Vítor Vieira
cinecríticauff
Published in
3 min readDec 11, 2017

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“The Florida Project” é o segundo filme do diretor Sean Baker, que chamou atenção em 2015 com seu longa-metragem filmado com um iPhone “Tangerine”. Dessa vez, o cineasta americano utilizou de métodos mais tradicionais do cinema para entregar um filme visualmente interessante e narrativamente emocionante.

O título do filme é inspirado pelo nome do projeto inicial dos parques da Disney, que ficam localizados há minutos de distância da locação principal do filme: o condomínio-motel Magic Castle. Entretanto, diferente do mundo mágico dos parques, o longa não se interessa por sonhos e sim por uma realidade crua de uma classe social pouco retratada pelos filmes do estúdio Disney.

Moone é uma criança de 6 anos que é criada somente pela mãe jovem, Halley. Pouco sabemos sobre a história pregressa delas, apenas que são sozinhas e que moram nesse lugar por algum tempo. A mãe não faz questão de dar uma educação tradicional para ela e, assim, as duas vivem de maneira muito diferente do que se espera socialmente de mães e filhas. Não sabemos nem sequer se a menina vai à escola e as refeições são sempre fast-foods grátis providas por uma amiga.

O filme nos narra isso tudo de maneira muito sutil, ao longo de brincadeiras que Moone tem com seus amigos do condomínio. A atriz Brooklynn Prince se destaca ao encarar a árdua tarefa de protagonizar e guiar um filme tão emocionante como esse. Se o Oscar não tivesse vetado a nomeação de criaças nos últimos anos, ela certamente seria uma competidora na categoria de Melhor Atriz.

O outro protagonista não é o astro William Dafoe (que por sua vez está em um dos papéis mais diferentes da sua carreira) e sim o próprio condomínio. O personagem de Dafoe é o sindico que se encarrega de fiscalizar e muitas vezes expulsar alguns moradores por falta de pagamento ou desafio às regras. Ele executa esse trabalho com a dureza de um homem de meia-idade que já passou por muitas situações difíceis na vida (novamente, essas informações não estão lá de forma óbvia, mas o ator consegue transmitir isso com cada expressão do seu rosto), mas também com empatia. Através dele vamos conhecendo os outros moradores do condomínio e nos sentindo em casa mesmo nas condições não-ideias do lugar.

A fotografia de Alexis Zabe merece reconhecimento por essa sensação de nos sentirmos em casa nesse ambiente. Ao filmar em 35mm ao invés de digital (ou com um iPhone), o cinematografo conseguiu criar sequências memoráveis. A última cena do filme, contudo, quando Moone quer escapar de sua realidade e de alguma forma foge para o parque da Disney, é filmada com um iPhone, no estilo guerrilha, pois a equipe não tinha a autorização do parque. Em um primeiro momento, existe um estranhamento por parte do espectador por essa mudança de estética, mas depois conseguimos entender que se trata de um momento surreal e totalmente necessário para encerrar o filme. Não existiria nenhuma outra forma melhor.

Para conseguir aproveitar 100% de “The Florida Project” é importante treinar a habilidade de se desamarrar de uma bússola social, que nos diz o que é certo e o que é errado. Haley e Moone certamente não vivem uma vida ideal, mas todos os aspectos do filme nos fazem criar empatia pelas duas e os seus erros devem ser analisados levando em consideração todas as oportunidades que as duas não tiveram.

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