Assassinato no Expresso do Oriente — Um jogo de tabuleiro bem orquestrado

Adaptação do livro de Agatha Christie apresenta uma boa trama com ótima direção

Milton Ramos Guimaraes
Cinema e Cerveja
4 min readNov 29, 2017

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Título Original: Murder on the Orient Express
Direção:
Kenneth Branagh
Roteiro: Michael Green
Elenco: Kenneth Branagh, Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Daisy Ridley
País: Estados Unidos
Duração: 114 min
Estreia: 30/11/2017

Já começo o texto falando que nunca li o livro no qual esta obra é baseada e não assisti ao filme de 1974, dirigido por Sidney Lumet. Este é meu primeiro contato com uma adaptação de Agatha Christie nos cinemas, então o mistério e os excêntricos personagens foram uma surpresa, principalmente se tratando de “Assassinato no Expresso do Oriente”, um dos principais trabalhos da autora. O comando da produção ficou nas mãos do britânico Kenneth Branagh, que também assume o papel de Hercule Poirot, protagonista da obra.

Analisando o filme sem comparações com a obra original ou com outras adaptações, posso dizer que foi uma grata surpresa. O mistério funciona, os personagens são interessantes e bem aproveitados, assim como o roteiro, que se torna um pouco cansativo no segundo ato, porém consegue manter a atenção até a incrível resolução do assassinato no final. A sensação de assistir aos desdobramentos da trama lembram um jogo de tabuleiro como “Detetive”, o qual todos os personagens são suspeitos, todos os cômodos precisam ser investigados e as armas do crime analisadas, para assim chegar ao assassino. Acompanhar os acontecimentos é interessante e divertido, e a direção de Branagh deixa tudo ainda melhor.

O detetive Hercule Poirot (Kenneth Branagh) é famoso por sua habilidade em resoluções de crimes e mistérios. Ele então embarca no trem Expresso do Oriente, junto com peculiares pessoas, dentre elas o gangster Edward Ratchett (Johnny Depp), que oferece uma proposta que o detetive recusa. Um assassinato acontece enquanto todos dormem, fazendo com que Hercule Poirot seja chamado para desvendar o crime. Ao mesmo tempo, uma nevasca faz o trem parar, confinando os passageiros em um ambiente cada vez mais perigoso e que guarda um segredo obscuro até para o habilidoso detetive.

O maior mérito do filme é, sem dúvidas, a direção. Por se passar em um ambiente fechado na maior parte da projeção, a trama depende de ângulos interessantes, cenários bem trabalhados e um bom aproveitamento dos atores. O diretor consegue entregar tudo isso, com sequências que valorizam os personagens, e, no caso do trem, uma utilização primorosa do ambiente, aproveitando os cômodos e comandando tudo como se fosse um jogo de tabuleiro. Temos o local onde ocorreu o assassinato, as possíveis armas do crime, as pistas espalhadas pelo vagão e, é claro, os vários suspeitos.

A direção de arte é impecável. Figurinos belíssimos e que dizem muito sobre os personagens, deixando tudo com um ar caricato. Os ambientes são detalhados e conseguem capturar a essência da época. A fotografia, aliada à paleta de cores, cumprem o seu papel, com imagens belíssimas e um uso de tonalidades que casam perfeitamente com os acontecimentos.

Os atores se saem bem em seus papéis, principalmente Branagh, com seu metódico Hercule Poirot, a sempre excelente Michelle Pfeiffer, misteriosa no papel de Caroline Hubbard, e Daisy Ridley, como Mary Debenham. Os três são os destaques do elenco, que é composto por grandes atores. Alguns personagens são mais trabalhados que outros, e isso fica evidente durante o filme, mas é certo que todos brilham em tela. A escolha do elenco foi certeira.

“Assassinato no Expresso do Oriente” é um ótimo filme de mistério, o qual consegue aliar as partes mais dramáticas com comédia e doses controladas de ação. Os atores estão excelentes, assim como o roteiro, que consegue amarrar as situações e entregar um terceiro ato surpreendente, e a direção, uma das melhores de Kenneth Branagh. No final, fica a vontade de acompanhar mais casos do detive, que voltará em uma sequência que já recebeu sinal verde para começar a ser produzida. Próxima parada, Egito!

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