Bonecas sexuais, padrões estéticos e imperfeições humanas

JV Guedes
cinecríticauff
Published in
3 min readOct 26, 2017

Zoom (2015) é uma coprodução entre Brasil e Canadá, sendo a produtora O2 Filmes (de Fernando Meirelles) responsável pela captação de recursos (R$10,3mi) através das leis de incentivo do MINC para o financiamento do longa. A ficha técnica conta com nomes como Gael Garcia Bernal, Alisson Pill, Mariana Ximenes e Cláudia Ohana.

O longa enlaça três histórias que questionam os padrões estéticos e a perfeição corporal:

Emma (Alisson Pill) trabalha em uma fábrica que vende bonecas sexuais por encomenda, a trama se desenrola quando seu amigo Bob vê o desenho que ela faz em que se coloca numa posição de “super-mulher” altamente erotizada com seios avantajados e ele tenta desconstruir a necessidade dessa imagem mas acaba ofendendo a naturalidade de seu corpo. Depois de recorrer a um cirurgião plástico altamente egóico ela começa a se arrepender de seus novos seios, os quais se parecem muito com os das bonecas que ela fabrica.

Edward Deacon (Gael Garcia Bernal) é um cineasta famoso por seus filmes repletos de ação e testosterona. Trabalhando em uma nova ideia de filme, ele encontra dificuldades para vender ao estúdio por fugir da “comercialidade” que eles procuram. O filme que ele quer rodar é poético e toca no lado vulnerável de cada um e isso não agrada aos representantes do estúdio que querem ação, helicópteros, cabelos bonitos e fugas emocionantes. Ah, e Edward é um personagem em HQ criado por Emma.

Michele (Mariana Ximenes) é uma modelo que sofre com as pressões da profissão e quer mostrar que é capaz de realizar além da sua aparência física. Sua vontade é escrever um livro, mas seu namorado abusivo não lhe dá suporte. Ela então retorna ao seu país Brasil afim de buscar inspiração para sua escrita e se relaciona com a dona do pequeno albergue onde ela se hospeda, representada por Cláudia Ohana.

A imagem filmada de Gael Garcia Bernal se transforma em desenho em uma trama de poder e (perda da) potência do corpo que muito tem a ver com o que Michele tenta trabalhar na elaboração do seu livro. O retiro para sua inspiração acaba sendo conturbado pelas divergências narrativas entre o embate do comercial versus o artístico do filme de Edward Deacon. Nisso, Emma se embrenha em uma confusão envolvendo drogas para financiar a retirada de seus implantes e o cruzamento das histórias vai ficando mais claro ao enrolar do enredo.

As passagens de cena e os posicionamentos de câmera trabalham para ressaltar a experiência da metalinguagem, tanto nas cenas do filme de Edward (Gael Garcia Bernal), quanto na hora de unir as histórias. A trilha sonora é adicionada algumas vezes para enfatizar emoções intencionadas.

O Filme debut do diretor Pedro Morelli (que trabalhou com Meirelles em outros longas, como Ensaio sobre a Cegueira, 2008), trabalha com uma abordagem cômica um assunto que é muito atual sobre aceitação do corpo e seu empoderamento, apesar de reforçar alguns estereótipos com Edward e sua disfunção corporal. O aproveitamento da personagem de Claudia Ohana deixou a desejar para trabalhar mais o discurso de empoderamento feminino acerca do corpo, mas acho que pincela de uma forma sutil, conversando com as outras narrativas.

A confusão do plot tem um desfecho um pouco clichê, mas que pela ambiguidade apresentada torna-se um final razoável e condizente com a pretensão do filme.

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