Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças e o valor da memória
How happy is the blameless vestal’s lot!
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray’r accepted, and each wish resign’d?*
(Alexander Pope)
No filme de Michel Gondry, Joel (Jim Carrey) está em um sofrimento intenso após o fim de um relacionamento com Clementine (Kate Winslet). Após descobrir que Clementine passou por um procedimento cirúrgico par apaga-lo de sua memória, Joel resolve fazer o mesmo. Então, a história nos apresenta uma análise psicológica dos elementos que envolvem esse cenário.
Os contrastes entre os personagens ficam visualmente evidentes logo no começo do filme, pelas cores que envolvem cada um dos dois. Joel, constantemente envolvido no cinza, no preto e no azul escuro define, à primeira vista, sua personalidade retraída, entediante e até mesmo silenciosa (até o tom de fala do personagem é passivo e medroso). Clementine igualmente transborda características muito fortes, não só apenas pelas cores extremamente vibrantes que contrastam com todo o cenário em volta (no qual Joel está mergulhado, aliás), como sua fala é constantemente acelerada e impulsiva.
As personalidades tão fortemente marcadas cria um contraste muito significativo entre os dois. As cores que envolvem a personagem de Kate Winslet, inclusive, servem de parâmetro para uma calculadora do momento emocional do casal, variando do azu,l quando ambos estão infelizes, ao laranja vibrante quando o romance encontra seu auge.
Qual é preço do esquecimento?
Essa é uma pergunta que não costumamos nos fazer no auge de uma dor emocional. Aqui, especificamente, de um relacionamento romântico mal sucedido. Apagar a memória que sem tem sobre esse relacionamento parece ser uma forma perfeitamente segura de apagar a dor que resulta delas. E esse tema é abordado por Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004) de uma forma bem didática e criativa, e não digo apenas da criatividade no que diz respeito aos elementos Sci-fi, mas aos desdobramentos psicológicos conscientes e (sobretudo) inconscientes no universo da mente de Joel (Jim Carrey).
Quando procura apagar as memórias da relação afim de evitar o sofrimento que essas geram, ele percebe que não quer, de fato, perde-las. É nessa percepção que começamos a compreender o que o filme diz: essas memorias e essas reflexões dolorosas são o que propiciam nosso amadurecimento emocional. Quando os personagens se reencontram depois de apagados os registros um do outro, eles acabam por se envolver novamente. E os problemas do casal, como sugere a personagem de Kate Winslet, vão aparecer novamente.
E nessa cena final, mesmo já sabendo do resultado que encontrarão a longo prazo, eles decidem por ficar juntos e viver tudo que envolva aquela relação novamente. Um relacionamento não é exatamente mal sucedido, um relacionamento é o que é enquanto ele for.
Uma fantasia romântica fracassada é motivo de sofrimento para qualquer pessoa desde que as relações humanas existem. Mas esse sofrimento é parte indispensável do nosso crescimento emocional e da forma que iremos levar os relacionamentos futuros. A neurociência já comprovou a importância da afetividade no processo de aprendizagem
O que faz com que os relacionamentos, quanto mais adultos forem, se diferenciem daqueles da adolescência, recheados de dramas e intensa melancolia, é exatamente esse processo de amadurecimento resultante das experiências que se vive. Quando tentamos remediar esses processos a fim de escapar deles, as dores se repetem e perdemos a herança mais valiosa de todo esse esforço despendido: a evolução pessoal.
*Tradução
“Como é imensa a felicidade da virgem sem culpa.
Esquecendo o mundo, e pelo mundo sendo esquecida.
Brilho eterno de uma mente sem lembranças!
Cada prece é aceita, e cada desejo realizado”
(Alexander Pope)
Ficha Técninca:
Direção: Michel Gondry
Roteiro: Charlie Kaufman
Fotografia: Ellen Kuras
Montagem: Valdís Óskarsdóttir
Elenco: Jim Carrey , Kate Winslet , Kirsten Dunst , Mark Ruffalo , Tom Wilkinson , Elijah Wood , David Cross , Jane Adams
Fotografia
Montagem
Direção
