A Interminável “História Gótica Contemporânea” de Verbinski
Ao longo de extravagantes 146 minutos de projeção, passamos a conhecer o jovem Lockhart (Dane DeHaan), um corretor bem-sucedido e ambicioso do mercado financeiro de Nova York que é enviado até um SPA, localizado nos alpes suíços, com a missão de trazer de volta o CEO de sua empresa para a conclusão de um grande negócio. Mas, por conta de um acidente, acaba se tornando paciente do lugar, contra sua vontade.
“A Cura” (A Cure for Wellness) marca o retorno do diretor Gore Verbinski aos gêneros de terror e suspense, desde “O Chamado” (The Ring), versão estadunidense do filme japonês “Ringu” lançada em 2002, na qual obteve bons resultados da crítica e público, sendo lembrada até hoje. O cuidado estético e técnico, comumente visto nas obras de Verbinski, permanecem presentes e chegam a gritar (ao contrário do público) em “A Cura”. As belas imagens, as sequencias bem produzidas e a melodia hipnotizante criada por Benjamin Wallfisch, responsável pela trilha sonora, são os elementos que mais influenciam o público a continuar acompanhando os acontecimentos e personagens pouco interessantes do universo gótico de Verbinski.
Durante a primeira hora do longa, temas complexos são rascunhados, como a ambição e o lugar no qual o homem se colocou perante a deus, criando a falsa expectativa de que serão bem desenvolvidos ao longo da trama (Talvez, seja este o plot-twist mais interessante e não-pensado de todo o enredo). Logo, a narrativa acaba se afogando em muitas fontes sem usufruir o melhor de cada uma delas, seja no livro “A Montanha Mágica” de Thomas Mann, citado por Verbinski em entrevistas sobre o filme, sejam em outros longas semelhantes como “Ilha do Medo” de Martin Scorsese, ou “O Iluminado” de Stanley Kubrick. As doses de tais referências parecem não ser bem calculadas.
A proposta do roteirista Justin Haythe e do próprio Verbinski, inspirada pelo livro de Mann, seria a de desenvolver um personagem contaminado com a doença contemporânea da ambição, na qual o SPA funcionaria como um lugar de negação, no qual as pessoas iriam para se curarem e se isolarem do mundo, como um tipo de escudo. O problema é o caminho traçado pela história que perde sua essência (com o perdão do trocadilho) e acaba se sustentando em clichês do gênero, tais quais a loucura iminente, os pacientes e médicos agindo de forma suspeita e a impossibilidade de se sair do local. Embora, tais conceitos estejam presentes no livro de Mann, o maior problema está em sua representação que parece não atingir a carga dramática suficiente, ou sequer, se distinguir de outras abordagens já feitas, assim como nos já citados “Ilha do Medo” que trabalha de forma eficiente a questão da loucura, e “O Iluminado” que aborda o isolamento.
O visual deslumbrante e a trilha sonora suave são pontos altos que podem ser apreciados, calmamente, perante o ritmo lento de um longa que não sabe exatamente qual história quer contar . “A Cura” é a prova irrefutável de que a técnica não supera o drama.