“GAGA: FIVE FOOT TWO”: A CONSTRUÇÃO E DESCONTRUÇÃO DE UMA ESTRELA

GABRIEL DIKS
cinecríticauff
Published in
3 min readOct 2, 2017

O documentário de Lady Gaga, Five Foot Two, causou grande comoção ao ser lançado no catálogo da Netflix, principalmente pelo fato de ter sido lançado exatamente uma semana após o cancelamento de seu show no Rock in Rio, onde era principal atração da noite de 15 de Setembro, por conta de fortes dores musculares causadas pela Fibromialgia, doença que, inclusive, é abordada no documentário, e que levou muita gente a questionar se, de fato, este não seria um golpe de marketing de Lady Gaga para promover seu documentário. O que muitos não esperavam era que o documentário simplesmente mostra uma Lady Gaga despida de todas as estratégias de marketing que a levaram a ser um dos principais nomes da música pop dos últimos anos.

O documentário tem um interessante ponto de conexão entre sua primeira e sua última cena: sua apresentação no Superbowl. À princípio, pode parecer que ele gira em torno de sua apresentação no tradicional show do intervalo, mas nos enganamos quando outro momento surge: Lady Gaga decide começar a produzir seu novo álbum de estúdio. Futuramente intitulado Joanne, é a partir dele que o documentário toma forma, e mostra os mais diversos momentos da vida pessoal e profissional da artista.

Descabelada, sem maquiagem, sem alta costura, em sua casa, dançando e interagindo com sua família, Stefani Joanne Angelina Germanotta está longe da figura da popstar que alcançou o estrelato em 2008 com hits que dominaram as rádios durante muito tempo. O momento que Lady Gaga revela sua briga com seu então noivo, Taylor, mostra uma faceta mais madura da cantora, junto a um discurso de independência e com um cunho feminista. É só um aviso de tudo que está por vir nos minutos seguintes.

Lady Gaga fuma, chora e borra sua maquiagem por diversas vezes, atende fãs, faz topless. Não é novidade mostrar, através de um documentário, os bastidores da produção de um álbum, ou de uma turnê, junto a momentos pessoais de força, conquistas e vulnerabilidades de um artista. Madonna fez isso em In Bed with Madonna (1990); Michael Jackson e os bastidores do que seria seu retorno triunfal aos palcos, senão pela sua morte, foram registrados em This Is It (2009); Katy Perry, mostrou os principais momentos do auge de sua carreira, bastidores de sua turnê, premiações, conquistas, casamento e divórcio em Katy Perry: Part of Me (2012). Não é uma novidade assistirmos coisas do gênero. Mas no que se trata de Lady Gaga, é tudo novo: chega a ser estranho ver a mesma artista que chocou o mundo no VMA de 2010 ao usar um vestido de carne agora estar usando um short jeans, regata preta e rabo de cavalo gravando o clipe de uma música em um cenário simples, com uma sonoridade distante de Poker Face, Bad Romance e outros hits que a consagraram. Alguns chamam de maturidade; outros, crise dos 30. Eu chamo de “reinvenção”, aliada à maturidade demostrada e enfatizada desde a primeira cena, e ao longo do documentário, até mesmo aos atos promocionais, como o que a artista postou em sua conta no Twitter, horas antes da estreia do documentário na Netflix: “(…) eu sou apenas uma garota tentando me tornar mulher (…) uma mulher que ama seus fãs e quer que eles cresçam com ela (…)”. Reinventar-se como profissional e ser humano faz parte da evolução humana, e o documentário mostra exatamente uma Lady Gaga humana. Ela ri, e nós rimos com ela. Ela chora, e nós choramos com ela. Ela se emociona, e nós nos emocionamos com ela.

Stefani se alia à Lady Gaga: enquanto chora, sente fortes dores causadas por uma patologia, desabafa sobre sua briga com Madonna, borra a maquiagem, fuma, faz topless, se estressa com uma rotina sobrecarregada e sofre com a solidão, produz um álbum e se envolve em cada aspecto criativo de tudo que faz: seja do álbum propriamente citado, da apresentação no Superbowl e nos clipes. Enquanto mostra ao mundo sua vulnerabilidade, ela mostra todo seu talento como artista e profissional, motivo pelo qual Lady Gaga é um dos principais nomes da música pop da atualidade. O documentário está disponível na Netflix, e vale muito a pena ser apreciado — seja você fã ou não de Lady Gaga.

--

--