Uma descoberta exemplar

Pedro Russo
Ciência e Sociedade
2 min readOct 17, 2017

Publicado originalmente no jornal Público.

Ilustração de estrelas de neutrões coalescentes. Crédito: ESO/L. Calçada/M. Kornmesser

Em Fevereiro de 2016, o anúncio da primeira observação de ondas no espaço-tempo — ondas gravitacionais — abriu um novo campo de investigação na astronomia. A importância desta descoberta foi reconhecida recentemente pelo Prémio Nobel da Física de 2017, atribuído aos astrónomos responsáveis pelo LIGO que detectou estas ondas.

As ondas gravitacionais previstas por Einstein há mais de 100 anos são criadas por objectos muito maciços em movimento pelo espaço-tempo. Com a tecnologia de deteção actual, apenas objectos muito maciços (como buracos negros ou estrelas de neutrões) conseguem ser detectadas por telescópios de ondas gravitacionais como o LIGO.

Duas semanas após a atribuição do Prémio Nobel, dezenas de telescópios espalhados pelo globo detectaram a primeira luz duma fonte de ondas gravitacionais. Estas ondas são o resultado de uma fusão entre duas estrelas de neutrões, fusão que dispersa pelo Universo elementos como o ouro e a platina. Muito provavelmente o ouro que temos na Terra provem de uma fusão como esta. Os astrónomos observaram pela primeira vez tanto ondas gravitacionais como luz emitidas pelo mesmo fenómeno astronómico.

Mas esta observação da relíquia de luz das ondas gravitacionais é mais que uma fantástica descoberta. Centenas de astrónomos de mais de 23 países (como Portugal, Islândia, Portugal, Estados Unidos da América, China, Índia, Chile) trabalharam juntos para melhor compreender o Universo fascinante onde vivemos. Este é um exemplo de diplomacia científica onde a cooperação e a perseverança da comunidade astronómica devem servir de lição para outros quadrantes da sociedade: só trabalhando em conjunto é que globalmente podemos resolver problemas universais.

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