Jogador N°1 — O amor pela cultura pop é real

Steven Spielberg raiz de volta às telonas

Milton Ramos Guimaraes
Cinema e Cerveja
4 min readMar 29, 2018

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Título Original: Ready Player One
Direção:
Steven Spielberg
Roteiro: Zak Penn, Ernest Cline
Elenco: Tye Sheridan, Olivia Cooke, Ben Mendelsohn
País: Estados Unidos
Duração: 140 min
Estreia: 29/03/2018

Steven Spielberg, na opinião deste crítico e de muitos aficionados por cultura pop, é o pai dos clássicos oitentistas e de todo este movimento de nostalgia que tem tomado produções de diferentes mídias. Sem o diretor de longas como “E.T.- O Extraterrestre” e “Tubarão”, séries como “Stranger Things” e filmes como “Super 8” nunca seriam possíveis. A ambientação, a forma como as crianças são apresentadas, as referências musicais e a personagens e histórias de ficção científica fazem parte da identidade do diretor. As homenagens são frequentes, rendendo obras memoráveis, como as já citadas aqui, e outras que caem na mesmice e não acrescentam nada de novo ao movimento. Mas o que acontece quando o próprio Spielberg decide adaptar um livro que traz diversas homenagens a ele, aos seus filmes e ao seu modo de contar histórias para as telonas?

“Jogador N° 1” é uma experiência única. É um filme que resgata a inocência e a simplicidade de histórias que Spielberg ajudou a popularizar na década de 80, junto com outros importantes diretores como George Lucas e Robert Zemeckis. Uma narrativa que traz o herói, o vilão, os ajudantes e os soldados descartáveis do mal em meio a várias referências à cultura pop, maior atrativo da produção. São tantas aparições especiais que é impossível pegar todas em apenas uma assistida. Desde personagens da própria filmografia do diretor até figuras famosas em desenhos e videogames, como o mecha Gundam e soldados Spartan da franquia “Halo”, dão as caras durante a projeção. É o sonho de qualquer criança que cresceu assistindo, jogando ou lendo cultura pop. Um evento cinematográfico que merece ser apreciado em uma tela grande com a melhor qualidade de som.

Em 2045, dentro de uma distopia, Wade Watts (Tye Sheridan) se isola no OASIS, um jogo de realidade virtual muito popular entre as pessoas. Depois da morte do criador do jogo, James Halliday (Mark Rylance), os jogadores tentam desvendar os mistérios de um desafio deixado pelo próprio Halliday para conquistar o controle da realidade virtual e ganhar uma grande fortuna.

A mágica do filme se encontra nas partes dentro do OASIS, já que ele é dividido de duas maneiras: as cenas na qual os personagens são feitos de computação gráfica, dentro do jogo, e as cenas fora da realidade virtual, com o ator Tye Sheridan como protagonista. Dentro do mundo fictício, a preocupação com os detalhes e com a qualidade visual é impressionante. As sequências de ação são bem pensadas e entregam a maluquice envolvendo várias franquias prometida nos trailers e imagens. Vemos um DeLorean, de “De Volta Para o Futuro”, correndo ao lado da moto do Kaneda, de “Akira”, enquanto fogem de um T-Rex e do King Kong. É como se fosse uma grande brincadeira cheia de imaginação e figuras icônicas. Não vou entregar spoilers, mas existe uma cena, envolvendo um importante filme de um aclamado diretor, que já está entre as melhores dos filmes do gênero e, talvez, do cinema. Impressionante a genialidade com que a sequência é trabalhada.

A jornada dos protagonistas é simples, sem grandes reviravoltas e momentos impactantes. Isso não é um defeito, mas o que incomoda em algumas cenas é a relação entre os personagens no mundo real. Falta química entre os atores, além de um propósito melhor trabalhado para justificar suas ações. Destaque para ator Mark Rylance, que interpreta o excêntrico criador do Oasis. A batalha final poderia ter sido mais longa e alguns heróis mereciam mais desenvolvimento.

A trilha sonora está repleta de clássicos dos anos 80 e aparece em momentos chave do filme. O roteiro insiste em dramas baratos desnecessários e que poderiam ser facilmente descartados para explorar mais as cenas dentro do OASIS. A parte com os atores é realmente inferior ao mundo virtual. No entanto, os problemas não diminuem a qualidade do longa.

“Jogador N° 1” pode ser considerado um dos melhores trabalhos da carreira de Steven Spielberg. As homenagens que ele faz a cultura pop e a ele mesmo são um deleite visual que pode até emocionar os mais aficionados pelos seus filmes. Um marco do cinema nostálgico, que busca resgatar o sentimento que tínhamos na infância, quando a única preocupação era se divertir com os personagens que amávamos. É bom ver todos novamente em um trabalho tão bem feito.

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