Eu vou matar você, porque você é bicha!

darlan ramos
cinecríticauff
3 min readOct 2, 2017

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“… Eu estava passando de mãos dadas com o meu amigo, para ir jantar e uma pessoa parou do nada, de moto, do lado e resolveu sacar uma arma apontar na minha cabeça e falar : Eu vou matar você, porque você é bicha!”

Essa foi uma das afirmações de Marlon Parente, diretor do documentário “Bichas”,lançado em 20 de Fevereiro de 2016, no TED talks que ocorreu na UFPE, onde ele relata o episódio violento que o motivou a fazer o filme.O documentário tem como um dos objetivos trazer relatos que mostrem as constantes e diversas formas de violência que as pessoas LGBTS vivem, baseando-se na vivência de 6 jovens gays recifenses.

Dentro dos relatos é possível entender como os participantes lidaram com as questões de sexualidade ao longo da vida e em como a violência( seja física, emocional ou psicológica) sempre esteve presente nesses momentos, abordando também de forma detalhada e até com um certo tom de humor as especificidades da forma em que cada participante experienciou/lidou com esses ataques, seja por conta de terapias de mudanças comportamentais, ou por performar mais feminilidade ou por ser negro e periférico. Um dos aspectos mais interessantes é que os entrevistados não falam apenas da relação deles com a sociedade em geral, mas também da forma em que eles se relacionam com a comunidade LGBTQ+.

A maior sacada do documentário está no título, quando se começa a ouvir os relatos já é perceptível que o objetivo central, tanto do diretor, quanto dos entrevistados, é ressignificar a palavra “BICHA” é esvaziá-la do sentido negativo atribuído e dar a ela o valor não só de empoderamento e coragem, mas também de algo que deve se ter orgulho a ponto de não ter vergonha de mostrá-lo, seja de que forma for.

Sobre a forma em que as cenas são filmadas, é possível perceber que o diretor não se arrisca muito dentro dessas questões, até mesmo por conta do tempo de produção, que foi curto e também não houve grande investimento, o único feito foi em um microfone que custou dez reais e a maior parte das cenas são filmadas em primeiro plano,o que me pareceu correto, pois gerava um clima mais informal e íntimo, consequentemente menos complexo, levando o espectador a ter mais atenção ao que está sendo falado pelos protagonistas. Já a trilha sonora é o que menos me agrada, a meu ver não tinha a menor necessidade, é a mesma música do início ao fim, mas por ser um documentário de apenas 38 minutos não chega a ser algo irritante ou desagradável.

Por ser um documentário amador, “Bichas” não é tão esclarecedor quanto deveria ser, por conta de algumas falhas, como por exemplo, falta de pesquisas, falta de um público mais amplo de entrevistados e acaba ficando raso em certos aspectos, mas mesmo assim em alguns momentos levanta questões muito importantes, já que alguns jovens tem vivências bastante específicas, que nos fazem questionar vários aspectos até mesmo dentro da comunidade LGBTQ+, o que permitiu com que o filme não perdesse a credibilidade e também levanta a questão da falta de empatia pelo outro e intolerância, refletindo bastante o momento em que vivemos. Vale a pena tirar 40 minutos do seu dia para assistir!

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