Stand By Me, o road movie da nossa infância

Ivy Souza
cinecríticauff
3 min readOct 9, 2017

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Stand By Me (Conta Comigo em português) é o tipo de filme que fica marcado na memória e é levado pelo resto da vida, mesmo que você não lembre o nome. Quem foi criança no início dos anos 90 provavelmente deve tê-lo visto na sessão da tarde. Lançado em 1986, com direção de Rob Reiner, o filme é uma adaptação do conto The Body de Stephen King e acompanha a jornada de Gordie Lachance e seus 3 amigos inseparáveis que partem em busca do corpo de um menino desaparecido na mata da região onde moram.

Pensando no filme através dos aspectos que o enquadram em um gênero, o que vem à mente é o Road Movie, nascido entre os anos 60 e 70 e que tem como temática principal uma viagem. Pode parecer estranho e difícil entender Stand By Me como pertencente ao gênero road movie, já que não envolve carros, nem estradas, nem uma viagem ao oeste, mas o filme possui diversas outras características relacionadas ao gênero que acabam passando despercebidas aos olhos desatentos. Todos os personagens principais são crianças desajustadas em determinados níveis, cada uma delas decide ir em busca do corpo por motivos diferentes, seja pela aventura, seja pela chance de se tornarem heróis na comunidade, seja pela apatia de não ser notado pela família recém enlutada. Cada um deles começa a jornada de um jeito e o filme nada mais é do que acompanhar a transformação vivida por eles ao longo dos dois dias de viagem. Apesar da falta de estradas, a temática pertence ao road movie. Sua estética não foge à essa regra, pois os planos trabalhados com profundidade acompanham a linha do trem — a mesma que os protagonistas dessa jornada seguem. Outro exemplo são os planos abertos apresentados ao longo do filme.

Ao invés de uma rodovia deserta o que temos é um caminho a ser desbravado por dentro da mata, que serve como metáfora para a própria situação emocional das personagens. Algumas cenas marcantes do filme mostram as adversidades e situações estressantes que acabam moldando as personagens no final, outra característica do road movie. Gordie fugindo de um cão supostamente raivoso dentro de um ferro velho para descobrir que o cão não era tão assustador. Os meninos correndo através da linha do trem em uma ponte, prestes a serem atropelados, escapando no último segundo e o confronto com os valentões da cidade nos minutos finais do filme.

Hoje, como adultos, a viagem feita pelas crianças pode não parecer nada demais, dois dias vagando pela mata ainda dentro da região onde moravam, mas pelo olhar infantil a jornada é sempre maior e mais assustadora. Porque não se trata apenas de mais uma aventura e sim de uma última aventura que marca uma certa despedida à inocência da infância. No final das contas Stand By Me é bem sucedido em mostrar que o ponto alto da viagem não é a chegada ao local pretendido ou encontrar um corpo, mas sim a própria viagem em si, que desafia os meninos à enfrentarem seus medos, inseguranças e amadurecerem, cada um à sua maneira. Também o poder e a importância que a amizade tem quando somos crianças. Talvez seja justamente esse aspecto do filme que o faz ser tão marcante, um clássico dos anos 80, a ponto de permanecer na memória de muitas pessoas mesmo depois de anos e de ser referência em outras obras da cultura pop.

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