CRÍTICA: Call Me By Your Name

Ranner Barbosa
cinecríticauff
Published in
3 min readOct 23, 2017

Era para ser apenas um verão como outro qualquer na vida do adolescente Elio (Timothée Chalamet), quando Oliver (Armie Hammer), um americano amigo de seu pai (Michael Stuhlbarg) chega até a casa de veraneio da sua família numa pacata cidade ao norte da Itália, em 1983. Elio cria um fascínio e curiosidade que são despertados após a chegada desse estrangeiro que iria se tornar um habitante temporário de sua casa. Entendemos esse fascínio que o adolescente tem quando vemos a maneira com que Oliver é apresentado ao ao publico a partir das primeiras conversas e imagens vistas no longa: um homem bonito, culto e bem articulado.

Já Elio, apesar de ser apresentado como um adolescente extremamente inteligente e de certa forma erudito (toca piano e fala diversas línguas), ainda assim é apenas um adolescente, e como qualquer outro na sua faixa etária, passa por momentos de descoberta principalmente quando se trata da sua sexualidade, a medida em que os hormônios começam a tomar conta do seu corpo e ficam a flor da pele. O diretor Luca Guadagnino então, cria o cenário perfeito para explorar o desejo e sexualidade encontrados na trama: Elio tem uma família multicultural, seu pai é especialista em cultura greco-romana e em sua casa vemos constantemente diversas línguas sendo faladas, como francês, italiano e inglês. Um ambiente em se é visto uma família deveras inteligente e compreensiva, passando ao espectador uma sensação de “liberdade” que envolve qualquer um que habita tal lugar.

Lidando então com com as mudanças e descobertas da fase adolescente, a relação de Elio com Oliver começa a se tornar mais próxima, fazendo com que a curiosidade e fascínio que o adolescente uma vez mostrara por Oliver com os olhares a distância que vimos na chegada do mesmo, se transforme então em um desejo que rapidamente fica-se subentendido. Após uma construção feita com calma e sensibilidade no roteiro, vemos então a relação de Elio e Oliver se intensificar a maneira com que o espectador consiga entender que o desejo, que antes já era perceptível pela parte de Elio, agora não é mais unilateral, pois Oliver também o demonstra. A forma com que isso nos é apresentado se deve graças ao roteiro de James Ivory, que, mesmo sem explicitar o interesse entre os personagens em diálogos ao longo da trama, acaba utilizando majoritariamente de gestos e atitudes para com que possamos ver e entender tal relação acontecer.

Finalmente, depois de termos atenção presa a trama somos presenteados com Elio e Oliver concretizando seu romance. Após dias de negação e jogos de sedução desengonçados, somos entregues a uma cena que transborda inocência, que é crua e natural, onde os personagens são banhados de uma incrível aura de sensualidade e desejo, finalmente se livrando de todas amarras criadas pelos dois.

O que o diretor Luca Guadagnino nos presenteia em Call Me By Your Name é um filme bonito, sensual, e, se diferenciando da maioria dos filmes em que há relações entre personagens gays, nessa obra não há certo e errado, não há julgamentos, há apenas o forte desejo de uma pessoa pela outra e ambas se entregando a esse sentimento, assim o vivendo de forma intensa, sutil, cheia e cheia de descobertas.

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