“Vincent”: O nascimento do estilo de Tim Burton

Ivy Souza
cinecríticauff
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3 min readNov 13, 2017

Se você já viu algum filme de Tim Burton, provavelmente achará Vincent um tanto familiar. Realizado em 1982 por Tim Burton e Rick Heinrichs, ele é o primeiro curta metragem de animação do diretor e é narrado na forma de um poema pelo ator Vincent Price. Os 5 minutos do curta contam um pouco da vida de Vincent Malloy, um garotinho de 7 anos que sonha em ser como seu ídolo, Vincent Price, se imaginando nas cenas famosas interpretadas pelo ator em diversos filmes. Não é preciso esforço para perceber que o curta nos mostra muito do que futuramente viria a ser reconhecido como o estilo peculiar de Tim Burton.

Vincent não é um menino como os outros, ao invés de brincar fora de casa e se divertir com as outras crianças, ele prefere passar seu tempo lendo contos de Edgar Allan Poe ou se imaginando como um cientista que faz experimentos mirabolantes em seu cachorro. Sua mãe interrompe o tempo todo as aventuras sombrias do filho, tentando chamá-lo à realidade e fazer com que ele vá se divertir como os outros fazem. O protagonista solitário, reservado, excêntrico, é um tema que aparece em outras obras do diretor e que fala muito da sua própria infância e adolescência lendo livros de Edgar Allan Poe e assistindo filmes de horror de baixo orçamento. A referência à Vincent Price também está relacionada à sua vida pessoal, já que Burton cresceu acompanhando a carreira do mesmo. Influenciado pelo horror gótico e pelo expressionismo alemão, não é surpresa que Burton tenha aliado essas referências à sua visão de mundo para criar uma estética e uma identidade artística que marcariam seus filmes, mesmo que não intencionalmente.

Além de servir como um ponto de partida para estabelecer o estilo do diretor, é possível identificar também no curta alguns elementos que estariam presentes em futuras obras, como o cachorro de Vincent, muito parecido com o cachorro de Frankenweenie(2012), ou a cobra que cospe cabeças, referenciada em Os fantasmas se divertem(1988) e O estranho mundo de Jack(1993), os pisos quadriculados, a semelhança de Vincent com outros personagens como Victor, de A noiva cadáver(2005) e Frankenweenie(2012) e Edward de Edward mãos de tesoura(1990). Tudo isso faz do curta um ótimo resumo da filmografia do diretor. Se você tivesse que explicar a alguém sobre o que Tim Burton fala em seus filmes ou descrever seu estilo, bastaria mostrar Vincent. Não seria preciso dizer muito mais.

Apesar de Burton se utilizar em suas obras de elementos e referências originários de outros estilos cinematográficos e literários já estabelecidos, a mistura desses elementos com sua visão de mundo, a mistura sutil entre horror gótico e comédia, entre cenas e personagens sombrios e temas infantis, acabou criando uma estética única que o coloca não só no papel de diretor, mas também no papel de autor, amplamente reconhecido por sua visão, temáticas, características e personagens que sempre carregam um pedaço dele mesmo para as telas.

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