Círculo de Fogo: A Revolta

Longa não parece ser uma sequência de Círculo de Fogo

Milton Ramos Guimaraes
Cinema e Cerveja
4 min readMar 22, 2018

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Título Original: Pacific Rim: Uprising
Direção:
Steven S. DeKnight
Roteiro: Steven S. DeKnight, Emily Carmichael, Kira Snyder, T.S. Nowlin
Elenco: John Boyega, Scott Eastwood, Cailee Spaeny
País: Estados Unidos
Duração: 111 min
Estreia: 22/03/2018

Construir um universo fictício que funcione no cinema não é fácil. São raros os exemplos que possuem um ambiente que conte uma história em seus detalhes, com personagens que realmente parecem nascidos dentro daquele contexto. Guillermo del Toro é conhecido pela sua genialidade em construir esses tais universos. Os seus filmes possuem uma riqueza única e situações que fazem com que os cenários e as relações entre atores com o todo cheguem o mais perto da realidade, no pequeno espaço de tempo que nós destinamos àquela história que está sendo contada. “Círculo de Fogo” é um exemplo disso, entre outros em sua filmografia.

A grande homenagem aos clássicos japoneses envolvendo monstros e robôs gigantes carrega em seu cerne uma dedicação enorme do diretor, que também assina o roteiro, junto com Travis Beacham, e dos envolvidos na produção. Cada robô é único, assim como os monstros que, em momentos chave do longa, exibem suas particularidades. Os personagens, apesar de seguirem estereótipos bem definidos, enriquecem a trama com o seu carisma. A base e a cidade, que serve de palco para as principais cenas de ação, apresentam uma qualidade técnica de encher os olhos. As cenas de ação fazem o espectador vibrar, trazendo o impacto exigido pelos embates grandiosos, sem a famosa “bagunça” que é tão comum em filmes com elevado uso de computação gráfica. Tudo isso acompanhado de uma trilha sonora épica que combina com as imagens e com tom da obra.

Chegamos então ao segundo filme de uma possível franquia, já que o final deixa pontas soltas, diferente do primeiro, que não precisava de uma continuação. “Círculo de Fogo: A Revolta” é um filme interessante. Dessa vez não existe o envolvimento direto de del Toro, que, mesmo tendo feito um longa único, havia construído um rico universo em que possíveis sequências, como é o caso aqui, poderiam beber das referências e dos elementos estabelecidos. Não posso dizer que o diretor Steven S. DeKnight não aproveita algumas ideias do mexicano. Existem elementos interessantes em “A Revolta”. Pequenas qualidades que são apagadas pela falta de peso nos acontecimentos, pelos personagens desinteressantes, pela computação gráfica medíocre e por um roteiro que não cansa de repetir os mesmos conceitos até o final da projeção, além de diálogos sofríveis e situações esdrúxulas que não se encaixam no tom.

A obra é interessante no sentindo de ter um material fonte que está entre os melhores filmes de ação dos últimos anos e não aproveitar os acertos que o fizeram ser tão elogiado. Temos um exemplar mais próximo das explosões megalomânicas da franquia “Transformers”, que até parece ser mais parte das produções de Michael Bay do que de “Pacific Rim”. Um desastre que se aproveita do nome para vender bonecos variados de seus robôs coloridos e menos originais que os do primeiro.

Jake (John Boyega) era um promissor piloto do programa de defesa Jaeger que abandona o serviço e começa a fazer trabalhos ilegais, buscando por peças de robôs destruídos e abandonados. O seu caminho se cruza com o de Amara (Cailee Spaeny), uma garota que está trabalhando em seu próprio e pequeno Jaeger. Eles acabam sendo capturados depois de uma tentativa falha de fuga e são recrutados para o treinamento de pilotos. Enquanto o treinamento progride, uma ameaça surge despercebida.

O carisma de John Boyega e a relação dele com os outros personagens, apesar de que são nessas partes que presenciamos diálogos pouco inspirados, é um dos pontos positivos. O ator carrega a produção nas costas. Outro acerto é a importância dada a caras conhecidas do filme original, os doutores Hermann Gottlieb (Burn Gormane) e Newton Geiszler (Charlie Day). Os excêntricos personagens ganham camadas interessantes que rendem as cenas mais cômicas e divertidas da continuação.

“Círculo de Fogo: A Revolta” é um filme desnecessário e inferior ao seu antecessor em todos os quesitos narrativos e técnicos. Uma sequência que não parece fazer parte do mesmo universo de “Círculo de Fogo”, sem carisma, sem uma personalidade memorável. Um filme que pode até divertir, mas que as lembranças do primeiro não deixam os erros passarem despercebidos. Em certo momento, o personagem de John Boyega diz para uma determinada situação: “Era para ser épico. Mas não deu certo”. Ele não poderia estar mais correto.

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