Um Contratempo e a importância dos detalhes

Samantha Cardoso
cinecríticauff
Published in
2 min readNov 21, 2017

Com direção e roteiro do espanhol Oriol Paulo — do mesmo tão bom quanto, “El Cuerpo” — “Um Contratempo” (Contratiempo) é um excelente suspense daqueles que não se vê há um bom tempo, provando mais uma vez que vale a pena sair da bolha hollywoodiana e dar mais atenção aos filmes “estrangeiros”.

O filme conta a história Adrián (Mario Casas), um homem casado, rico e bem sucedido que mantém em segredo um relacionamento com Laura (Bárbara Lennie) e, um dia, desperta num quarto de hotel, com a cabeça machucada, e com sua amante morta no banheiro. Com o detalhe de que a porta estava trancada por dentro e as janelas não abrem, ele é considerado o principal acusado do crime, recorrendo então à melhor advogada de defesa da Espanha, Virginia Goodman (Ana Wegener), para auxiliá-lo e tentar reconstruir os fatos que antecederam aquela noite sem deixar nenhuma brecha que possa se voltar contra ele. Durante a conversa, Virginia também descobre que Laura não foi a única que morreu nesse espaço de tempo.

Sem deixar nenhuma ponta solta, Oriol foi capaz de trazer de volta o conceito de suspense conseguindo surpreender do início ao fim. Com um roteiro muito bem escrito e estruturado, repleto de detalhes, o espectador tem sua atenção testada a todo instante. Com inúmeros usos de flashbacks — recurso utilizado durante toda a narrativa e que certamente contribuiu para o excelente desenvolvimento do filme — temos o acusado contando diversas versões da mesma história, que vai sendo alterada a cada vez que a advogada encontra algum fato questionável. Isso faz com que as teorias sejam aceitas e substituídas o tempo todo, nos obrigando a recomeçar do zero e, por mais que se consiga descobrir o que aconteceu, em algum detalhe o espectador falhará, fazendo com que se fique ainda mais ansioso (a) para que a verdade seja revelada. Cabe a cada um absorver os detalhes, tentando descartar o mínimo possível, já que tudo o que foi contado durante todo o filme, no final das contas valerá de alguma coisa.

Com ótimas cenas, fotografia e trilha sonora, “Um contratempo” se destaca como, em minha opinião, um dos melhores filmes do gênero de 2017, conseguindo prender a atenção do espectador, sem cansar ou enrolar, e contando com um incrível plot twist que para os mais atentos pode até ser descoberto antes da hora, mas que em nenhum momento irá prejudicar a experiência e satisfação com o longa-metragem.

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