Don’t you forget about me: o clube dos cinco e a marca de John Hughes nos filmes de high school

Inês Alves
cinecríticauff
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4 min readNov 13, 2017

O cérebro. O atleta. A louca. A princesa. O criminoso. Essa é a descrição inicial dos cinco personagens principais do clássico de sessão da tarde dos anos 80 O Clube dos Cinco. Lançado em 1985, escrito e dirigido por John Hughes foi um marco tanto na carreira do diretor quanto na história do cinema “para adolescentes”. Mesmo depois de 32 anos de seu lançamento ainda é lembrando e assistido pela nova geração que nem era nascida quando esses cinco adolescentes foram mandados para a detenção em um belo sábado.

Hughes afirmava que gostava de histórias simples. O extraordinário não lhe importava, preferia muito mais discorrer sobre o homem comum e suas pequenas angústias. Esse pensamento levou o diretor a produzir diversos filmes com temática adolescente e ambientados em escolas como Curtindo a Vida Adoidado, Gatinhas e Gatões e A Garota de Rosa Shocking. O Clube dos Cinco é seu segundo trabalho atuando como diretor e roteirista, seguindo com a mesma temática escolar e um dos mais poderosos ao tratar sobre as dificuldades da adolescência, o medo de crescer e os dilemas para lidar com o outro. O roteiro é simples, sem grandes revelações ou plot twists e toda a história se passa no mesmo ambiente. Ao contrário da maioria dos filmes desse gênero, Hughes usa os estereótipos clássicos presentes nas produções que tratam sobre o high school como ponto de partida mas não os mantem, busca na verdade desconstruí-los em uma tentativa de mostrar aqueles adolescentes além dos rótulos em que foram colocados.

O filme começa com os alunos chegando na escola, cada um no carro de suas respectivas famílias exceto Bender, que chega sozinho. Nesse momento já é um pouco estabelecida a forma de relacionamento familiar de cada um deles, desde de Claire, a princesa super mimada até Bender, o delinquente que tem uma família tão desestruturada e negligente que nem se dá ao trabalho de levá-lo até a escola. Quando chegam na biblioteca, onde devem permanecer durante toda a detenção, são informados pelo diretor que precisam escrever uma redação descrevendo quem eles são, como se veem. A partir daí, a relação entre os jovens começa a ser desenvolvida, inicialmente muito conturbada e cheia de conflitos, até chegar ao ponto de abertura e identificação.

Quando você cresce seu coração morre

Rebeldia, amadurecimento, pertencimento e início da vida amorosa e sexual são temas que perpassam toda a narrativa do filme e que estão presentes em outras produções de John Hughes. Em Gatinhos e Gatões o nerd interpretado por Anthony Michael Hall; que também vive o nerd em Clube dos Cinco; tenta de toda forma pertencer ao grupo dos populares e atingir legitimidade em seu próprio grupo, fazendo atos de rebeldia e buscando provar sua experiência sexual, chegando a pedir emprestada a calcinha da personagem de Molly Ringwald. Mesmo se estabelecendo em uma lógica de colégio americano Hughes trata de temas universais, que podem ser facilmente identificados em grupos de adolescentes de outros países. Além da repetição da temática acontece uma repetição de atores. Molly, a queridinha de Hughes, está presente em quase metade dos filmes escritos e dirigidos por ele.

O diretor se utiliza muito de closes nos rostos dos atores, provavelmente para mostrar bem suas expressões e criar uma intimidade entre telespectador e personagens. Entretanto, é mais fácil de se aproximar de alguns do que de outros. Enquanto a estranha Allison é extremamente divertida e carismática mesmo com suas manias incomuns, Bender e Andrew são difíceis de se conectar, por serem arrogantes e tentarem a todo tempo se provarem como superiores aos outros. Além disso no quesito entretenimento esse não é o filme mais forte de Hughes. Curtindo a Vida Adoidado por exemplo traz uma jornada bem mais divertida, porém Clube dos Cinco tem um aspecto bastante introspectivo e reflexivo que não está presente no primeiro.

É preciso ainda destacar a figura do diretor do colégio, o típico bullie que persegue os alunos, se assemelha muito ao diretor do colégio frequentado por Ferris Buller. Se colocando como um carrasco que não se esforça para compreender os alunos, a posição do diretor justifica a rebeldia dos estudantes, transformando a insubordinação contra o responsável opressor em um ato heroico.

Clube dos Cinco segue como um bom retrato e reflexão sobre a adolescência. Com uma narrativa simples, é o filme de Hughes que melhor pensa sobre a questões dessa fase. Consegue entreter, apesar de não ser o melhor nesse quesito, e passar uma mensagem um pouco mais aprofundada ao mesmo tempo. Não atoa que ainda é citado e usado como referência em filmes atuais com temas parecidos como A Mentira e A Escolha Perfeita. É o sábado de detenção que permanecerá na memória dos nostálgicos amantes dos anos 80.

Curiosidade: o título original The Breakfast Club veio de uma amiga de John que trabalhava em uma escola onde existia uma sessão de castigo para alunos apelidada com o mesmo nome.

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