sos pro­jec­tos com uma clara estraté­gia nacional e europeia para a C&T. Só assim podemos poten­ciar os recur­sos e investimentos.

Com as eleições leg­isla­ti­vas de 2011, urge então perce­ber quais são os planos, estraté­gias e visão para a ciên­cia por­tuguesa que o próx­imo gov­erno tem para os próx­i­mos qua­tro anos. Temos a certeza que a comu­nidade cien­tí­fica está preparada para respon­der, aju­dar e tra­bal­har para con­tribuir para um mel­hor Portugal.

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