“Is it better to speak or to die?”

Vítor Vieira
cinecríticauff
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4 min readOct 24, 2017

“Me Chame Pelo Seu Nome” desembarcou no Brasil na segunda noite do Festival do Rio de 2017, dia 06 de outubro, depois de estrear em Sundance em janeiro do mesmo ano, ganhando um buzz muito grande entre o público do festival norte-americano. Fez carreira em vários outros festivais ao longo do ano e já se fala muito sobre possíveis indicações ao Oscar de 2018, mesmo antes da estreia oficial nos Estados Unidos, prevista para acontecer no final do mês de novembro.

O longa-metragem, uma co-produção brasileira com a Itália, França e Estados Unidos, narra o amadurecimento de um menino, Elio, de dezessete anos, quanto a sua sexualidade. O filme se passa nos anos 80 em uma cidadezinha na Itália e, por isso, possui uma atmosfera nostalgicamente europeia, que possui um apelo enorme para o público brasileiro por si só. Mas não é a lembrança de um neorrealismo italiano que nos faz apaixonar pelo filme e sim seus personagens reais, cheios de nuances e contradições.

Compondo o protagonista, o ator Timothée Chalamet, de apenas 21 anos, é o grande destaque do filme. Seu silêncio é muito mais angustiante do que muitos discursos e emociona na medida certa, sem chegar ao ponto melodramático. Não é a toa que as cenas mais marcantes do filme são quando Elio está sozinho, tentando entender sua própria cabeça. Seja cheirando a cueca do seu colega de quarto e se contorcendo na cama, ou experimentando sexualmente com um pêssego. Tudo parece genuíno e, para alguém que já se encontrou na mesma posição, confortante.

“Is it better to speak or to die?”, a pergunta que é feita literalmente pela mãe do protagonista enquanto lê um conto, é na verdade a pergunta base para o filme e o Elio, que é muito inteligente para a idade dele, sofre com isso. Falando sobre a inteligência dele, é justamente a sua estrutura familiar que permite que o filme não seja um filme LGBT+ comum, onde o protagonista sofre com os preconceitos da sociedade conservadora e principalmente da sua família. O pai de Elio é um arqueólogo e historiador, sua mãe é francesa e recita poemas em alemão, o próprio menino sabe tocar piano e violão, além de transcrever notas musicais por diversão (o que os adolescentes tinham que fazer pra se divertir num mundo pré-internet!!). O menino portanto cresceu nessa família culta, multicultural e “judia por discrição”, o que permite o filme se posicionar como uma história de amor tradicional, que não necessariamente toca em assuntos do universo LGBT+, mas que está muito mais interessado em entender o que passa na cabeça de dois homens quando se apaixonam.

O segundo protagonista do filme, Oliver, é interpretado por Armie Hammer, ator conhecido no cinema Hollywodiano. Como contraparte de Chalamet, o ator também é um colírio para qualquer olho, mas não atinge os mesmos pontos de sensibilidade. Na sinopse oficial do filme, Oliver tem 24 anos e Hammer já estava na casa dos trinta quando o filme foi lançado. Essa diferença de idade pode parecer boba e é certamente muito comum no cinema, mas faz uma grande diferença na construção na química dos dois. Em certo momento mais pro final do filme, Oliver admite para Elio que não havia se aproximado do garoto antes pois sentiu que estava molestando ele. Essa frase quando falada por um menino de 24 anos com certeza tem um ar mais cômico do que quando falada por um homem de trinta. Na verdade, o filme nunca nos afirma a idade do personagem, criando uma ambiguidade que só serve para confundir o espectador. De qualquer forma, o jeito descontraído que a narrativa é construída faz com que esse pequeno incomodo seja facilmente ignorado.

A melhor interação do filme, portanto, não se acontece entre casal protagonista e sim entre Elio e seu pai. Na cena em que os dois conversam pela primeira vez sobre o relacionamento dos meninos, o ator veterano Michael Stuhbarg nos fornece uma performance incrível no diálogo mais impactante do filme. Pela primeira e única vez no filme de duas horas eu não queria que o close-up estivesse em Elio e sim em outro personagem.

Luca Guadagnino, o diretor italiano, faz jus ao livro homônimo no qual o filme é baseado, criando um visual apaixonante e um ritmo lento, mas intenso, que não tem medo de revelar as vontades de seus personagens através de nuances. Seus close-ups são importantes para a construção de uma linguagem intimista e emocional, mas quando ele decide decupar a sequência mais importante do filme com um plano sequência enorme e complexo que percebemos que não se trata de um cineasta hesitante. Contudo, ao decidir que o último plano do filme seria composto por um close-up demorado, triste e angustiante, que Luca ganhou meu coração.

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