A Interminável “História Gótica Contemporânea” de Verbinski

Vitor Neves Martins
cinecríticauff
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3 min readOct 28, 2017

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Jason Isaacs em “A Cura”

Ao longo de extravagantes 146 minutos de projeção, passamos a conhecer o jovem Lockhart (Dane DeHaan), um corretor bem-sucedido e ambicioso do mercado financeiro de Nova York que é enviado até um SPA, localizado nos alpes suíços, com a missão de trazer de volta o CEO de sua empresa para a conclusão de um grande negócio. Mas, por conta de um acidente, acaba se tornando paciente do lugar, contra sua vontade.

“A Cura” (A Cure for Wellness) marca o retorno do diretor Gore Verbinski aos gêneros de terror e suspense, desde “O Chamado” (The Ring), versão estadunidense do filme japonês “Ringu” lançada em 2002, na qual obteve bons resultados da crítica e público, sendo lembrada até hoje. O cuidado estético e técnico, comumente visto nas obras de Verbinski, permanecem presentes e chegam a gritar (ao contrário do público) em “A Cura”. As belas imagens, as sequencias bem produzidas e a melodia hipnotizante criada por Benjamin Wallfisch, responsável pela trilha sonora, são os elementos que mais influenciam o público a continuar acompanhando os acontecimentos e personagens pouco interessantes do universo gótico de Verbinski.

Cena do filme “A Cura” - Lockhart (Dane DeHaan) faz visita ao SPA.

Durante a primeira hora do longa, temas complexos são rascunhados, como a ambição e o lugar no qual o homem se colocou perante a deus, criando a falsa expectativa de que serão bem desenvolvidos ao longo da trama (Talvez, seja este o plot-twist mais interessante e não-pensado de todo o enredo). Logo, a narrativa acaba se afogando em muitas fontes sem usufruir o melhor de cada uma delas, seja no livro “A Montanha Mágica” de Thomas Mann, citado por Verbinski em entrevistas sobre o filme, sejam em outros longas semelhantes como “Ilha do Medo” de Martin Scorsese, ou “O Iluminado” de Stanley Kubrick. As doses de tais referências parecem não ser bem calculadas.

Imagem do cartaz de “A Cura”

A proposta do roteirista Justin Haythe e do próprio Verbinski, inspirada pelo livro de Mann, seria a de desenvolver um personagem contaminado com a doença contemporânea da ambição, na qual o SPA funcionaria como um lugar de negação, no qual as pessoas iriam para se curarem e se isolarem do mundo, como um tipo de escudo. O problema é o caminho traçado pela história que perde sua essência (com o perdão do trocadilho) e acaba se sustentando em clichês do gênero, tais quais a loucura iminente, os pacientes e médicos agindo de forma suspeita e a impossibilidade de se sair do local. Embora, tais conceitos estejam presentes no livro de Mann, o maior problema está em sua representação que parece não atingir a carga dramática suficiente, ou sequer, se distinguir de outras abordagens já feitas, assim como nos já citados “Ilha do Medo” que trabalha de forma eficiente a questão da loucura, e “O Iluminado” que aborda o isolamento.

Cena do filme “A Cura” com Mia Goth (à esquerda) e Dane DeHann (à direita)

O visual deslumbrante e a trilha sonora suave são pontos altos que podem ser apreciados, calmamente, perante o ritmo lento de um longa que não sabe exatamente qual história quer contar . “A Cura” é a prova irrefutável de que a técnica não supera o drama.

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