8 mulheres e um assassinato

JV Guedes
cinecríticauff
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2 min readDec 2, 2017

Adaptado de uma peça de teatro de 1958 escrita por Robert Thomas, o longa de 2002 de François Ozon brinca com as câmeras, com a interpretação das atrizes e seus posicionamentos, mimetizando as cenas com toques teatrais como se estivessem atuando em um palco italiano.

Seguindo uma linha de suspense policial da escritora Ágatha Christie, o filme muitas vezes é classificado como musical, o que venho evidenciar a ser na verdade um filme musicado uma vez que as músicas são usadas apenas como “acessórios”, que diferentemente dos musicais propriamente ditos, não complementam a linha narrativa da história nem passam as preocupações, pensamentos e sentimentos das personagens. Ficamos então com um gênero fluido de suspense policial-comédia dramática-musicada.

Suzon (Virgine Ledoyen) volta para casa para passar o Natal, onde moram a mãe, Gaby (Catherine Denueve), a avó (Danielle Darieux), a irmã mais nova Catherine (Ludivine Sagnier), Augustine (Isabelle Huppert), a tiazona; onde são servidas por Louise (Emmanuelle Béart), a empregada e Madame Chanel (Firmine Richard), a copeira. O único homem da casa é seu pai, Marcel (Dominique Lamure — que aparece apenas de costas). Ao adentrar ao casarão, as personagens são pouco a pouco apresentadas até o momento em que essas sete mulheres descobrem que Marcel está morto em sua cama com uma faca fincada em suas costas.

A partir daí o filme se desenrola em dramas familiares e tramas passíveis de uma novela mexicana, com traições, filhos ilegítimos e muitas desavenças… a meio caminho do filme aparece a irmã do morto, Pierrette (Fanny Ardant), uma “ex-bailarina” (que dá a entender que seja uma prostituta de luxo em acordo com suas falas), que dá o nó final nos desentendimentos dessas 8 mulheres.

Para resolver esse crime, que logo se descobre cometido por alguma das mulheres na casa, elas precisam revelar seus segredos e suas mentiras para desvendar quem realizou o ato macabro. Seu final dá uma dupla reviravolta quando descobrimos uma grande armação realizada por uma das personagens suspeitas.

Com esse elenco-céu, cheio de estrelas do cinema francês e o abuso das cores (as roupas das personagens colorem a casa com suas nuances e tons e parecem simbolizar a personalidade e posição social de cada uma delas, assim como as músicas, uma para cada moça, a complementar suas personalidades), "8 Mulheres" é cativante e surpreendente, uma pérola desse século que pode enganar parecendo ser um clássico de épocas passadas.

Da esquerda para a direita — Firmine Richard, Isabelle Huppert, Virgine Ledoyen, Ludivine Sagnier, Danielle Darieux, Fanny Ardant, Catherine Denueve e Emmanuelle Béart.

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