I see you shiver with… remake!

Jackson Jacques
cinecríticauff
Published in
3 min readOct 9, 2017

Estamos em 1975. Em uma noite fria e chuvosa, acompanhamos um casal recém-noivos e apaixonados, a caminho da casa de seu antigo professor quando, de repente, um pneu fura e eles saem em busca de ajuda. Seguem uma luz até o monstruoso castelo de um cientista louco que, naquela noite, celebrava sua mais primorosa obra: a criação de um homem perfeito. É assim, em meio à paródia de filmes B de ficção científica e horror, realizados entre os anos 30 e 70, que se desenvolve o texto de Jim Sharman e Richard O’Brien em The Rocky Horror Picture Show.

O filme, adaptado da peça The Rocky Horror Show (1973), é considerado um dos maiores fenômenos cult mundial do cinema, muito graças a sua arrecadação (140 milhões de dólares, em comparação ao seu orçamento de 1,2 milhão) e por movimentar a cena de consumo alternativo através da criação das chamadas “Sessão da Meia Noite”, onde o público era instigado a interagir com o filme e, de fato, fazer parte daquele universo trash, queer e musical de Transexual, Transylvania.

Alçado a ícone não tradicionalista da cultura pop, o filme passou por um processo de aceitação por parte do público através da busca por representações queer e transgressoras com os estereótipos usados em musicais posteriores. Sendo assim, os fãs passam a ser uma grande plataforma para que o filme não caísse no esquecimento, seja através das sessões interativas, quanto a montagens independentes da peça em teatros comunitários, principalmente nos EUA. Isso faz com que Rocky Horror Picture Show ainda seja exibido com a versão realizada para o cinema, sem cortes e sem reedições (mesmo quando lançado em DVD, posteriormente), por mais de 40 anos.

Não foi um choque, portanto, quando a FOX anunciou em 2016 a realização de um remake do musical, nos mesmos moldes que havia realizado com Grease (exceto que Rocky Horror não seria realizado ao vivo). Após meses de grande animação e excitação dos fãs, que veriam um novo olhar sobre Frank’n Furter e sua convenção de esquisitos, The Rocky Horror Picture Show: Let’s Do The Time Warp Again é exibido e decepciona justamente por deixar de lado a esquisitice trash tão marcada na década de 70.

Elenco do remake realizado pela FOX, em 2016.

Ainda que possua riscos louváveis, como trazer uma atriz transexual para o papel de Frank’n Furter e traga o vínculo afetivo dos fãs através da presença de Tim Curry (que fez Frank na primeira versão) no papel do criminologista, o roteiro se adaptou e a mudança de músicas e coreografias fazem o musical-ícone, pobre. Talvez muito pesado pelas características que acompanham Kenny Ortega, diretor do remake e responsável pelo estilo musical Disney visto em High School Musical, a verdade é que Rocky Horror perde sua essência da estranheza para se tornar mais apto ao entendimento do público em geral, que não necessariamente sejam fãs da história.

Mas nem só de erros se faz um remake. Deve-se notar o uso brilhante dos aspectos vistos nas sessões interativas ao redor do mundo, onde o público se veste tal como os personagens e levam props para uso durante o decorrer do roteiro. No remake, há uma quebra da quarta parede constante, justamente para dialogar com um público que se encontra num cinema, assistindo ao filme e que grita quando Frank diz poder ver todos tremendo de antecipação. Isso nos mostra o cuidado de atualização do roteiro com muito mais delicadeza e valorizando o que fez Rocky se tornar um clássico a nível “filmes para ver antes de morrer”: a produção do fã.

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