Nas Quartas nós criamos uma fórmula de sucesso

O uso das características melodramáticas em Meninas Malvadas

Eduarda Rodrigues
cinecríticauff
3 min readSep 28, 2017

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Esq. para dir.: Gretchen, Regina, Cady e Karen.

A realização do sonho de toda adolescente americana. Essa frase poderia sintetizar o que é apresentado por Mark Waters em Meninas Malvadas (2004), o último grande filme de comédia para adolescentes da sua “era de ouro”, iniciada no final dos anos 70. O longa acompanha a história de Cady Heron (Lindsay Lohan), uma adolescente que acaba de se mudar da África para os Estados Unidos e precisa frequentar a escola pela primeira vez. Roteirizado por Tina Fey, a trama, que pode primeiramente se passar por boba, ou leve, trás no fundo uma grande reflexão sobre o relacionamento entre as mulheres em uma sociedade em que somos obrigadas a nos odiar, sem perder em nenhum momento o tom cômico, desenvolvido a partir dos maiores exageros e estereótipos possíveis, como todo bom melodrama.

A essa altura todos já sabem a proporção do sucesso do filme e como ele consegue prender até hoje a atenção não só de quem cresceu o vendo, mas também do novo público adolescente e mais velhos, e o segredo para tal sucesso pode ser entendido como a mistura de características clássicas do cinema de massas, com uma realidade que se não pode ser identificada, pode ser entendida (como no Brasil). Esse tom realista é dado através da caracterização da época, como as “conferencias” de telefone com as amigas, os dilemas apresentados pelas personagens e o bullying, grande ponto central da trama e presente em praticamente todas as escolas.

Do lado narrativo, pode-se destacar como pontos fortes do filme a representação dos mesmos espaços e momentos (aula de matemática, refeitório, tardes no shopping ou casa da Regina) criando uma sensação de rotina para o espectador, que agora faz parte da vida daquelas meninas, a clássica briga entre o bem e o mal, representados por Cady e seus amigos Janis (Lizzy Kaplan) e Damien (Daniel Franzese), como os mocinhos e as “plásticas” Regina George (Rachel McAdams), Gretchen (Lacey Chabert) e Karen (Amanda Seyfried), como as inimigas/amigas da protagonista. O exagero está presente em toda a história, podendo ser percebido através da fisicalidade da comédia, em cenas como quando Cady cai na lixeira, ou Regina é atropelada pelo ônibus, o exagero na caracterização das personagens, que chegam a ser caricatas dentro do estereótipo de adolescentes em que são encaixados e nas cenas em que Cady imagina a escola como a selva, onde a violência é representada, culminando na cena da brigas das meninas. Outros pontos de atenção são os clichês românticos e de origem do personagem, como uma menina deslocada e impopular cresce no meio social escolar. As personagens são apresentadas como seres de moral duvidosa e que tem desenvolvimento no decorrer da história, se redimindo no final. Ainda, o uso das reviravoltas é bem marcado para manter o ritmo do filme, fazendo com que a história mude de rumo o tempo todo e assim prenda o espectador.

A narração da personagem principal em off, junto com a movimentação de câmera, faz com que o espectador se sinta de fato dentro da cabeça dela, criando uma ligação quase emocional com o que está sendo visto, permitindo a imersão e o vivenciamento da história. Visualmente o filme trás muitas repetições, desde a cor que cada personagem usa e o estilo das roupas, até a montagem de sequencias de cenas que representam a passagem do tempo enquanto Cady colocas seus planos em ação, seguido inclusive com a mesma trilha sonora em todas essas sequencias. Já a trilha sonora é provavelmente o ponto mais fraco da produção, não sendo muito presente a não ser nas já mencionadas sequencias de cenas de passagem de tempo e para fins de música ambiente dentro da trama, apesar de dar espaço apenas para artistas femininas, a trilha em si não é muito memorável.

Impecável na sua construção como comédia, melhor ainda na função de passar tempo, Meninas Malvadas é o típico filme para se ver quando se quer desligar do mundo. Cinematograficamente despretensioso como só um blockbuster pode ser, o filme se utiliza da comédia para passar uma mensagem de sororidade muito relevante ao seu público alvo e assim cumprir as duas funções, de divertir e educar em um só produto, que equilibradamente diz o necessário da melhor, mas exagerada e divertida maneira possível. That’s so fetch!

Por Eduarda Rodrigues

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