Ciência: Uma prioridade para Portugal
Maria Cruz, Pedro Russo e Sílvia Castro
Passaram mais de 11 anos desde que os 15 países da então Comunidade Económica Europeia acordaram em Lisboa uma ambiciosa estratégia: converter a economia europeia “na economia baseada no conhecimento mais competitiva e dinâmica do mundo até 2010, capaz de um crescimento económico sustentável acompanhado de uma melhoria quantitativa e qualitativa do emprego, uma maior coesão social e do respeito pelo ambiente”.
A Europa falhou os objectivos traçados. As razões são muitas, mas a crise financeira que afectou a diferentes níveis a estrutura europeia é apontada como a principal razão pelo atraso e pela impossibilidade de alcançar as metas. No ano passado a nova Comissão Europeia apresentou uma nova estratégia em muito alinhada com a Estratégia de Lisboa: a Estratégia Europa 2020, que estabelece três prioridades que se reforçam mutuamente e proporcionam uma visão da Europa no século XXI. A prioridade número um é o crescimento inteligente, desenvolvendo uma economia baseada no conhecimento e na inovação. Ou seja uma economia baseada em ciência e tecnologia, a base do conhecimento e da inovação.
Neste contexto, é preocupante que a ciência tenha tão pouca presença nos programas eleitorais dos vários partidos políticos.
O Bloco de Esquerda diz que na ciência, como na saúde, na educação, na formação e no combate à pobreza, “só se mexe para melhor”, mas não formula qual a estratégia para a melhorar e quais as suas prioridades. Em 2009, o PCP no programa eleitoral para as eleições legislativas apelava a uma revisão do Sistema Científico e Tecnológico Nacional e do Estatuto da Carreira de Investigação Científica. No entanto no “Compromisso para a Mudança” para as eleições do próximo domingo, no sítio electrónico daCDU, não menciona de forma alguma a ciência. O programa eleitoral do PS não lança muitas pistas para o futuro; o do PSD tem um pouco mais de informação com enfoque na articulação entre universidades, centros de investigação e empresas. O CDS não apresenta nenhuma informação sobre as suas ideias, propostas ou estratégias para a ciência na próxima legislatura.
O desenvolvimento científico e tecnológico está intimamente ligado ao índice de desenvolvimento humano de um país ou região. É fácil de perceber que quando o combate à pobreza e às desigualdades sociais são uma prioridade, não é fácil de justificar e apoiar qualquer actividade secundária que não tente resolver directamente estas questões. No entanto, diversos estudos indicam que investimentos em ciência e tecnologia em situações de crise têm vindo a ajudar países a enfrentar e ultrapassar as mesmas. Isto vem mostrar que o investimento em ciências básicas tem, não só um grande retorno cultural e humano, mas também um retorno económico.
Recentemente, na ocasião da atribuição do maior prémio nacional de cultura e ciência, o Prémio Pessoa, à cientista Maria do Carmo Fonseca, esta falou “da importância da ciência no desenvolvimento do país”. De uma forma simples e clara afirma: “A Ciência tem um enorme potencial para atrair investimento internacional, mas para ter sucesso a ciência portuguesa terá de ser competitiva a nível mundial. (…) Como em todas as áreas da economia, a competitividade nacional exige opções estratégicas sobre investimentos prioritários.” Fica assim lançado o repto aos futuros governantes.
Não esquecendo que o júri do Prémio Pessoa é constituído por algumas das maiores personalidades da sociedade portuguesa, incluindo um ex-Presidente da República e antigos primeiros-ministros, a atribuição do prémio a um cientista, pela terceira vez, vem realçar o papel fulcral que a ciência tem para melhorar a situação económica portuguesa, se o poder político assim o desejar.
Estamos cientes do nosso tamanho: somos um país pequeno, com recursos limitados. Sem esquecer a inovação, a originalidade e a criatividade, temos que perceber onde estão as nossas mais-valias e alinhar os nossos projectos com uma clara estratégia nacional e europeia para a C&T. Só assim podemos potenciar os recursos e investimentos.
Com as eleições legislativas de 2011, urge então perceber quais são os planos, estratégias e visão para a ciência portuguesa que o próximo governo tem para os próximos quatro anos. Temos a certeza que a comunidade científica está preparada para responder, ajudar e trabalhar para contribuir para um melhor Portugal.
Publicado originalmente no Blog do Público: http://blogues.publico.pt/mural/2011/06/01/ciencia-uma-prioridade-para-portugal/