Scott Pilgrim Contra o Mundo

Victoria Regis
cinecríticauff
Published in
3 min readNov 27, 2017

Porque um bom filme e uma boa bilheteria nem sempre andam de mãos dadas.

É uma atitude quase que instantânea levantar do sofá depois de ver um filme incrível e pesquisar mais sobre ele. Quem é o diretor e quais são seus outros trabalhos? O que a crítica achou? Como foi seu desempenho nas bilheterias? E às vezes, em uma súbita quebra de expectativa, você se vê diante de uma obra que você amou e que, infelizmente, não teve um desempenho comercial muito bom. Para muitos fãs, esse é o caso de Scott Pilgrim Contra o Mundo.

Bem avaliado pela crítica, com 82% de aprovação no Rotten Tomatoes, o filme passou longe de ser um hit nos cinemas, tendo arrecadado, nos EUA, apenas US$ 47 milhões de dólares de seu orçamento de US$ 60 milhões. O interessante é perceber que apesar do péssimo desempenho nos cinemas, assim como Donnie Darko (US$ 514 mil) e Clube da Luta (US$ 37 milhões), Scott Pilgrim conseguiu reconhecimento com o passar dos anos e se tornou um clássico geek.

Baseado nas graphic novels de Bryan Lee O’Malley, no filme acompanhamos a história de Scott (Michael Cera), um jovem de 22 anos que leva uma vida pacata em Toronto, Canadá. Com uma rotina divida entre ensaios com sua banda de rock, o Sex Bomb-Omb, e o ócio do desemprego, segundo ele, voluntário, Scott vê sua vida mudar ao conhecer a garota dos seus sonhos, Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead). O único -grande- detalhe? Para poder ficar com a garota ele terá que derrotar seus 7 ex namorados do mal.

Com enredo simples, um dos aspectos mais cativantes do filme são os próprios personagens e uma representação bem realista do que é ser jovem. É difícil não se identificar com a jornada do protagonista, e não, não me refiro a combater uma liga de ex namorados do mal. No começo da trama, Scott, como qualquer outro jovem de 20 e poucos anos, se vê perdido entre a adolescência e a vida adulta, constantemente entediado e sem perspectiva. A partir da direção impecável de Edgar Wright (responsável pela trilogia do Cornetto e, mais recentemente, Baby Driver) e o modo como ele realiza a transição entre as cenas, entramos na rotina monótona do personagem, em que tudo que ele faz ao longo do dia passa por ele sem muita relevância.

Com a chegada de Ramona, Scott se vê obrigado a abandonar sua zona de conforto e o filme ganha mais ritmo. Apesar de ser baseado em quadrinhos, o filme apresenta fortes influências do mundo dos games. Desde detalhes como referências a clássicos da Nintendo como toda a estrutura narrativa do longa, em que cada ex que Scott tem que derrotar é encarado como uma nova fase de um jogo.

Outro aspecto de extrema importância no filme é o uso da música. Wright é conhecido por unir o visual ao sonoro em seus trabalhos (como em uma das cenas mais memoráveis de Todo Mundo Quase Morto com Don’t Stop Me Now do Queen) criando sequências rítmicas empolgantes. Tudo isso ganha ainda mais força com uma trilha sonora original composta pela banda canadense Metric.

Talvez Scott Pilgrim Contra o Mundo não tenha surgido com a pretensão de ser um sucesso de bilheteria. Talvez ele só tenha surgido com a intenção de ser um representante da cultura geek -que sofre constantemente com estereótipos- que faltava no cinema. Scott Pilgrim é sobre ser jovem, fazer coisas estúpidas, se redimir e lutar por amor, seja por alguém ou por você mesmo. Caso tudo dê errado é só começar de novo.

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