Her

O real na ficção de “Her”

Samantha Cardoso
cinecríticauff
3 min readNov 13, 2017

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Lançado em 2013 e dirigido por Spike Jonze, “Her” é uma ficção que pode ser considerada muito mais real do que se imagina. Com a inserção quase completa do uso de equipamentos tecnológicos, nesse futuro próximo retratado no filme, podemos ver em diferentes cenas a substituição dos seres humanos por sistemas inteligentes que realizam todas as funções necessárias, como se fosse uma extensão do próprio corpo.

O longa conta a história de Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), um homem que se encontra deprimido após o término do seu relacionamento com aquela que ele acreditava ser o amor de sua vida. Solitário, ele compra um novo sistema operacional — que promete uma experiência consciente, quase humana — conhecendo então uma voz feminina que se nomeia como Samantha (voz de Scarlett Johansson). Nela, ele encontra uma companhia constante que aos poucos acaba se transformando numa grande amizade e por fim, amor.

Vencedor do prêmio de melhor roteiro original no Oscar 2014, “Her” realmente tem um roteiro incrível, assim como sua direção, fotografia, cenário, trilha sonora e atuações. Joaquin realmente se entregou ao papel. Com uma atuação surpreendente, ele consegue transparecer a solidão do personagem, convencendo bastante o espectador, a ponto de comovê-lo.

Com um elenco relativamente pequeno, focando na relação entre Theodore e Samantha, ele conta ainda com a aparição bem menos frequente de Amy (Amy Adams), que em poucas cenas consegue mostrar o brilhantismo da atriz, transmitindo toda a sua angustia e sentimentalismo com o também fim de seu relacionamento. Vale citar o momento em que ela conversando com Theodore diz que “Apaixonar-se é uma loucura. É uma forma de insanidade socialmente aceitável”, e é sobre isso que o filme trata.

A partir de uma crítica criativa e não convencional, ele utiliza diferentes metáforas sobre relacionamentos, desde a idealização de um amor perfeito, até a dificuldade em lidar com os problemas dessa relação. Ele é capaz de nos fazer questionar e refletir inúmeras vezes o quanto as relações pessoais vêm se perdendo e que é muito fácil suprir isso com uma máquina, evidenciando o quanto o ser humano anda frágil, inseguro e carente afetivamente. No caso do personagem, depois da sua desilusão amorosa, sua válvula de escape foi acreditar que de algum modo Samantha era real, mesmo que no fundo ele soubesse que não era.

É importante destacar as cenas em que há a troca na movimentação das câmeras mostrando as visões de Theodore e de Samantha. A forma como a câmera se posiciona é capaz de nos fazer sentir e admirar aqueles momentos. E também para os closes usados tanto na primeira cena, quanto nos diálogos do personagem com Samantha, transmitindo uma sensação de intimidade e aproximação.

Original, inteligente e emocionante, “Her” consegue fazer o espectador se transportar para a história, amar os personagens e também sofrer por eles. Entrando, então, na lista de filmes que nos fazem acreditar na sétima arte e que nos dá incentivo para continuar admirando e consumindo-a.

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